Coletiva da PM, ontem, sobre assassinato que chocou Curitiba (Valquir Aureliano)

A cada 36 horas, uma mulher é assassinada no Paraná. Assim foi nos últimos dez anos, quando 2.395 paranaenses perderam suas vidas em decorrências de agressões intencionais perpetradas por terceiros. E foi isso também o que aconteceu no final da tarde e começo da noite de terça-feira, quando Curitiba praticamente parou para acompanhar uma trágica ocorrência no bairro Rebouças: um homem, policial militar, atirou contra a ex-companheira (que acabou morrendo) e depois se trancou dentro do carro dela, cometendo suicídio após horas de negociação por sua rendição.

O levantamento, feito pelo ‘Bem Paraná’ com base no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, compreende o período entre 2012 e 2021, último ano com dados disponíveis (divulgados, de maneira preliminar, no último mês).

No período analisado, o ano com mais mortes registradas foi 2012, com 321 mulheres assassinadas. O número caiu nos períodos subsequentes, voltou a subir em 2017, mas desde 2018 está em queda. Em 2020, por exemplo, houve 197 registros. Em 2021, 168, o menor número de mulheres assassinadas no estado desde 2000 (sendo importante a ressalva, mais uma vez, de que os dados do último ano são preliminares).

Arma no mesmo dia
O policial militar Dyegho Henrique Almeida da Silva, que matou sua ex-esposa, Franciele Cordeiro e Silva, chegou a ficar afastado do trabalho operacional por cinco meses até recentemente. Quando retornou, passou a realizar atividades administrativas, como rádio-operador no Centro de Operações Policiais Militares (Copom), mas não havia recebido novamente o direito de portar arma. Isso foi acontecer logo no dia do crime, poucos dias depois também de Franciele ter denunciado o ex e ter solicitado medidas protetivas.

Segundo a capitã Carolina Pauleto Zancan, responsável pela Câmara técnica Maria da Penha da PMPR, o que houve foi falta de tempo hábil para a corporação agir preventivamente ao crime. Isso porque a informação da existência de uma medida protetiva contra o policial teria chegado à Corregedoria-Geral no mesmo momento em que ele estaria na sede do Quartel da PM, retomando o direito de uso de sua arma funcional.

“Isso aconteceu simultaneamente, praticamente no mesmo horário, mas em locais diferentes”, declarou a capitã da PMPR, em entrevista coletiva concedida ontem, relatando ainda estar abalada com tudo que aconteceu. “A PM não foi informada da medida protetiva de urgência contra esse cidadão”, afirmou.

Foram adotados protocolos técnicos corretos, diz comando
Apesar do desfecho trágico da situação no Rebouças, o comandante do 12º Batalhão da Polícia Militar, Major Carlos Alberto Rocha afirmou que a análise das imagens revela que os policiais que atenderam a ocorrência adotaram os protocolos técnicos corretos para intervenções em ocorrências desse tipo.
“Quando chega ao local da ocorrência, o policial precisa tomar todo o cuidado para fazer uma avaliação mais aprofundada e, assim, fazer a escolha do protocolo de acordo”, disse. Entre os procedimentos citados estão o isolamento do local e a retirada de pessoas das proximidades até a intervenção do Grupo de Operações Especiais, que assumiram as negociações.
Questionado sobre a forma como Franciele teria morrido, se imediatamente após o tiro ou pela demora em ser socorrida, o Major Rocha declarou que o fato será esclarecido pelo resultado do laudo da polícia científica. A Polícia Militar (PM) informou ainda que se solidariza com os familiares das vítimas e lamentou o ocorrido.

Canais para denúncia de violações no estado e em Curitiba
O Paraná possui uma série de canais de denúncia para registro da violência contra mulher. Eles atendem os mais variados tipos de crimes e também oferecem acompanhamento especializado para cada situação. Um desses canais é o Disque-Denúncia 181, que registra e encaminha as denúncias para investigação. Funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, e as denúncias também podem ser feitas pela internet, por meio do site www.181.pr.gov.br.
Outra opção são as Delegacias da Mulher (Deam) ou Delegacias de Polícia, que registram o Boletim de Ocorrência e apuram todas as informações e provas necessárias para o inquérito policial. Também é possível registrar um B.O. pela internet, através da seção de “Serviços” no site da Polícia Civil (www.policiacivil.pr.gov.br).
Além disso, Curitiba também conta com a atuação da Patrulha Maria da Penha, através da Guarda Municipal de Curitiba, com atendimento pela central de emergência 153. Já para acionar a Polícia Militar do Paraná, o telefone da central de emergência é o 190.