RIMA DAS BATALHAS
Batalha de Rimas acontece toda quinta-feira na Praça das Menonitas: manifestação é um patrimônio cultural imaterial do Paraná (Foto: Franklin de Freitas)

Toda quinta-feira, quando o relógio vai se aproximando das 20 horas, o movimento na Praça dos Menonitas, no bairro Boqueirão, começa a se intensificar. Aos poucos a multidão vai se concentrando numa das metades da quadra de basquete, na mesma medida em que os beats vão ganhando mais volume. Até que alguém chama o início do que o povo quer ver e ouvir: é hora do sangue, que vai ser derramado durante violentas batalhas em verso e com muita rima.

“Só tem duas opções, qual você vai escolher: vai morrer ou vai matar? Vai matar ou vai morrer? Só tem duas opções, qual você vai optar: vai matar ou vai morrer? Vai morrer ou vai matar?”, cantam em coro os presentes.

Criada há quase sete anos, a Batalha da Menô é hoje uma das maiores e mais tradicionais batalhas de rima de Curitiba. A cada semana, mais de 80 pessoas (entre público e MCs) se reúnem para acompanhar os improvisos. Um movimento cultural que atrai gente de todos os cantos e demonstra a força do rap na periferia curitibana.

“O evento aqui reúne pessoas de todos os extremos de Curitiba: Leste, Norte, Sul, Oeste. E também gente da região metropolitana, como Colombo, Araucária, Fazenda Rio Grande, São José dos Pinhais… É uma caminhada, mas sempre vem uma galera”, relata Daniele Requião Freitas, uma das organizadoras da Batalha, que costuma começar às 20 horas e terminar entre 22 e 22h30. “Pra todo mundo poder voltar pra casa”, explica ainda ela.

Como funciona uma Batalha de Rima

Primeiramente, qualquer pessoa pode participar das batalhas de rima, independente de idade ou experiência. Basta chegar um pouco antes do início dos confrontos em versos e fazer sua inscrição, que custa R$ 4 na Batalha da Menô. “Sempre tem alguém que vem rimar pela primeira vez. Não importa o desempenho, o importante é você fazer e ter a experiência, porque aqui todo mundo se apoia”, diz Daniele.

As batalhas, por sua vez, são realizadas em dois rounds, nos quais cada competidor tem direito a um determinado número de versos. Geralmente são batalhas de um contra um, mas também podem ocorrer enfrentamentos em dupla ou trio, como no vídeo abaixo.

No intervalo entre cada round, o público é quem decide o vencedor, democraticamente. Primeiramente, pede-se para o povo escolher um lado e fazer barulho. Caso a decisão popular não seja inconteste, levantam-se as mãos para fazer uma contagem de votos.

“Se um MC ganhar de 2 a 0, ele passa já pra próxima fase. Se der empate [1 a 1], vai pro terceiro round. E ali é o mata-mata, onde tudo acontece, que é o fervo que a galera gosta”, afirma Elton Dantas da Silva, 29 anos, um dos fundadores da Batalha da Menô.

Batalha da Menô realizada no dia 27 de junho de 2024 (Imagens: Franklin de Freitas)

O começo de tudo: ‘Nós vivemos rimando aí. Vamos fazer uma Batalha na Menô’

Desde os anos 1990, conta ainda Elton, a Praça dos Menonitas é um importante ponto de encontro para a comunidade do Boqueirão, que há tempos costuma fazer um ‘fervo’ no local às terças e quintas-feiras. Foi se aproveitando desse movimento que já havia no local, inclusive, que ele e um amigo, o Rapê, tiveram a ideia de iniciar a Batalha da Menô.

“Desde criança eu sempre curti um rap por influência dos amigos, dos irmãos, da família. Aí em 2017, nessa época nós já tínhamos bastante batalha pelo YouTube. Só que por aqui não tinha, aqui no bairro não tinha. Aí foi que eu tive a ideia, junto com meu amigo Rapê. Nós pensamos: ‘pô, nós vivemos rimando aí, tirando uma brisa aí, brincando um com o outro. Vamos fazer uma batalha na Menô'”, recorda ele.

No dia 27 de julho de 2017, então, ocorreu a primeira edição do evento, que reuniu 14 pessoas – contando os dois organizadores e os oito MCs que participaram das batalhas. A repercussão sobre a novidade, no entanto, foi grande no bairro.

“Todo mundo ficou surpreso, tipo: ‘nossa, que massa, uma batalha aqui na Menô. Cara, essa praça aqui é da hora, eu já tinha pensado em fazer isso e tal’, porque uma galera já tinha tido essa ideia, tá ligado? E aí, o que aconteceu? Na próxima quinta-feira, quando virou o mês, a segunda edição já foi um fervo. Umas 50 pessoas apareceram. Foi muito foda”, relata ainda Elton, destacando que hoje gente de toda a Curitiba e até de outras cidades do Paraná participam da Batalha da Menô.

Com só 13 anos de idade, menina é destaque no improviso

O Bem Paraná assistiu a edição Festa Junina da Batalha da Menô, realizada no dia 27 de junho. E um dos destaques daquela noite foi Valentina Cardoso Kauf, a Valle MC, que tem apenas 13 anos de idade. Ela esteve no local acompanhada de sua mãe, Liliane Cardoso Pereira, de 38, e chegou até a semifinal da competição.

“Comecei a frequentar batalhas de rima faz uns três meses e desde então já participei de umas quinze”, conta a garota, que conheceu o mundo das batalhas através da internet. “Eu comecei a ver os MCs e achei muito legal. Desde pequena eu gostava de rimar, mas não sabia que tinha uma batalha de rima.”

A primeira batalha da qual ela participou foi a do Muma. Inicialmente, a ideia era só observar o movimento. Mas a prima de Valentina, já sabendo de seu talento, tratou de inscrevê-la para já participar. “Parei na semifinal, mas fui bem. E depois fui na Parigot, que já na primeira vez em que participei, ganhei”, celebra ela.

O sonho da menina é disputar uma batalha de rima no nacional e participar do Aldeia, uma das maiores batalhas e que acontece em São Paulo. A família, por sua vez, incentiva a garota, reconhecendo o seu dom.

“A gente não imaginava que ela ia querer participar do movimento, mas vimos que ela tinha muito interesse e que ela tinha também o dom, porque ela sempre ficava rimando e pedindo pra gente rimar, mas a gente não conseguia acompanhar ela. Aí trouxemos ela”, conta a mãe, relatando que se impressiona sempre que vê a garota rimando. E ela não é a única.

Valentina, a MC Valle, participa Batalha da Menô no dia 27 de junho de 2024 (Imagens: Franklin de Freitas)

Patrimônio Cultural Imaterial: conheça as batalhas que rolam na Grande Curitiba

As Batalhas de Rima são consideradas desde Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Paraná desde o ano passado, através da Lei 21.519/2023, de autoria da deputada estadual Ana Júlia (PT). Com isso a manifestação cultural é protegida, assegurando-se a realização desses eventos em Centros de Juventude, Centros ou Instituições Culturais e Parques, Praças e Pistas de Skate, entre outros.

“Tem bastante [batalha por Curitiba e região metropolitana]. Sempre vai juntando gente. Tipo, alguém sempre pensa ‘nossa, cara, aqui na minha quebrada não tem uma batalha. Vamos fazer pra ficar mais perto, pra gente não precisar ir pra outro canto’. E aí a galera faz, junta umas 20 pessoas e tá ótimo. O importante é fazer a rima ali, porque os caras ficam assim, loucos pra rimar. ‘Meu Deus, eu quero muito rimar’. E aí eles fazem a batalha”, comenta Daniele.

Em todo o Paraná, estima-se que as Batalhas de Rima movimentem pelo menos 50 mil pessoas, seja via rede social ou por meio de participação direta. E em Curitiba e Região Metropolitana, são diversos os locais que promovem esses encontros culturais.

Batalhas de Rima ativas em Curitiba e Região Metropolitana

Batalha da Menô

Considerada a maior de Curitiba, a Batalha da Menô acontece toda as quintas-feiras, às 20 horas, na Praça dos Menonitas (Rua Paulo Setúbal, 3291, bairro Boqueirão).

Batalha do Muma

Uma das mais antigas da cidade, a Batalha do Muma acontece desde 2013, sempre aos sábados, a partir das 18 horas. Atualmente, o encontro é realizado numa quadra de basquete que fica na Av. Wenceslau Braz, 2159, na Vila Guaíra.

Batalha de Santa

Toda sexta-feira, às 20 horas, a Batalha de Santa (ou Santa Batalha) ocorre ao lado do terminal de Santa Felicidade.

Batalha do Inferninho

Toda segunda-feira a Praça dos Eucaliptos (R. Pastor Antônio Polito, 2200, no Alto Boqueirão) também recebe MCs. A Batalha do Inferninho tem início às 20 horas, mas as inscrições iniciam às 19h30.

Batalha do Parigot

Outra batalha que acontece na zona sul de Curitiba, na Praça José Luiz Franceschi, no Sítio Cercado. A Batalha do Parigot rola quinzenalmente, numa sexta-feira, a partir de 19h30.

Batalha dos G

Acontece todas as quartas, a partir de 20 horas (com inscrições começando às 19h30), no bairro Sítio Cercado. A Batalha dos G rola no campo de futebol da Praça Cícero Portes.

Batalha da Z.S.

Conhecido antigamente como Batalha na Concha, o evento foi reativado recentemente, com nova equipe, nome e endereço. A Batalha da Z.S. acontece na Praça do Carmo (Av. Marechal Floriano Peixoto, 8430, Boqueirão), sempre numa terça-feira. Siga a página para saber quando haverá evento.

Batalha no ST

A Batalha no ST acontece todas as segundas-feiras, a partir de 19h30, ao lado do tubo CIC Norte, na Rua Dep. Heitor Alencar Furtado, no Campo Comprido.

Batalha da Pista

Acontece aos domingos, na Tv. Milton Derviche, no Tatuquara. O nome “Batalha da Pista” é porque o encontro acontece justamente na pista de skate, com início às 18h30.

Batalha da Trix

A Batalha da Trix costuma acontecer aos domingos, no Escadão do Largo da Ordem/Ruínas do São Francisco, a partir de 17 horas.

Batalha de Pinhais

Já em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), acontece toda terça-feira a Batalha de Pinhais. O evento começa às 19h30 e rola na pista de skate da Av. Jacob Macanhan.

Batalha do Ville

Mais uma batalha que ocorre em Pinhais, na Av. Iraí, 662, onde fica a It’s Pub. Para saber quando rola evento, acompanhe o Instagram da Batalha do Ville.

Batalha do Bela

Em Piraquara, também na RMC, ocorre quinzenalmente (sempre numa quarta, a partir das 19 horas), a Batalha do Bela, na Praça do Bela Vista (Av. Centenário do Paraná, 404).

Batalha do Linear

Às segundas-feiras, a partir de 19h30, o Parque Linear, em Colombo, recebe a Batalha do Linear, que acontece na Pista de Skate.

Duelo da Norte

Toda quarta-feira, às 19h30, rola o Duelo da Norte na Av. Espírito Santo, 1362, também em Colombo.

Batalha do Cachoeira

A Batalha do Cachoeira acontece toda as quintas, a partir de 20 horas, na Rua Antõnio Johnson, 5061, no Cachoeira, em Almirante Tamandaré.