arte na escola
Diários Invisíveis no Guido Viaro (Foto: Maria Ravazzani)

O Instituto Arte na Escola anunciou no dia 8 de agosto os vencedores da 25ª edição do Prêmio
Arte na Escola Cidadã. Uma das professoras premiadas é de Curitiba. Daniella da Costa Nery, professora do Centro Estadual de Capacitação Guido Viaro, é uma das vencedoras com o Projeto Diários Invisíveis.

É o maior reconhecimento nacional do trabalho docente em artes visuais, teatro, dança e música nas cinco etapas da educação básica (da creche à educação de jovens e adultos) de escolas públicas e particulares de todo o Brasil. Ele é realizado pelo Instituto Arte na Escola (IAE). 

O Centro Guido Viaro venceu na categoria Educação Não Formal com o projeto “Diários Invisíveis”, idealizado pela professora Daniella Nery e realizado em processos colaborativos com estudantes do Ensino Fundamental ll e Ensino Médio de várias escolas públicas estaduais, que participam do curso livre Dança no Centro. “É incrível ter um projeto contemplado num espaço que pulsa arte e educação”, afirma.

O projeto teve início em 2022, quando os estudantes iniciaram um processo de preparação com propostas de consciência corporal, improvisação e procedimentos de criação. Não era o objetivo final, mas a consequência foi o surgimento do trabalho coreográfico intitulado “Diários Invisíveis” em que as potencialidades e protagonismos dos estudantes evidenciaram um processo de ensino-aprendizagem compartilhado, baseado no diálogo.

Durante a pandemia, quando se questionava o isolamento social e as consequências disto, o projeto surgiu com uma análise importante voltada às urgências e necessidades do ser humano, em realizar ações coletivas. “A ideia do projeto foi expressar através da dança, a solidão, a depressão, o medo da perda, o querer abraços, a relação com as redes sociais, a rebeldia, energia e tédio”, explica Daniella.

A escolha do nome “Diários Invisíveis” foi sugerido durante as aulas, quando em um bate-papo a professora relatou aos estudantes que registrava em um diário questões e emoções vivenciadas por ela na adolescência, o que chamou a atenção dos jovens, já que muitos deles, nem sequer sabiam o que seria um diário de papel.

Foram mais de 500 trabalhos avaliados no Prêmio Arte na Escola Cidadã 2024

Como prêmio, o educador proponente do projeto premiado de cada categoria receberá R$ 10 mil além de certificado para ele e para a instituição onde o projeto aconteceu. O Prêmio é realizado pelo Instituto Arte na Escola, organização mantida pela Fundação Iochpe. A 25ª edição tem o apoio da Iochpe Maxion.

Mais de 500 educadores de várias parte do país se inscreveram para participar, apresentando projetos que envolviam uma ou mais linguagens artísticas (música, teatro, artes visuais, dança) e realizados entre 2022 e 2023 em instituições, públicas ou particulares, com turmas de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e Educação Não Formal – categoria lançada esse ano como ação celebrativa a 25 anos do Prêmio e 35 anos do Instituto Arte na Escola. A ação é pensada para ampliar o reconhecimento em diversas instituições.

“Arte transborda as paredes das escolas, está presente em todo momento, e a formação na arte cidadã se dá também fora do ambiente formal de ensino, por isso decidimos premiar os arte educadores dos espaços não formais de educação também”, diz Claudio Anjos, presidente do Instituto Arte na Escola.

Confira quem são os vencedores, onde lecionam e um pouco sobre o projeto desenvolvido por
cada um:

EDUCAÇÃO INFANTIL
INÁ ELOISA GRABIN, Garopaba (SC)
Escola Casa Vento
Projeto Como meu corpo faz e expressa os movimentos?
Ao observar as crianças de 3 e 4 anos anos, Iná notou a criatividade delas ao brincarem de faz-de-conta, sua expressividade em diferentes formas e linguagens, o gosto por músicas para dançar e o uso de
fantasias para teatros. Decidiu, então, aprofundar sua pesquisa para ampliar o repertório da turma e
promover momentos de exploração corporal. Durante o trabalho, que durou um ano, ficou claro o
quanto os pequenos aprendiam sobre o próprio corpo e como tentavam explicar e ensinar movimentos e
acrobacias para os colegas. O projeto teve início com vivências na sala com panos, música, luzes
coloridas e sombra. Também foram realizadas projeções de vídeos de diferentes espetáculos de dança e
percussão em um voil pendurado no espaço. As crianças foram incentivadas a explicar, desenhar e
explorar os movimentos. Também foram explorados espaços externos. Por fim, os pequenos foram
desafiados a reproduzir um movimento de uma foto, deitando-se sobre papel branco. Iná contornava os
corpos e os convidava a imaginar o que havia dentro do corpo que os fazia se mover, resultando em
hipóteses individuais expressas oralmente e graficamente.

ENSINO FUNDAMENTAL 1
WANDERSON ROSALVES DE SOUSA, Brasília (DF)
Escola Parque 303/304 Norte
Projeto O Museu misterioso – Uma montagem teatral interdisciplinar
O projeto, um espetáculo teatral, é resultado de uma iniciativa pedagógica interdisciplinar que reúne as
disciplinas de Teatro, Música, Artes Visuais e Educação Física, e surge para compor a grade de um evento
previsto no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, que anualmente celebra os trabalhos
desenvolvidos lá. A ideia central do espetáculo partiu dos estudantes, que compuseram músicas
autorais, além de parte do roteiro e integraram temas de cada disciplina para a encenação da peça, que
teve seu processo criativo realizado ao longo de 2 meses. O projeto promoveu conhecimento sobre as
culturas popular e erudita, valorizando e ressaltando a importância da arte e o conhecimento histórico
da humanidade presente nos museus. Possibilitou ainda o desenvolvimento de habilidades cênicas,
musicais, motoras, corporais, visuais, sensíveis, além da autoconfiança e da autoestima dos estudantes.

ENSINO FUNDAMENTAL 2
JORGE CARDOSO PAULINO, Maricá (RJ)
EM Vereador Osdevaldo Marins da Matta
Projeto Olhares fotográficos contra a violência de gênero
O projeto foi concebido para engajar a turma na temática, dado que em 2023, uma ex-aluna foi vítima
de feminicídio. Compreendendo a relevância de um currículo conectado com a realidade social, Jorge
elaborou um projeto focado na denúncia da violência de gênero, alinhado à Base Nacional Comum
Curricular (BNCC). Como resultado, os alunos elaboraram uma cartilha digital, com informações e
imagens fotográficas produzidas por eles, visando promover a conscientização e a denúncia,
contribuindo para uma cultura de respeito e igualdade. Para chegar a esse produto, a turma se
envolveu em discussões, pesquisas, sessões fotográficas, lançando mão de smartphones, câmeras,
aplicativos de edição.

ENSINO MÉDIO
DÉBORA ELIZA FREITAS, São Bernardo do Campo (SP)
EE Doutor Fausto Cardoso Figueira de Mello
Projeto Que diferença você quer fazer no mundo?
Ao começar a lecionar na escola, entre 2022 e 2023, Débora observou que a comunidade escolar era composta por estudantes de diferentes classes sociais de classe, entre C e E, e vivia diferentes
realidades. Parte deles era muito desmotivada e sem perspectiva de futuro. O índice de intenção de se
inscrever no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) era baixo, a taxa de faltas, alta. Esse cenário levou
a professora a desenvolver um projeto com base na oficina sobre a cultura e a Agenda 2030 (da
Organização das Nações Unidas), realizada por ela anos atrás. Como objetivos, Débora queria empoderar
esses jovens para que identificassem problemas na sua comunidade e, principalmente, pensassem
soluções, sempre utilizando a Arte e a Agenda 2030. No processo de aprendizagem, foram trabalhadas
competências socioemocionais como autocrítica, consciência social, tomada de decisão e
responsabilidade. Os estudantes foram provocados a se perceber na comunidade em que vivem e se
tornar agentes transformadores, desenvolvendo pequenos projetos de impacto para além dos muros da
escola; lançando mão dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) e a arte. Surgiram 5 projetos
diferentes na mesma turma. Dentre eles, Salva Quadra tinha como foco a reforma da praça Livio Grotti,
e movimentou a comunidade escolar e os vizinhos do torno da escola. Sonhos e Poesias criou uma peça
teatral para apresentar a Agenda 2030 para as crianças em tratamento de câncer na Casa Ronald
Mcdonald. Durante o trabalho, a turma pôde conhecer grafite, cinema documental e de animação,
teatro infantil, lambe-lambe, campanhas sociais para mídias digitais, arte e história dos negros no Brasil,
arte ambiental, etc.

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)
JULIANA PATRICIA SILVA DE FARIA, Caldas Novas (GO)
EJA Onildes de Fátima da Rocha
Projeto Arte na Abordagem STEAM: Explorando as ervas do cerrado para o bem-estar mental
A turma de alunos é formada por trabalhadores braçais de baixa renda e que enfrentam desafios como a
falta de recursos, infraestrutura inadequada e necessidade de conciliar estudos com trabalho e outras
responsabilidades. Isso tudo afetou a saúde mental dos estudantes desde a pandemia e, em agosto do
ano passado, a escola sofreu ainda mais com a perda de uma das integrantes, que se suicidou. Diante
desse cenário, Juliana apresentou a proposta de estudarem, por meio de um projeto de abordagem
STEAM (que tem como objetivo fomentar a integração das áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia,
Artes e Matemática), como os extratos de ervas do cerrado podem contribuir para melhorar a saúde
mental da comunidade local. Os jovens e adultos da turma entrevistaram pessoas do entorno sobre
conhecimento e uso terapêutico das ervas do cerrado, pesquisaram o tema, fizeram desenhos de
memória das ervas e seu uso na infância, além de terem visitado o Parque Estadual Serra de Caldas,
catalogado ervas encontradas no cerrado, desenhado ervas observadas na visita de campo. A professora
Juliana ainda os desafiou a construir a engenhoca extratora de extratos das ervas do cerrado, elaborar
um ebook ervas do cerrado (com ilustrações dos próprios estudantes), participar de oficinas de extração
de óleos essenciais, plantar um jardim suspenso e participar de feira Feira artística/científica de saúde e
bem-estar. A valorização da arte enquanto pesquisa científica e processo criativo dos estudantes,
consolidou a importância da arte em pé de igualdade a todos os componentes curriculares.

EDUCAÇÃO NÃO FORMAL
DANIELLA DA COSTA NERY, Curitiba (PR)
CENTRO ESTADUAL DE CAPACITAÇÃO EM ARTES GUIDO VIARO
Projeto Diários Invisíveis

A instituição oferece cursos livres de Arte para a comunidade gratuitamente, inclusive aulas de dança
contemporânea. O projeto nasce das vontades e desejos dos estudantes, que expõem questões, sendo
fortemente contaminados pelo período de isolamento social vivenciado durante a pandemia: solidão,
depressão, medo da perda, vontade de abraços, relação via redes sociais, imposições e modelos ideais a
serem seguidos, rebeldia, energia e tédio. Como falar sobre tudo isso dançando? Em um estúdio próprio
de dança, as aulas aconteciam semanalmente, com práticas investigativas, rodas de conversa, mostras
de vídeos, visitas de convidados e diálogos com outras linguagens. As aulas eram compostas por
exercícios práticos com três núcleos interligados: percepção/consciência corporal,
investigação/improvisação e criação. Também foram utilizadas abordagens de técnicas somáticas, de
improvisação individual e coletiva e processos de coautoria. Nas aulas, sem ordem fixa estabelecida, a
turma experimentou processos investigativos partindo de questões elaboradas pela professora e/ou
coletivo.

Todos os inscritos no Prêmio Arte na Escola Cidadã – premiados ou não – ganham um material
educativo impresso e um percurso formativo online, inspirados no trabalho do Coletivo MAHKU –
Movimento de Artistas Huni Kuin, formado por indígenas da etnia Huni Kuin, que também são
conhecidos como Kaxinawá, originários da aldeia Chico Curumim, no Alto do Rio Jordão, no
Acre.

Sobre o Instituto Arte na Escola – O Instituto Arte na Escola (IAE) é uma associação civil sem fins lucrativos que, desde 1989, qualifica, incentiva e valoriza a arte brasileira contemporânea em contextos formativos, com a intenção de que públicos diversos se aproximem do patrimônio cultural do nosso país.