MAURO GONÇALVES PIPA PIPAS
Mauro Gonçalves, proprietário da Art Céu: soltar pipa era brincadeira de infância e há mais de 20 anos virou negócio pra ele (Foto: Franklin de Freitas)

Pipa, papagaio, pandorga ou raia. Os nomes são diversos, mas a brincadeira é a mesma. Utilizando uma espécie de asa primitiva, feita de papel e que fica sobre uma estrutura de varetas, utiliza-se a força do vento para voar, enquanto a pipa é mantida presa por um fio segurado pelo operador. Uma diversão antiga e que até hoje atrai adeptos em Curitiba, inclusive conquistando um público cada vez mais diverso.

Com a chegada do inverno e o período de festas juninas e julinas, o mercado da pipa agora se prepara para entrar no que costuma ser o seu melhor momento no ano. É o que contam César Paulo Glodzienski, fundador da César Pipas, e Mauro Gonçalves, criador da Art Céu, dois nomes já históricos no meio pipeiro.

“Agora está começando a temporada da pipa, que se inicia na segunda quinzena de julho e vai até, mais ou menos, 15 de outubro. É uma temporada boa de vento, geralmente também com um tempo mais seco pra poder soltar pipa. Agora que é o ponto alto da temporada do ano, digamos assim. É como se fosse o Natal dos pipeiros”, comenta César, que tem 60 anos de idade e há 19 vende pipas no Parque Bacacheri.

Festas juninas e julinas ajudam a movimentar mercado da pipa

Já Mauro Gonçalves destaca que desde junho o movimento tem sido bom. Além da questão dos ventos e do tempo, ele ressalta também e a tradição das festas juninas e julinas como algo que acaba ajudando.

“Tanto que o dia 29 de junho, que é o Dia de São Pedro, ficou conhecido também como o Dia da Pipa. É uma coisa pouco divulgada, mas existe. E agora com inverno, outono, sempre temos movimento bom por causa da temporada dos ventos e o período de férias, com muitos eventos em chácaras na Grande Curitiba”, diz o empresário pipeiro. Ele tem 62 anos de idade está há mais de 20 no ramo das pipas, mantendo uma loja no bairro Hauer, próximo do Bosque Reinhard Maack.

MAURO GONÇALVES
PIPA
PIPAS
Até estrangeiros procuram as pipas curitibanas (Foto: Franklin de Freitas)

Mais de 150 mil pipas produzidas e 50 mil crianças felizes

César Paulo Glodzienski conta que desde criança já brincava com pipa. Foi numa situação de necessidade, no entanto, que acabou tornando o hobby num negócio. E tudo por iniciativa de um de seus filhos.

“Um dia, saindo da missa, me deparei com uma pipa bidê voando e fui seguindo o rastro dela, até que parei na casa de um amigo. Perguntei se eles não conseguiam mais duas pipas para eu brincar com meu filho. Eles conseguiram e depois meu filho falou pra gente fazer pipa pra vender. Eu estava num momento difícil, precisava ganhar algum dinheiro e também vi como uma oportunidade de incentivar o empreendedorismo do meu filho, ensinar os valores do trabalho”, relata ele.

O pai, então, logo comprou umas linhas, montou umas pipas com o filho e preparou uma banquinha no meio da rua, no bairro Bacacheri. “Começamos a vender, vender, vender… Já de cara foi um sucesso”, recorda ele, que depois de um tempo foi se estabelecer mesmo no Parque Bacacheri, onde permanece até hoje, por uma dica de sua esposa.

Ao longo de quase duas décadas de trabalho, César estima ter produzido entre 150 e 200 mil pipas, atingindo mais de 50 mil crianças que nunca haviam participado da brincadeira.

“Eu tenho uma outra atividade, então eu monto as pipas à noite, numa escala grande. E aos sábados, domingos e feriados, efetuo as vendas lá no Parque Bacacheri”, explica o empreendedor, que pode ser encontrado no parque em dias com tempo bom, das 10 às 17 horas.

Transformando a paixão infantil em negócio

Mauro Gonçalves, por sua vez, possui sua loja de pipas há mais de 20 anos. Desde antes, porém, já tinha um comércio, mas que era voltado para a confecção de roupas e armarinho. Isso até que no começo dos anos 2000 ele começou a fazer oficinas de pipa por Curitiba e região metropolitana, divulgando a prática para a criança da cidade.

“Eu visitava vários lugares, várias escolas, e como acabei me envolvendo muito com pipa, acabei transformando meu comércio também num comércio de pipa”, relata ele, que também é um pipeiro desde a infância. “Quando criança eu fazia pipa com a minha mãe e amigos”, recorda.

Na loja, além de pipas prontas, também é possível encontrar material para quem quer confeccionar seu próprio brinquedo e também kits que já trazem a pipa com a rabiola, o compasso e a linha. “Aí a pessoa só tira do pacotinho e já pode soltar, a facilidade é grande”, comenta o vendedor, explicando que pessoas de todos os cantos aparecem em busca de seus produtos.

“Aqui vem pessoal de Curitiba, região metropolitana… Tudo que é lugar. Hoje mesmo teve duas pessoas do interior que estavam passando por Curitiba, tinham uns compromissos por aqui, e aí passaram na loja para pegar umas pipas e levar pro interior do Paraná. Já tive vendas também para outros países: Rússia, Estados Unidos, Alemanha… Pessoas que vieram aqui comprar ou encomendaram pra gente mandar pra lá.”

Brincadeira sem idade para começar e com cada vez mais meninas e mulheres

E você, já brincou de pipa? Se a resposta for negativa, não tem problema. A boa nova é que não há idade para começar a participar da brincadeira.

“A pipa não tem idade, é do zero aos 100 anos. Hoje a gente vê muitos avós e até bisavós vindo pegar pipa aqui para soltar com os netos e bisnetos. Não tem idade pra começar e quem já soltou pipa, não esquece como é gostosa a brincadeira e acaba sempre voltando a brincar”, comenta Mauro Gonçalves, destacando que Curitiba é bem servido de parques e praças, mas que é necessário ficar de olho sempre na estrutura dos lugares, para evitar acidentes.

“O Parque Náutico é um bom lugar, por exemplo. Temos também o Bacacheri e o Barigui”, recomenda.

Um fato curioso, relatado pelos dois comerciantes, é que até alguns anos atrás a pipa era uma atividade mais masculina, que envolvia principalmente meninos e homens. Nos últimos tempos, contudo, isso já começou a mudar.

“Hoje, felizmente, a galera toda brinca: é menina, meninos, mulheres, homens… Também tem bastante namorado que nos procuram porque querem soltar pipa. Então não tem um público específico, é algo mesclado”, diz ainda Gonçalves.

César, por sua vez, comenta ainda que hoje 65% do seu público já é feminino. E faz um apelo aos pais: “Quando você leva seu filho ou sua filha para soltar pipa, você cria um parceiro, uma parceria de brincadeira. Se você quer ter um parceiro, uma parceria para sempre, leve seu filho pra soltar pipa. Você vai ter ali uma criança do teu lado, no mínimo, no mínimo, até os 12 anos de idade.”