Elas vão à luta: mulheres rompem estereótipos e se destacam até nas artes marciais como a capoeira e jiu-jítsu

A presença de professoras acabou atraindo alunas para as atividades, que são majoritariamente praticadas por homens

Redação Bem Paraná
CAPOEIRA

Aula de capoeira em academia de Curitiba reúne muitas mulheres: idade não faz nenhuma diferença (Cassiano Rosário)

Historicamente, o mundo dos esportes teve domínio masculino. E as mulheres, por sua vez, enfrentam barreiras em diversos setores da sociedade. E quando o assunto é cargo de liderança no cenário esportivo, o desafio fica ainda mais evidente. Na contramão dos preconceitos, uma academia de Curitiba, a Cia Athletica, possui representatividade feminina, especialmente por contar com professoras em seu quadro profissional.

O espaço que as mulheres ganharam para lecionar acabou atraindo alunas para as artes marciais que são majoritariamente praticadas por homens, como o jiu-jítsu e capoeira. A professora de capoeira Renata Arlant comenta que, atualmente, sua turma é composta por mulheres entre 40 e 75 anos. Há apenas quatro homens.

Na opinião da advogada Maira Oliveira, que é uma das alunas de Arlant, as mulheres sentem-se acolhidas e representadas quando há uma figura feminina ministrando aulas. “Eu fico muito feliz que profissionais assim existam e gostaria muito que tivesse o devido reconhecimento, que o pagamento fosse equiparado ao pagamento de homens (…) Que mais mulheres pudessem também procurar profissionais mulheres, não exclusivamente, mas também, porque ela nos entende, ela é uma mulher. Os homens estudam, ela também estuda, mas também sente na pele as nossas dificuldades enquanto mulher, enquanto períodos hormonais, entre outras coisas”, diz a advogada.

A musicalidade, dança e luta foram as características que atraíram Ivete Carmem, de 69 anos, para a capoeira. Nessa arte marcial que tem origem afro-brasileira não há espaço para o etarismo, pessoas de todas as idades são bem-vindas.

Há quase um ano praticando o esporte, Ivete comenta que hoje consegue fazer movimentos que jamais imaginou um dia aprender.

“Conhecer a história da capoeira, os instrumentos e a disciplina me fizeram bem, não só por ser uma aula divertida, mas estou aprendendo a desenvolver movimentos de agilidade, força, coordenação e controle emocional também”, conta Ivete.

Aulas de capoeira na Cia Athletica de Curitiba vem atraindo muitas mulheres: idade não importa (Cassiano Rosário)

Superando o preconceito com amor

Renata Arlant, mestre e professora de Capoeira na Cia Athletica de Curitiba há oito anos, fala da sua experiência sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres dentro da capoeira. “Dentro da capoeira, sempre houve e sempre haverá preconceito quanto a ser uma professora”, afirma Renata.

“É difícil as mulheres chegarem na graduação que eu cheguei. São poucas, são bem poucas”, desabafa.

Renata destaca a disparidade de gênero que persiste no esporte, onde as mulheres muitas vezes são subestimadas e enfrentam resistência ao progredir na arte marcial.
“Eu sempre fui taxada como a mulher dando aula. Ah, não sei se eu vou fazer aula com ela. Ah, prefiro aula com o mestre”, compartilha, refletindo sobre os estereótipos de gênero que ainda permeiam o mundo da capoeira.

“Na Capoeira ela [Renata] é fera! É um mundo extremamente masculino, apesar de muitas capoeiristas mulheres. Quem sempre está na mídia é o homem, um mestre. Renata, ou professora Sininho (seu nome na capoeira), não fica atrás. Pelo contrário, está à frente de muitos capoeiristas”, diz a aluna Maira Oliveira.

Apesar dos desafios, Renata encontrou apoio em seu mestre e na comunidade da capoeira, o que a ajudou a superar as barreiras e se destacar como uma profissional respeitada na sua área, e hoje comanda uma das aulas de maior procura dentro da academia, que são as aulas de capoeira para adultos.

Já Francielli Terna, atleta e professora de Jiu-Jitsu na mesma academia, compartilha perspectivas semelhantes sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no esporte. “O preconceito nas modalidades de combate em relação às praticantes mulheres existe de forma milenar, porém a minha força de vontade , o amor que eu tenho, e como eu me sinto ao praticar o jiu-jítsu me faz não dar força aos preconceitos, eu simplesmente faço o que eu amo!”, ressalta.

Francielli destaca a persistência do preconceito de gênero e a preferência muitas vezes dada aos instrutores do sexo masculino, mesmo em esportes como o jiu-jitsu.

No entanto, assim como Renata, Francielli encontrou força em sua paixão pelo esporte e perseverança em seu caminho para o sucesso.

Em um mundo onde o preconceito de gênero ainda é uma realidade, histórias como a de Renata e Francielli destacam a importância da igualdade de oportunidades e do reconhecimento do talento e dedicação das mulheres no esporte.

À medida que mais vozes se levantam para enfrentar esses desafios, pode-se esperar um futuro mais inclusivo e equitativo para as mulheres no mundo do esporte.