MOTO DE MADEIRA
Moto feita em Araucária: construtor acreditra que pode ser a primeira do tipo no País (Emanoel Santos)

Mesmo para quem não é fascinado por motocicletas, a ideia do Airton Alves David, 45 anos, é para lá de inovadora. O morador de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, tem habilidade com o trabalho manual e a criatividade inerentes entre aqueles que adoram desafios. O primeiro projeto realizado de uma moto em madeira de reciclagem saiu do papel, no ano passado.

Recentemente, o marceneiro finalizou o segundo modelo funcional, também em tamanho real, montado em madeira de demolição com aproveitamento de peças de ferro velho, legalizadas. Ele acredita que essa seja a primeira moto de madeira motorizada, do país, no estilo Boobber.

O especialista em transformar madeira em objetos, Airton sabe muito de motos, e não mede esforços em dizer o quanto é um admirador de veículos de duas rodas. Por que não unir o útil ao agradável?

Tom, como gosta de ser chamado, é piloto de motocicleta desde os 18 anos. Atualmente, é diretor do Moto Clube Estrada Afora, de Ponta Grossa, onde é integrante há 13 anos. “Ganhei o incentivo dos amigos”, justifica o desejo de não parar.

A motocicleta Bobber estilo americano ficou pronta em junho. Tudo feito na garagem de casa. E vai longe. Chega a 160 km/h, leve e tem a peculiaridade de ser fidedigna ao modelo original, minimalista e retrô entre as opções de veículos de duas rodas. Cada detalhe foi feito com o cuidado que é peculiar de Tom. E montar uma moto em tamanho real, não é das tarefas mais fáceis pela precisão e particularidades da tarefa. Haja criatividade!

O segundo projeto veio somar-se à réplica de uma motocicleta modelo Big Trail, uma moto de aventuras. Toda construída em madeira de pallets usados, a motocicleta em tamanho real levou três meses para ficar pronta, no final de 2023.

A história circulou e rendeu muitos convites para participar de exposições e eventos de motociclismo. Pelo sucesso, surgiu a ideia de construir um segundo modelo. A Bobber Americana é totalmente funcional e motorizada.

“Dessa vez, fiz uma moto que é raridade no mundo.” E, se orgulha de ter levado 20 dias para deixá-la pronta. O veículo é feito com produtos recicláveis. As madeiras sáo de demolição das espécies ipê e imbuia. O banco é de madeira uva-do-japão; o motor e os aros foram adquiridos em um ferro velho, tudo legalizado pelo Detran. Nos planos, um terceiro modelo, o Cafe Racer Americana, da Harley Davidson, deverá sair do papel até o fim do ano.

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Emanoel Santos

Talento vem de berço: pai já fazia engenhos de cana, carroças e rodas d’água, tudo em madeira

O pai de Airton foi um dos pioneiros a trabalhar com madeiras, em Santa Catarina. Produzia engenhos de cana, carroças, rodas d’água. Quando a família mudou-se para Cascavel, no interior do Paraná, foi ele que construiu uma das primeiras olarias da cidade movida a cavalos. E, com o pai, aprendeu o ofício muito jovem. Autodidata, uniu a profissão com a paixão. “Sempre gostei de motos desde piá”, lembrando que a referência era o irmão David, já falecido, o criador do enduro da cachoeira, em União da Vitória, em Santa Catarina, e campeão seis vezes nesta modalidade. “Queria fazer alguma coisa diferente e veio a ideia de construir as motos em madeira. Nem imaginava que faria tanto sucesso.” Os pallets já faziam parte da matéria-prima usada para a confecção de móveis e restauro. Foi só adaptar e focar naquilo que era mais que desafio, mas uma irreverência que deu certo, admite.