Número de suicídios registrados no Paraná praticamente dobra em seis anos

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, há seis anos um total de 379 pessoas haviam dado cabo à própria vida no estado. Em 2021 houve 713 registros

Rodolfo Luis Kowalski

Franklin de Freitas

O Paraná registrou nos últimos anos um verdadeiro salto nos registros de suicídio, ao ponto de o número de pessoas se suicidando ter praticamente dobrado no estado entre 2016 e 2021. É o que mostram dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta semana pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Conforme o estudo, que se baseia em informações da Secretaria Estadual de Segurança Pública, desde 2016 o número de suicídios registrados no Paraná teve aumento de 89,45%, passando de 379 registros para 718 no último ano, acentuado na pandemia. Dessa forma, se há seis anos o estado havia registrado um suicídio a cada 23 horas, em média, hoje já registra uma ocorrência desse tipo a cada 12 horas.

Chama a atenção, ainda, o fato de o crescimento no número de paranaenses dando cabo à própria vida superar a média nacional. No Brasil, também entre 2016 e 2021, o número de suicídios teve alta de 49,2%, passando de 9.623 ocorrências para 14.353.

Prevenção e atenção

Desde 2014 o Brasil realiza uma campanha anual de prevenção ao suicídio, o chamado Setembro Amarelo. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), uma das organizadoras da iniciativa, a maioria dos suicídios está relacionada a distúrbios mentais. “Nós sabemos que cerca de 98% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias”, comentou em entrevista recente à Agência Brasil o presidente da ABP, Antonio Geraldo da Silva.

Prevenir o suicídio, no entanto, é possível. Existem muitos sinais que alertam para a possibilidade de tentativa de suicídio por parte de uma pessoa como, por exemplo, ficar mais recluso, falar muito sobre sumir, não ter mais esperança, mudar o comportamento repentinamente. “O mais importante é dizer às pessoas que não duvidem de quem ameaça cometer suicídio. Costumo dizer que, nesse caso, o cão que ladra, morde. Não podemos arriscar; a pessoa está sofrendo, por isso dizemos que agir salva vidas, no sentido de encaminhar para um serviço de saúde, um médico psiquiatra, marcar a consulta e ir junto, não deixar a pessoa sozinha, fazer com que ela sinta que você está ao lado dela”.

Diagnósticos de depressão disparam em meio à pandemia

Em meio à crise sanitária mundial, o Brasil viu os diagnósticos de depressão crescer mais de 40%> Se no período anterior à crise sanitária 9,6% haviam sido diagnosticados com a doença, no primeiro trimestre deste ano o porcentual chegou a 13,3%, mostram dados do Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), trabalho desenvolvido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria com a organização não governamental Vital Strategies.

Para piorar, grande parte das pessoas demora para buscar ajuda, tanto que os brasileiros levam, em média, 39 meses – ou seja, 3 anos e 3 meses – para buscar auxílio médico para tratamento de depressão. O dado faz parte de um levantamento do Instituto Ipsos, que identificou ainda que, apesar de os pensamentos suicidas terem incomodado cerca de 4 em cada 10 respondentes antes de buscar o diagnóstico, a demora em procurar ajuda especializada ocorreu, principalmente, pela falta de consciência de se tratar de uma doença (18%), por resistência (13%) e medo do julgamento, da reação dos outros ou vergonha (13%).

Acontece que a demora na busca por tratamento para a depressão pode trazer sérias consequências ao paciente, como aponta a professora de psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC Cintia de Azevedo Marques Périco. “O agravamento dos sintomas, a diminuição da eficácia dos tratamentos, a perda de anos produtivos, o impacto econômico e a severa diminuição da produtividade, e ainda prejuízo em seu convívio familiar e social são consequências da doença. A depressão precisa ser levada à sério”, diz a especialista.

Suicídios no Brasil e no Paraná, ano a ano

Brasil
2021: 14.353
2020: 13.264
2019: 12.745
2018: 11.327
2017: 10.816
2016: 9.623

Paraná
2021: 718
2020: 691
2019: 629
2018: 523
2017: 447
2016: 379

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública