Espetáculos no Parque das Pedreiras volta à pauta: barulho, sujeira e trânsito comprometido (Franklin de Freitas)

Menos de uma década após a reabertura da Pedreira Paulo Leminski, hoje um dos principais palcos para espetáculos musicais em Curitiba, o complexo do Parque das Pedreiras — que inclui também a Ópera de Arame — volta a figurar no centro de uma polêmica com seus vizinhos, moradores dos bairros Abranches (onde está localizado o espaço) e Pilarzinho. Hoje, inclusive, os Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs) dos dois bairros realizam uma reunião conjunta para debater o assunto junto com a DC Set Group, concessionária do espaço, e autoridades públicas.

De acordo com Volnei Lopes da Silva, presidente do Conseg do bairro Abranches, a reunião — que acontece a partir das 19h30 nas dependências da Paróquia Sant’Ana de Abranches (Rua Vitório João Brunor, 688) — reúne moradores da região, a administração do Parque das Pedreiras e autoridades públicas (com a participação de representantes da Polícia Militar, da Polícia Civil, da Prefeitura de Curitiba e do Ministério Público do Paraná) na tentativa de buscar soluções e se chegar a um consenso para evitar a judicialização da questão.

Segundo ele, as principais reclamações da vizinhança dizem respeito ao transporte coletivo (especialmente um desvio na rota da linha Interbairros 2, que faz com que trabalhadores que moram na região tenham de parar até dois quilômetros longe de suas casas em dias de grandes eventos na Pedreira), ao trânsito na região (que fica congestionado quando há bloqueios em ruas como a João Gava), à limpeza pública (por causa do lixo gerado pelo movimento relacionado aos espetáculos, que fica acumulado em ruas no entorno do Parque das Pedreiras) e à perturbação do sossego (além de todo o barulho já provocado naturalmente pelos espetáculos, moradores relatam que antes e depois de shows há maquinário e pessoal trabalhando durante a madrugada com a montagem e desmontagem de estruturas e que eventos com som alto ocorrem durante a madrugada na Ópera de Arame, aos finais de semana).

Moradores relatam que dias antes e dias depois de shows há maquinário e pessoal trabalhando durante a madrugada com a montagem e desmontagem de estruturas e que os eventos com som alto até altas horas da madrugada na Ópera de Arame são cada vez mais frequentes.

Ao ‘Bem Paraná’, a administração do complexo de eventos ressaltou que desde o início de sua gestão mantém um permanente contato com a população do entorno e um excelente diálogo com os CONSEGs desde que foi procurada por eles (tanto que participará da reunião dos Consegs) e continuará seu trabalho para minimizar possíveis incômodos aos vizinhos, inclusive agindo em prol da população e intercedendo junto ao município para tentar resolver questões que fogem de sua alçada, como o asfalto da região, troca de postes irregulares e demais demandas trazidas pela população que são de responsabilidade dos órgãos públicos, como a limpeza do entorno após os eventos e a organização do transporte público.

“Os Consegs estão se reunindo, unindo forças para atender os anseios da comunidade e a Pedreira, junto com a Prefeitura de Curitiba, está ativa para entender e atender, criando novos canais de comunicação junto aos CONSEGs e participando da reunião para buscar em conjunto as soluções para os problemas que forem trazidos no primeiro encontro”, disse um porta-voz do Parque das Pedreiras à reportagem.

Do fechamento e renascimento da Pedreira Paulo Leminski (e da Ópera)…

A Pedreira Paulo Leminski chegou a ficar fechada para shows por cerca de seis anos, entre 2008 e 2014, por determinação judicial – o Ministério Público, em Ação Civil Pública movida em nome de moradores do Abranches, bairro da Pedreira, exigia adequações do local por conta do tumulto e barulho gerados em dias de evento e da estrutura de segurança inadequada (como saídas de emergência). Nessa mesma época a Ópera de Arame, também administrada pelo município naqueles dias, enfrentava uma situação de abandono.

A destinação e utilização dos espaços começou a ser resolvida em 2012, depois da Prefeitura de Curitiba conceder para a DC Set Eventos, que venceu uma licitação, a administração não só da Pedreira, mas também da Ópera. Desde a concessão, a empresa promoveu uma série de reformas e melhorias para readequar e revitalizar o Parque das Pedreiras.

A reabertura oficial da Pedreira, então, aconteceu no dia 29 de março de 2014, num show de Roberto Carlos no dia do aniversário de 321 anos de Curitiba. Nos anos seguintes, o local voltou a ser uma das principais opções para grandes espetáculos na Capital, recebendo apresentações de bandas e artistas como Black Sabbath, Guns’n’Roses, Arctic Monkeys, Katy Perry e Harry Styles e festivais como o Coolritiba e o Warung Day. No último final de semana teve o Titãs Encontro e em julho acontece ainda o Festival Cross Roads e o Luan City Festival (com Luan Santana, Safadão e Ludmilla).

Além da Pedreira (que tem capacidade para receber um público de 25 mil pessoas), a Ópera de Arame (com capacidade para cerca de 1,5 mil) também foi reativada e reformulada, voltando a receber não apenas shows menores, mas também formaturas e outros tipos de eventos. “Em 2014 reinauguramos a Pedreira e em 2015, a Ópera de Arame. Foram esforços e investimentos enormes para a revitalização dos dois espaços, que estavam em estados críticos de conservação, devido ao longo tempo que ficaram fechados. Foi um investimento alto, mas foi o que proporcionou o renascimento de dois símbolos que fazem parte da história de Curitiba e foi o que recolocou a cidade no roteiro dos shows nacionais e internacionais. Isso recriou toda uma economia, pois cada grande evento gera milhares empregos, diretos ou indiretos, nos mais variados segmentos, e faz com que Curitiba novamente volte a construir um legado cultural, turístico e econômico”, aponta o porta-voz do Parque das Pedreiras.

… Até o ressurgimento de velhos e novos problemas com a vizinhança
A retomada do calendário de shows e outros eventos na Ópera de Arame e na Pedreira Paulo Leminski, no entanto, também representou para quem mora na região o ressurgimento de alguns velhos problemas e o aparecimento de algumas novas questões. Alguns deles, referentes aos grandes espetáculos realizados na Pedreira, são relacionados aos desvios e bloqueios no trânsito da região (os quais advém de uma das exigências do acordo firmado entre Ministério Público para reabertura da Pedreira), além do aumento no fluxo de veículos. “Pessoas que moram próximo da Pedreira e usam o sistema de transporte coletivo reclamam que vem do trabalho, cansados, e ao voltar para casa ainda são obrigados a andar 1,5 mil metros, até 2 mil metros para chegar em casa”, relata o presidente do Conseg do Abranches.

Outro problema tem sido a limpeza pública de ruas no entorno do Parque das Pedreiras após esses grandes eventos. “Após o show, a Pedreira faz uma limpeza da sua área para visitação no outro dia. O show acontece no sábado, eles já limpam para o domingo ali na frente. Mas quem mora no entorno fica com a rua suja, com o lixo acumulado. Porque termina um show, um jogo de futebol, as pessoas saem tomando cerveja, comendo, e vão jogando sujeira na rua, urinam na frente de qualquer casa”, diz Volnei.
“Aì fica a Pedreira bonita, oganizadas, e os moradores, que não tem nada a ver, estão com o entorno emporcalhado”, reclama ainda Volnei.

Com relação ao horário em que os eventos na Pedreira terminam, as reclamações são menores e os relatos apontam que as regras estabelecidas tem sido cumpridas. O que tem incomodado mesmo, no entanto, é o barulho de caminhões, máquinas e trabalhadores nas madrugadas antes e após um grande evento, situação relatada não só pelo presidente do Conseg, mas também por outros três moradores da região ouvidos pela reportagem. “Nas noites que antecedem os eventos na Pedreira eles fazem montagem de palco. É barulho de máquina com o alarme de ré disparando, equipamentos sendo usados, pessoal batendo marreta, barulho metálico… Depois do evento, outra bagunça é a desmontagem de palco. Ficamos três noites sem dormir, duas antes e outra depois do show”, comenta um morador.

Por outro lado, os eventos realizados na Ópera de Arame parecem estar se tornando um novo problema, especialmente aos finais de semana. “Os shows na Ópera de Arame e na Pedreira costumam acabar no horário. Mas há eventos que eles fazem, que são festas, formaturas, que começam às 22 horas, 23 horas, até meia-noite. Começam esse horário e se estendem durante toda a madrugada, às vezes até cinco, seis horas da manhã. A Ópera não tem isolamento acústico, não foi feita para baladas com som eletrônico na madrugada e as portas de lá ficam todas abertas. O som ecoa e quem mora ali não consegue dormir”, critica ainda outro vizinho do Parque das Pedreiras, dizendo que esses eventos se tornaram mais frequentes após a pandemia.

Como será
A reunião dos Consegs

A reunião dos Consegs do Abranches e do Pilarzinho acontece nesta quarta-feira, a partir das 19h30, nas dependências da Paróquia Sant’Ana de Abranches (Rua Vitório João Brunor, 688). Após uma abertura seguindo os ritos formais, será dada a palavra para a comunidade, que terá dez minutos para falar (haverá a necessidade de inscrição com dados de documentos e comprovação de residência para manifestação). Depois, cada uma das outras partes presentes no encontro (concessionária, órgãos da Prefeitura de Curitiba e forças policiais) poderá falar também por 10 minutos.

Presidente do Conseg do bairro Abranches, Volnei Lopes da Silva faz um apelo para que a comunidade do Abranches e do Pilarzinho se faça presente no encontro para poder ser ouvida e atendida em suas necessidades. “A população fala muito, mas nas mídias sociais. Nos cobram nas redes, no mercado, na saída da missa, mas a gente tem feito reuniões e a população não tem comparecido. A população tem seus direitos e tem os órgãos para fazer sua defesa, como o Conseg, mas ela precisa vir na reunião, ter coragem de falar na reunião.”