Estátua do cacique Tindiquera, em Curitiba (Valquir Aureliano)

Hoje é celebrado o Dia dos Povos Indígenas. E embora muita gente não se dê conta, a cultura de antigos povos tribais ainda se faz presente no cotidiano dos paranaenses. A começar, inclusive, pela língua: o nome Paraná, por exemplo, é de origem guarani e significa rio semelhante ao mar. Pará (mar) + Anã (parecido, semelhante), sendo que entre 1853 e 1860 o nome da Província do Paraná era escrito, justamente, como Paranã.

Curitiba, a capital do estado, também é de origem indígena, derivando dos termos Curiytiba e Curityba, vindos do guarani e tupi, que significam abundância de pinheiros. Curiy (pinheiro) + Tuba (sufixo de bastante).

A influência indígena na língua se reflete, também, na ainda expressiva presença desses povos no estado. Segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Paraná concentra 45 aldeias e 23 terras indígenas. Uma dessas aldeias fica na Região Metropolitana de Curitiba (RMC): a Araçai Karagua, localizada em Piraquara.

Já no litoral paranaense há mais duas aldeias (Cerco Grande e Ilha de Cotinga, em Guaraqueçaba e Paranaguá) e três terras indígenas (além de Cerco Grande e Ilha de Cotinga, a terra do Sambaqui, em Pontal do Paraná).

Com relação às etnias, aproximadamente 70% pertence ao povo Kaingang e 30% ao povo Guarani. Também existem, no entanto, famílias descendentes do povo Xetá e algumas do povo Xokleng. De acordo com o Governo do Estado, no Paraná cerca de 13.300 indígenas vivem em aldeias ou terras indígenas.

A população indígenas no estado, no entanto, é ainda maior. Em 2010, quando foi realizado o último Censo, o IBGE havia identificado 26.559 indígenas (o equivalente a 0,25% da população), mas apenas 11.934 (44,9% do total) viviam nas aldeias ou terras oficialmente reconhecidas.

Segundo o Museu Paranaense e a Funai, a economia dessas comunidades baseia-se na produção de roças de subsistência, pomares, criação de galinhas e porcos. Além disso, a produção e venda de artesanatos como cestos, balaios, arcos e flechas ajuda a complementar a renda familiar.

A presença mais forte no estado, considerando-se as áreas de reservas já demarcadas, é da etnia Guarani, grupo do tronco linguístico Tupi-Guarani, presente em 16 das 24 terras indígenas. Os Kaingang, pertencentes a família linguística Jê, aparecem logo em seguida, com presença em 14 áreas. Por último vem os Xetá, também pertencentes ao tronco linguístico Tupi-Guarani, presentes em três áreas – sendo importante destacar que há áreas com a presença de mais de uma etnia.

A influência desses grupos para o Paraná, inclusive, é grande. Na culinária, por exemplo, além do consumo da erva-mate fria ou quente, há o costume de preparar alimentos com mandioca, milho e pinhão, como o mingau, a pamonha e a paçoca. No vocabulário, nomes como guabiroba, maracujá, butiá, capivara e jabuti são de origem Guarani, bem como o nome de cidades diversas. Curitiba, como já citado, tem origem guarani e tupo. Por outro lado, de origem Kaingang temos os nomes de outros municípios, como Goioerê, Candói, Xambrê e Verê.

Indígenas foram inspiração para um dos maiores nomes da arte paranaense
Um dos maiores mestres da arte escultórica do Paraná, João Turin (1878-1949) teve dois temas como os principais de suas obras: os animais selvagens (em especial onças, que lhe conferiu o título de maior escultor animalista do Brasil) e os povos indígenas.

Segundo o pesquisador José Roberto Teixeira Leite (responsável pelos livros “João Turin: Vida, Obra, Arte” e “Paranismo”), os povos originários do Brasil foram o segundo tema de maior destaque do artista, rendendo dezenas de obras. “Afastando-se das representações idealizadas do Romantismo brasileiro, ele buscou retratar em seus hábitos e costumes o primitivo senhor de uma terra que lhe foi usurpada – como aquele Guaicará que há séculos teria oferecido desesperada resistência ao invasor europeu.”, escreveu o pesquisador.

O Guairacá, a que Teixeira Leite se refere, pode ser apreciado em duas esculturas ampliadas em tamanho heroico no Jardim de Esculturas do Memorial Paranista, no Parque São Lourenço, em Curitiba. Há ainda diversas outras esculturas e baixos-relevos com temática indígena na exposição permanente, em uma área interna do Memorial Paranista. Os indígenas são mostrados em diversas situações: retornando de caçadas, fazendo trabalhos manuais, entre outras. O local está aberto para visitações diárias e gratuitas.

Não é mais Dia do Índio
O tradicional Dia do Índio, comemorado todo 19 de abril, passou a ser chamado oficialmente no ano passado de Dia dos Povos Indígenas. É o que definiu a Lei 14.402, de 2022, promulgada pelo então presidente Jair Bolsonaro. A mudança do nome da celebração tem o objetivo de explicitar a diversidade das culturas dos povos originários, comenta Fabiano Contarato (PT-ES), que foi relator da proposta no Senado. Segundo ele, “o termo ‘indígena’, que significa ‘originário’, ou ‘nativo de um local específico’, é uma forma mais precisa pela qual podemos nos referir aos diversos povos que, desde antes da colonização, vivem nas terras que hoje formam o Brasil. O estereótipo do ‘índio’, por outro lado, alimenta a discriminação, que, por sua vez, instiga a violência física e o esbulho de terras, hoje constitucionalmente protegidas”. Além disso, o termo “índio” também foi difundido quando os portugueses chegaram ao Brasil e acharam, erroneamente, que haviam chegado às Índias. “Mesmo após o esclarecimento desse equívoco, mantiveram o nome genérico pelo qual chamavam todos os povos das Américas”, explica Contarato.