No Paraná, casos e mortes por Covid-19 em 2021 já superam números de 2020

Segundo o secretário da Saúde Beto Preto, escalada da crise sanitária está diretamente relacionada à circulação da variante P1

Rodolfo Luis Kowalski

Franklin de Freitas - Leitos de atendimento a vítima de Covid-19: mais trabalho neste ano que em 2020

Passados pouco menos de quatro meses de 2021, o número de casos novos e falecimentos em decorrência das complicações causadas pela Covid-19 já supera o acumulado de casos e mortes em todo o ano de 2020, quando o Paraná atravessou praticamente 10 dos 12 meses do ano convivendo com a crise sanitária.

Segundo levantamento feito pelo Bem Paraná com base nos Informes Epidemiológicos divulgados diariamente pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa-PR), ao longo de todo o ano passado 413.409 paranaenses foram infectados pelo novo coronavírus, com 7.910 pacientes vindo a óbito. Já neste ano, o número de infectados chegou a 494.472 no último dia 20, enquanto o total de óbitos alcançou 12.584.

Tem-se, então, um cenário no qual, em menos de quatro meses de 2021, o número de casos de Covid-19 já supera em 19,61% o total de diagnósticos no ano anterior. Já quanto aos óbitos, neste ano se verifica um aumento de 59,9% em relação ao acumulado de 2020, inclusive com um aumento da letalidade da doença – em 2020 1,91% dos pacientes infectados acabaram morrendo, porcentual que já está em 2,54% no ano corrente.

Mas o que pode explicar esse agravamento da crise sanitária no Paraná? Para o secretário de Estado da Saúde, Beto Preto, o principal fator é a circulação da variante P1, descoberta no Amazonas e que já se sabe ser mais transmissível que a cepa do coronavírus que circulava majoritariamente no ano passado. Recentemente, inclusive, estudo do Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná) identificou que quase metade (46,2%) dos casos de Covid-19 no estado já são causados pela nova linhagem do vírus.

“Estamos com a cepa P1, amazônica brasileira, circulando de maneira prevalente no Paraná hoje. Essa cepa é mais rápida, tem evolução no curso da doença mais rápido e ela é mais contagiosa do que a cepa do ano passado. Isso acaba causando essa aglomeração de pacientes nas portas de UPAs, pronto socorro, muita gente necessitando de leito em enfermaria e UTI, forçando a nossa rede de saúde a ter que reverter leitos tradicionais, leitos convencionais, para leitos Covid”, explica o gestor.

Ainda segundo Beto Preto, um dos fatores que acabou facilitando a circulação da variante P1 foi a relação direta do Paraná com o norte do país. “Temos relação com Rondônia, Acre. Muitas famílias do Paraná foram para lá, tem famílias catarinenses também, e os parentes se visitam, se relacionam, e nesses seis, sete meses, não houve barreira efetiva no transporte rodoviário e aeroviário. E ainda temos o Porto de Paranaguá, que não parou de trabalhar. Então a cepa circulou”, aponta.

Evolução da pandemia da covid-19

Casos e óbitos por Covid-19 no Paraná em 2020 e 2021, segundo a faixa etária

Faixa etária

Casos

Óbitos

Letalidade

 

2020

2021

2020

2021

2020

2021

80 e mais

7.344

8.738

1.986

2.462

27,04%

28,18%

70-79

15.373

20.724

2.167

3.271

14,10%

15,78%

60-69

32.664

42.902

1.899

3.213

5,81%

7,49%

50-59

58.167

72.086

1.059

1.982

1,82%

2,75%

40-49

76.759

90.542

487

1.005

0,63%

1,11%

30-39

93.565

105.975

218

491

0,23%

0,46%

20-29

88.851

99.040

75

126

0,08%

0,13%

10-19

27.857

38.267

18

20

0,06%

0,05%

06-09

4.639

6.723

0

1

0,00%

0,01%

00-05

8.190

9.475

1

13

0,01%

0,14%

Total

413.409

494.472

7.910

12.584

1,91%

2,54%

Objetivo do Ministério para o Estado é vacinar todos os idosos até o final de abril

A meta estipulada pelo Ministério da Saúde para o Paraná é vacinar até o final de maio os principais grupos de risco, totalizando mais de 4 milhões de pessoas vacinadas contra o novo coronavírus até o final do próximo mês. Até ontem, porém, haviam sido vacinadas 1.340.784 pessoas no estado, sendo que 93,5% do estoque disponível para aplicação da 1ª dose do imunizante já foi utilizado. A expectativa é que ainda nesta semana sejam encaminhados mais imunizantes ao Paraná, de forma que o estado possa, pelo menos, fechar o quarto mês do ano com mais de 2 milhões de vacinados.

“Até 30 de abril vamos atingir todos com mais de 60 anos, aplicando pelo menos a primeira dose. Tenho uma expectativa forte disso”, diz o secretário Beto Preto, destacando ver “boa vontade” do Ministério da Saúde. “Tendo vacina na mão, o Paraná tem condições de vacinar 150 mil, 200 mil pessoas por dia. Se tivermos vacina, a capacidade de vacinação é enorme. Nesta semana chegam mais vacinas, e chegando a carga, a orientação é que os municípios façam acontecer, vacinem sábado, domingo… Cada vacinação feita é a chance de tirar uma pessoa da possibilidade de ficar doente”.

Questionado sobre a atuação do ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, Beto Preto destaca que ele atendeu o Paraná em muitas questões. “Na questão dos medicamentos do kit intubação, por exemplo, se envolveu pessoalmente. Ele foi muito digno do cargo que ocupou e em nome do estado do Paraná temos só agradecimentos para ele, que atravessou os piores momentos da pandemia. O [Marcelo] Queiroga está buscando fazer seus trabalhos conhecer os meandros do Ministro da Saúde. Ele está bem intencionado, estivemos com ele semana passada. Atendeu o governador [Ratinho Jr.] e a minha pessoa em audiência exclusiva. Ele é muito prático, mas existem coisas que podem ser resolvidas de imediato e outras mais delongadas.”

Mudança no perfil da doença ‘rejuvenesce’ vítimas

O aumento de casos e óbitos por Covid-19 atingiu pessoas de todas as faixas etárias, inclusive com aumento na letalidade entre praticamente todos os grupos (a exceção são os pacientes com idade entre 10 e 19 anos, cuja taxa de letalidade passou de 0,06% em 2020 para 0,05% em 2021).

A alta na letalidade foi, proporcionalmente, mais expressiva entre aqueles com idade entre 30 e 59 anos, o que indica uma espécie de ‘rejuvenescimento’ dos grupos de risco para a doença.

“Até uns dias atrás, 77% dos óbitos eram pessoas acima de 60 anos. Hoje, esse porcentual caiu para 63%. Além disso, em alguns momentos da pandemia no ano passado o número de idosos internados em UTIs Covid chegou a ser de 70,75% do total. Hoje é de 55%”, afirma o secretário Beto Preto, ressaltando também que a vacinação mais avançada entre idosos é um fator que pode estar impactando nas estatísticas. “Já começo a ter aspecto de imunização.”