Foto: Cassiano Rosário / Bem Paraná
Lara Senger vê perspectiva diferente da profissão: “Como um laboratório social” (Cassiano Rosário)

Historicamente, o ofício de garçom tem um papel fundamental no setor de bares e restaurantes. No entanto, assim como grande parte das profissões, o trabalho tem se adaptado às novas atualizações do mercado.


Esses profissionais têm ocupado a posição de protagonistas dos locais em que trabalham. Uma pesquisa recente realizada pelo Sebrae e Abrasel revelou que a cordialidade, educação e conhecimento dos atendentes são fatores decisivos para 17% dos clientes na hora de escolher um bar ou restaurante, sendo o segundo item mais importante, atrás apenas da limpeza e a higiene nas instalações (32,4%).


Antes, o estereótipo dos garçons era associado a homens trajados com aventais, segurando bandejas e blocos de notas. Em muitos estabelecimentos o papel foi substituído por tablets ou até mesmo pelo rádio. A nomenclatura também foi modificada em alguns lugares. Isso porque, por possuírem uma rotina de trabalho versátil, alguns profissionais preferem ser chamados de atendentes.


Apesar das mudanças no método de trabalho e as especificidades de cada estabelecimento, as habilidades para o ofício ainda são as mesmas dos anos passados. Para ser um bom garçom, é necessário ter agilidade, paciência e resiliência para lidar com os diferentes tipos de clientes.


Lara Senger, de 27 anos, trabalha como atendente de restaurantes há cinco anos, dos quais grande parte foi como taxa (sem contrato empregatício). Atualmente, sua rotina é dividida entre as aulas de mestrado em Sociologia e os dois empregos como atendente em restaurantes.


Por ter uma forte ligação com a área das Ciências Sociais, Senger comenta que consegue ter uma perspectiva diferente sobre a profissão de atendente. “Eu sinto que trabalhar com atendimento em restaurante, bar, é um laboratório da sociedade, sabe? Acontece de tudo, você vê mil e um tipos de relações diferentes acontecendo, formas de relações acontecendo”, comenta a mestranda.


Na opinião de Senger, a nova geração tem ajudado a moldar as relações entre os clientes e os profissionais. “As pessoas enxergam como se a gente estivesse aqui apenas para servir você da forma como você desejar. E não, você está consumindo um produto, você está consumindo um serviço. São perspectivas diferentes. Você está aqui para consumir nosso serviço, não necessariamente a gente está aqui apenas para te servir”, opina a profissional.


Um dos empregos de Lara é no restaurante especializado em comida italiana Pasta Basta, no Centro de Curitiba. Além do atendimento nas mesas, a rotina de trabalho dela engloba a limpeza do espaço, organização e logística reversa.


Elo principal


O atendente é o principal elo entre o cliente e o estabelecimento. Esse contato pode começar antes mesmo de o consumidor chegar ao local, quando fazem reservas por meio das redes sociais – função exercida, em alguns casos, pelos atendentes de salões.


A versatilidade do atendente vai muito além de ter que anotar vários pedidos de forma simultânea e manter o ambiente organizado. Isso porque, embora não tenha especialização em gastronomia, eles têm que conhecer o cardápio e saber explicar sobre os pratos para sanar as dúvidas dos clientes.

Diferentes nacionalidades, rotinas semelhantes

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O trabalho de Ricardo Bogady é dividido entre o salão, servindo comidas e bebidas nas mesas; e a cozinha, com o polimento de pratos (Foto: Carlos Martini)


Ricardo Bogady oferece seu trabalho como garçom na churrascaria Arco Íris. O venezuelano está no Brasil há sete anos e escolheu Curitiba o lugar para morar. Ele chegou ao País adolescente, e todas as oportunidades profissionais que obteve foi com atendimento ao público. Sua rotina de trabalho inicia às 10h e segue até a noite.


O trabalho é dividido entre o salão, servindo comidas e bebidas nas mesas; e a cozinha, com o polimento de pratos. Para ele, lidar com os clientes difíceis é o que há de mais desafiador no trabalho. Contudo, mesmo com poucos anos de experiência, ele conta que já sabe a “fórmula” para resolver esses conflitos. “O segredo é respirar fundo e sair de perto. Pedir para outra pessoa atender também pode dar certo. Mas, geralmente, se não tem outra pessoa para atender, tem que enfrentar”, diz Bogady.


As relações interpessoais não se restringem apenas aos clientes e atendentes. Os próprios funcionários acabam estreitando os laços, pois têm que estar em contato frequente. No caso de Bogady, por exemplo, para lidar com tamanha demanda, ele se comunica com os colegas de trabalho por meio de rádios durante a maior parte do tempo.