O advogado Diogo Cristino Sierra, contratado pelo traficante Romilton Queiroz Hosi – homem de confiança do chefão do crime organizado Fernandinho Beira-Mar -, afirmou à Polícia Federal que não conhece o advogado Luiz Pires Moraes Neto, alvo da Operação Churrascada por ter viajado ao Paraguai onde teria apanhado uma propina de R$ 1 milhão em dinheiro vivo supostamente destinada ao desembargador Ivo de Almeida, do Tribunal de Justiça de São Paulo.

O magistrado é o principal investigado da Operação Churrascada, que espreita suposto esquema de venda de sentenças na Corte paulista. Ivo de Almeida nega enfaticamente a prática de ilícitos. Por meio de seus advogados, ele repudia as suspeitas da Procuradoria-Geral da República e da PF que lhe atribuem atos de corrupção e até rachadinha em seu gabinete.

Segundo a Procuradoria-Geral da República, a propina de R$ 1 milhão teria sido ‘encomendada’ para pagamento de um habeas corpus em favor de Romilton Hosi. Mas os investigadores acreditam que esse dinheiro não chegou às mãos de Ivo de Almeida – para que o habeas fosse concedido seria necessário o voto favorável de mais um magistrado, pelo menos.

Em seu depoimento à PF, o advogado Diogo Cristino Sierra negou ter ligação com Luís Pires Moraes Neto, suposto emissário da propina para o habeas corpus de Romilton Hosi.

Sierra também negou ter sido orientado a direcionar pedidos referentes ao traficante para a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, da qual é presidente Ivo de Almeida – em junho passado, o desembargador foi afastado em junho das funções, por ordem do ministro Og Fernandes, relator da Churrascada no Superior Tribunal de Justiça.

Os investigadores põem sob suspeita quatro casos em que Ivo de Almeida supostamente teria negociado e vendido decisões judiciais – o episódio mais emblemático é que envolve o aliado de Beira-Mar.

Hosi foi preso em abril de 2002, acusado de ser o dono de uma partida de 449 quilos de cocaína. Ele passou um longo tempo foragido. Foi preso em março de 2019 e condenado a 39 anos de prisão por tráfico de drogas, porte ilegal de arma, uso de documento falso e associação para o tráfico.

A Procuradoria-Geral da República sustenta que Hosi fugiu do Fórum de Campo Grande em 2002 após suposto pagamento de uma outra propina de R$ 1 milhão a policiais.

Nas investigações da Operação Churrascada sobre o caso do narcotraficante, a Procuradoria suspeita de “conluio fraudulento entre advogados para direcionar a distribuição de processos e procedimentos de interesse do imputado à 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo”.

Os processos de Romilton Hosi, inicialmente, eram analisados pela 6ª Câmara Criminal do TJ, mas advogados investigados teriam achado uma brecha para que o caso fosse deslocado para a Câmara de Ivo de Almeida.

À PF, Sierra afirmou que, enquanto representante de Hosi, não foi orientado a direcionar os recursos ao colegiado da 1.ª Camara Criminal. Ele sustenta que o primeiro recurso que impetrou no caso do traficante foi distribuído direto para a 1.ª Câmara e que os demais pedidos foram encaminhados para o grupo por prevenção.

Segundo o advogado, um recurso foi direcionado à 6ª Câmara Criminal e ele, então, pediu encaminhamento do caso à 1ª Câmara porque acreditava ser ela “preventa”.

Diogo Sierra afirmou à PF que não conhece o advogado Luiz Pires Moraes Neto – preso em setembro pela Polícia Federal, após ficar foragido três meses da OPeração Churrascada – e nem o guarda civil Wellington, que, segundo a investigação, também negociava a venda de decisões judiciais com interlocutores do desembargador.

Luiz e Wellington teriam ajustado o pagamento de propina de R$ 1 milhão para Ivo em troca de decisão favorável no caso de Hosi, diz a PGR. O primeiro teria ido até o Paraguai para buscar o dinheiro, mas a vantagem indevida não foi paga, segundo a Procuradoria, porque seria necessário corromper mais magistrados da Câmara Criminal de Ivo de Almeida.

Sierra contou ainda que herdou o processo de Hosi de seu pai, que era “advogado de confiança” do traficante. Ele disse que seu pai nunca comentou que conhecesse Luiz Pires e nem que o encontrou na penitenciária, quando visitava Hosi. Segundo o advogado, sua família “sempre trabalhou dentro da legalidade”