Passados pouco menos de quatro meses de 2021, o número de casos novos e falecimentos em decorrência das complicações causadas pela Covid-19 já supera o acumulado de casos e mortes em todo o ano de 2020, quando o Paraná atravessou praticamente 10 dos 12 meses do ano convivendo com a crise sanitária.
Segundo levantamento feito pelo Bem Paraná com base nos Informes Epidemiológicos divulgados diariamente pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa-PR), ao longo de todo o ano passado 413.409 paranaenses foram infectados pelo novo coronavírus, com 7.910 pacientes vindo a óbito. Já neste ano, o número de infectados chegou a 494.472 no último dia 20, enquanto o total de óbitos alcançou 12.584.
Tem-se, então, um cenário no qual, em menos de quatro meses de 2021, o número de casos de Covid-19 já supera em 19,61% o total de diagnósticos no ano anterior. Já quanto aos óbitos, neste ano se verifica um aumento de 59,9% em relação ao acumulado de 2020, inclusive com um aumento da letalidade da doença – em 2020 1,91% dos pacientes infectados acabaram morrendo, porcentual que já está em 2,54% no ano corrente.
Mas o que pode explicar esse agravamento da crise sanitária no Paraná? Para o secretário de Estado da Saúde, Beto Preto, o principal fator é a circulação da variante P1, descoberta no Amazonas e que já se sabe ser mais transmissível que a cepa do coronavírus que circulava majoritariamente no ano passado. Recentemente, inclusive, estudo do Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná) identificou que quase metade (46,2%) dos casos de Covid-19 no estado já são causados pela nova linhagem do vírus.
“Estamos com a cepa P1, amazônica brasileira, circulando de maneira prevalente no Paraná hoje. Essa cepa é mais rápida, tem evolução no curso da doença mais rápido e ela é mais contagiosa do que a cepa do ano passado. Isso acaba causando essa aglomeração de pacientes nas portas de UPAs, pronto socorro, muita gente necessitando de leito em enfermaria e UTI, forçando a nossa rede de saúde a ter que reverter leitos tradicionais, leitos convencionais, para leitos Covid”, explica o gestor.
Ainda segundo Beto Preto, um dos fatores que acabou facilitando a circulação da variante P1 foi a relação direta do Paraná com o norte do país. “Temos relação com Rondônia, Acre. Muitas famílias do Paraná foram para lá, tem famílias catarinenses também, e os parentes se visitam, se relacionam, e nesses seis, sete meses, não houve barreira efetiva no transporte rodoviário e aeroviário. E ainda temos o Porto de Paranaguá, que não parou de trabalhar. Então a cepa circulou”, aponta.
Evolução da pandemia da covid-19
Casos e óbitos por Covid-19 no Paraná em 2020 e 2021, segundo a faixa etária
Faixa etária |
Casos |
Óbitos |
Letalidade |
|||
|
2020 |
2021 |
2020 |
2021 |
2020 |
2021 |
80 e mais |
7.344 |
8.738 |
1.986 |
2.462 |
27,04% |
28,18% |
70-79 |
15.373 |
20.724 |
2.167 |
3.271 |
14,10% |
15,78% |
60-69 |
32.664 |
42.902 |
1.899 |
3.213 |
5,81% |
7,49% |
50-59 |
58.167 |
72.086 |
1.059 |
1.982 |
1,82% |
2,75% |
40-49 |
76.759 |
90.542 |
487 |
1.005 |
0,63% |
1,11% |
30-39 |
93.565 |
105.975 |
218 |
491 |
0,23% |
0,46% |
20-29 |
88.851 |
99.040 |
75 |
126 |
0,08% |
0,13% |
10-19 |
27.857 |
38.267 |
18 |
20 |
0,06% |
0,05% |
06-09 |
4.639 |
6.723 |
0 |
1 |
0,00% |
0,01% |
00-05 |
8.190 |
9.475 |
1 |
13 |
0,01% |
0,14% |
Total |
413.409 |
494.472 |
7.910 |
12.584 |
1,91% |
2,54% |
Objetivo do Ministério para o Estado é vacinar todos os idosos até o final de abril
A meta estipulada pelo Ministério da Saúde para o Paraná é vacinar até o final de maio os principais grupos de risco, totalizando mais de 4 milhões de pessoas vacinadas contra o novo coronavírus até o final do próximo mês. Até ontem, porém, haviam sido vacinadas 1.340.784 pessoas no estado, sendo que 93,5% do estoque disponível para aplicação da 1ª dose do imunizante já foi utilizado. A expectativa é que ainda nesta semana sejam encaminhados mais imunizantes ao Paraná, de forma que o estado possa, pelo menos, fechar o quarto mês do ano com mais de 2 milhões de vacinados.
“Até 30 de abril vamos atingir todos com mais de 60 anos, aplicando pelo menos a primeira dose. Tenho uma expectativa forte disso”, diz o secretário Beto Preto, destacando ver “boa vontade” do Ministério da Saúde. “Tendo vacina na mão, o Paraná tem condições de vacinar 150 mil, 200 mil pessoas por dia. Se tivermos vacina, a capacidade de vacinação é enorme. Nesta semana chegam mais vacinas, e chegando a carga, a orientação é que os municípios façam acontecer, vacinem sábado, domingo… Cada vacinação feita é a chance de tirar uma pessoa da possibilidade de ficar doente”.
Questionado sobre a atuação do ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, Beto Preto destaca que ele atendeu o Paraná em muitas questões. “Na questão dos medicamentos do kit intubação, por exemplo, se envolveu pessoalmente. Ele foi muito digno do cargo que ocupou e em nome do estado do Paraná temos só agradecimentos para ele, que atravessou os piores momentos da pandemia. O [Marcelo] Queiroga está buscando fazer seus trabalhos conhecer os meandros do Ministro da Saúde. Ele está bem intencionado, estivemos com ele semana passada. Atendeu o governador [Ratinho Jr.] e a minha pessoa em audiência exclusiva. Ele é muito prático, mas existem coisas que podem ser resolvidas de imediato e outras mais delongadas.”
Mudança no perfil da doença ‘rejuvenesce’ vítimas
O aumento de casos e óbitos por Covid-19 atingiu pessoas de todas as faixas etárias, inclusive com aumento na letalidade entre praticamente todos os grupos (a exceção são os pacientes com idade entre 10 e 19 anos, cuja taxa de letalidade passou de 0,06% em 2020 para 0,05% em 2021).
A alta na letalidade foi, proporcionalmente, mais expressiva entre aqueles com idade entre 30 e 59 anos, o que indica uma espécie de ‘rejuvenescimento’ dos grupos de risco para a doença.
“Até uns dias atrás, 77% dos óbitos eram pessoas acima de 60 anos. Hoje, esse porcentual caiu para 63%. Além disso, em alguns momentos da pandemia no ano passado o número de idosos internados em UTIs Covid chegou a ser de 70,75% do total. Hoje é de 55%”, afirma o secretário Beto Preto, ressaltando também que a vacinação mais avançada entre idosos é um fator que pode estar impactando nas estatísticas. “Já começo a ter aspecto de imunização.”