Patricia Villanueva é proprietária da Garbo Locações: mudança de paradigma (Franklin de Freitas)

Houve um tempo em que encontrar uma locadora de vídeo em Curitiba era uma tarefa tão fácil quanto encontrar hoje uma farmácia pela cidade. Foi na era pré-streaming, quando o acesso à internet ainda era incipiente e para ter acesso às melhores obras (antigas ou contemporâneas) era preciso recorrer às locadoras de filmes, com suas fitas VHS e DVDs.
Naqueles tempos, contudo, o mercado de locação ainda era restrito. Além das locadoras de filmes, havia também empresas que trabalhavam com itens de alto valor agregado (como carros e apartamentos) ou produtos de uso pontual (como trajes de casamento ou formatura). Hoje, o cenário mudou radicalmente. Enquanto as locadoras de filmes entraram em extinção, por outro lado há um verdadeiro “boom” de empresas e plataformas digitais dedicadas a alugar praticamente tudo.
E o “praticamente tudo” não é um exagero, como uma pesquisa pela internet pode confirmar. Há empresas que trabalham com locação de ferramentas (como furadeiras, lixadeiras e máquinas de soldas), celulares, notebooks, computadores (desktops), eletrodomésticos, brinquedos, games, aquecedores, caixa de som e até mesmo materiais para eventos como talheres, copos, taças, travessas e formas, entre outros.
De acordo com a ALEC (Associação Brasileira de Locadores de Equipamentos e Bens Móveis), há hoje uma tendência em todos os setores da economia em alugar tudo o que for possível locar. O conceito de propriedade, então, sai de cena para dar espaço ao conceito de posse e os consumidores, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, saem ganhando com a redução de custos (já que não terão de arcar com o valor integral para aquisição do bem nem terão de lidar com sua depreciação ou custos de manutenção), a otimização do espaço que teriam de disponibilizar para a armazenagem e uma utilização mais sustentável dos equipamentos disponíveis, alguns dos quais seriam utilizados algumas poucas vezes ao longo de sua vida útil.
Gerente da iEquipo Locações, criada há cinco anos e que trabalha com equipamentos de construção civil, Lucas Lupack Pizzato comenta que a empresa surgiu após seus criadores notarem a necessidade de clientes terem acesso facilitado às ferramentas. Inicialmente fundada em parceria com a loja de materiais de construção Zzat Full Lar, o negócio vem crescendo desde sua criação e há dois anos já atua em sede própria, localizada no bairro Rebouças.
“Nós enxergamos o mercado de locação como uma tendência para o futuro. Vemos dentro do setor da construção civil e em outros setores um investimento de grandes empresas em ideias de negócios girando em torno da locação de bens móveis, além de investimentos em inovação e tecnologia de informação. Cada vez mais estão surgindo soluções tanto para as obras quanto para nós, locadores”, afirma Pizzato.
Já Patricia Villanueva é proprietária da Garbo Locações, que trabalha com materiais para eventos. O negócio foi fundado em 2008, numa época em que o mercado de locações era carente dentro do segmento de eventos. Hoje, esse mercado já está estabelecido e se torna cada vez mais conhecido do grande público, aponta ela.
“Existe há muito tempo a locação, mas as pessoas desconheciam. Hoje, temos uma mudança de paradigma, inclusive com as mídias sociais ajudando muito para essa divulgação. Antes, o anfitrião ou tinha em casa, ou emprestava de outras pessoas ou contratava um buffet com toda a louça. Hoje, porém, muitas pessoas moram em apartamentos, são espaços pequenos e não tem mais onde armazenar tudo o que precisa para um evento. É um mercado que tem bastante futuro”, destaca a empresária.

Crescimento mesmo em meio à pandemia da Covid-19
Com o mercado da construção aquecido mesmo em meio à pandemia de Covid-19, os últimos anos foram de investimento e crescimento para a iEquipo Locações, afirma Lucas Lupack Pizzato. “Vimos um aumento na procura dos clientes pelos equipamentos, tanto de pessoa física quanto jurídica, desde pequenas reformas a obras e construções de grande porte”, diz o gerente, ressaltando ainda que o segundo semestre de 2022 já ficou marcado por uma desaceleração na demanda.
Segundo Pizzato, a locação é uma forma de facilitar as etapas da obra oferecendo ao cliente vantagens diversas. “O custo de locação é muito menor que o custo de investimento de compra de um equipamento novo. Na locação, o cliente não tem os custos de depreciação do bem, custos de manutenção, custo de armazenagem. Além disso, fica à disposição do consumidor uma gama de produtos e nós procuramos sempre direcionar o cliente conforme o serviço”, explica ele, afirmando ainda que os clientes que locam equipamentos de construção civil atuam em diversos setores, não se limitando apenas aos profissionais da área.
Para alugar equipamentos com a iEquipo, o cliente deve fazer um cadastro (que pode ser realizado online, via site ou WhatsApp, ou diretamente na loja).apresentando documento com foto, comprovante de residência e passando por uma análise de crédito. Dando tudo certo, é possível já alugar a ferramenta desejada pelo tempo necessário.
É possível fazer a retirada do equipamento diretamente na loja ou através de frete para toda a cidade de Curitiba e região metropolitana.

Demanda ficou reprimida e voltou com tudo em 2022
Já para a Garbo Locações, o período de pandemia foi um tempo de dificuldade. “Meu negócio depende da aglomeração de pessoas. Fiquei um ano e meio com a empresa fechada, mas 2022 foi um ano muito intenso. Existia uma demanda reprimida muito grande, diversos eventos remarcados, formaturas… Foi um ano impressionante, nunca trabalhei tanto na vida”, afirma Patricia Villanueva, prevendo que 2023 já será um ano ‘normal’, com movimentação parecida ao que se tinha antes da Covid-19.
“Eu diria que já cheguei onde eu tinha parado [em 2019, começo de 2020], que era pensar em fazer investimentos na própria empresa e, inclusive, fiz esses investimentos, aumentei o estoque físico e comprei mais material”, diz a empresária, que oferece produtos para locação por diária, sendo possível que a pessoa (física ou jurídica) loque apenas um item ou vários deles.
“A locação varia entre 5 e 15% do valor do bem, então vale muito a pena. Tem gente que gosta de comprar, aí teria de armazenar e esse espaço não está disponível para muita gente. Nós somos o estoque do cliente e, no meu caso, os buffets são os maiores clientes, mas atendemos todo tipo de pessoa e tanto eventos particulares como corporativos”, aponta ainda ela.

Expansão exige maior profissionalização, aponta Associação
Segundo a ALEC, a franca expansão do mercado de locação de bens móveis tem sido notável. Em 2021, por exemplo, o mercado de locação de máquinas para a indústria movimentou aproximadamente R$ 21 bilhões e a expectativa para 2022 era de 25 bilhões. Mas para atender a demanda crescente de consumidores e manter o bom momento do setor, é necessário investir na profissionalização do mercado rental também.
Por isso a Associação, em seu planejamento de 2023, prevê a realização de 16 edições do evento ALUGAR REGIONAL, um encontro de locadores em que são apresentadas palestras com assuntos pertinentes ao negócio de locação. Nesse ano, os temas selecionados são manutenção dos equipamentos e normas de segurança, sendo que o primeiro tema foi escolhido por ser uma das “dores” do locador, impactando no faturamento da locadora e, quando negligenciada ou mal avaliada, colocando em risco a segurança do usuário do equipamento
“A ALEC está organizando o evento ALUGAR REGIONAL em outras praças nesse ano para que mais locadores possam participar e entender a importância de se profissionalizar cada vez mais. Nós, locadores, não só alugamos equipamentos, nós solucionamos o problema do cliente com segurança. Temos esse compromisso”, afirma Alexandre Forjaz, presidente da ALEC.
Na região Sul, os municípios de Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC) receberão o evento, que ainda não tem previsão para acontecer no Paraná.