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Mobilidade urbana em pauta: com quase 1,58 milhão de veículos, Curitiba é uma das cidades mais motorizadas do Brasil (Foto: Detran-PR)

Curitiba é referência em mobilidade desde a criação do BRT (Bus Rapid Transit), com a implementação de vias exclusivas para ônibus (as canaletas). Mas como garantir que a cidade, hoje uma das mais motorizadas de todo o Brasil, seguirá sendo destaque nacional e internacional no tópico? É isso o que os candidatos a prefeito do município respondem na terceira reportagem temática do Bem Paraná.

De acordo com dados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), a capital paranaense possui uma frota de 1,58 milhão de veículos cadastrados. Para se ter dimensão do que isso representa, é como se Curitiba tivesse 86 carros carro para cada 100 habitantes.

Um Caderno Técnico sobre Mobilidade Urbana publicado pelo Crea-PR aponta que a única solução para o trânsito curitibano seria reduzir o número de carros circulando. Na época do estudo, divulgado em 2019, a cidade possuía uma frota de 1,42 milhão de veículos.

“Não há obra que dê conta para que todos tenham carro. O espaço viário é limitado. Pode-se melhorar pontualmente, em áreas periféricas, mas não vai muito longe do que está aí. Não tem solução a não ser reduzir o número de automóveis”, chegou a afirmar o Engenheiro Civil Valter Fanini, um dos autores da pesquisa.

Quais seriam, então, as opções para a Cidade Modelo lidar com a questão? A construção de um metrô, por exemplo, é um sonho (e não raro uma promessa) antigo. O investimento em integração e o incentivo ao uso de outros modais, como a bicicleta, também é assunto recorrente. E abaixo, você confere as propostas dos candidatos a prefeito de Curitiba para garantir que a cidade siga sendo uma referência em mobilidade urbana.

Veja as outras reportagens da série que já saíram:

Confira as respostas de cada candidato a prefeito de Curitiba acerca da mobilidade urbana na cidade

Pergunta apresentada aos candidatos:

Curitiba é hoje uma das cidades mais motorizadas do Brasil, com mais de 1,58 milhão de veículos cadastrados no município, segundo informações do Detran-PR. O Crea-PR já apontou que a única solução para o transporte na Capital seria reduzir o número de automóveis. Com isso tudo em vista, quais as propostas no tocante à mobilidade urbana? Quais as estratégias, por exemplo, para incrementar o uso de bicicletas na cidade? E a construção de um metrô em Curitiba, é uma possibilidade?

Cristina Graeml (PMB)

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Cristina Graeml: bicicletas, transporte público e novos modais como parte de uma rede que torne a mobilidade urbana mais eficiente (Foto: Franklin de Freitas)

“Nosso plano de governo traz propostas que vão da ampliação e manutenção da rede de ciclovias à implantação de um novo modal de transporte coletivo, sem esquecer da reorganização dos limites de velocidade das ruas, reestudo da quantidade e localização dos radares e da cobrança de estacionamento regulamentado EstaR nos bairros.

Com exceção da ruas em que há ciclovias junto com faixas de rolagem de carros, as placas de 30 e 50km/h serão retiradas já nos primeiros dias de governo para que o curitibano volte à lógica com a qual sempre dirigiu: 60km/h nas vias rápidas e 40km/h nas ruas de bairro.

Os investimentos em infraestrutura cicloviária preveem a revitalização das ciclovias já existentes, melhora da sinalização e segurança, e a criação de novas rotas para incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte. Além disso, a gestão apresentará programas de incentivo ao uso de bicicletas elétricas e compartilhadas.

Quanto ao transporte coletivo, dois modais estão em estudo: Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e trens aéreos (monotrilho). Ambos são mais baratos e de implantação mais fácil do que o metrô subterrâneo, podendo ser integrados ao atual sistema.

Também estamos comprometidos com a modernização dos corredores de BRT e a renovação da frota de ônibus, com veículos menos poluentes. Para baratear a passagem de ônibus, pretendemos investir em tecnologia de forma que o usuário pague por quilômetro rodado.”

Eduardo Pimentel (PSD)

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Eduardo Pimentel: tarifa zero para desempregados no transporte público e passagem mais barata no “domingão” (Foto: Franklin de Freitas)

“Vamos avançar no compromisso da atual gestão de propor uma Curitiba com menos carros circulando, trânsito sob controle e valorização do transporte público e dos novos modais. São iniciativas que aliam apoio ao crescimento econômico sustentável às pautas de impacto ambiental e social.

Grandes obras de mobilidade urbana que desatam nós do trânsito e melhoram o ir e vir nos bairros e avançam na integração com a Região Metropolitana serão executadas. Pontes, viadutos, correções geométricas, trincheiras, rotatórias, binários e até trinários são algumas das intervenções que serão realizadas na gestão.

Serão implantados 125 km por ano de asfalto novo no lugar de antipó, em obras chamadas de “pavimentação completa”, com asfalto novo e calçada refeita ou nova e meio fio.

O programa Caminhar Melhor vai entrar em uma nova fase, com 200 km de calçadas acessíveis (revitalizadas ou implantadas), em quatro anos, para os 22% da população que andam a pé.

E para quem se locomove de bicicleta pela cidade, vai ser implementada a nova fase do Plano Cicloviário. As estruturas cicloviárias vão chegar a 400 km até o fim de 2025.

Curitiba já oferece o melhor e mais integrado transporte público do Brasil. Agora, alinhado ao compromisso de tornar Curitiba cada vez mais inclusiva, propomos novos benefícios para quem mais precisa usar o transporte público e para atrair usuários em dias de baixa demanda: ‘Tarifa Zero Para Quem Precisa’ (desempregados) e ‘Domingão Paga Meia’.”

Felipe Bombardelli (PCO)

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Felipe Bombardelli: crítica às ciclovias, investimento em metrô e fim da “indústria de multas” (Foto: Divulgação/TSE)

“O PCO critica as ciclovias, pois, muitas vezes, elas são apenas uma desculpa para as prefeituras lucrarem com as construções, sem oferecer uma solução efetiva para os problemas de trânsito. Os trabalhadores que moram longe de seus locais de trabalho não têm condições de percorrer longas distâncias de bicicleta. Portanto, o investimento em um transporte público de qualidade, incluindo uma ampla malha de metrô e transporte gratuito, seria muito mais importante e eficiente para resolver o problema do que as ciclovias, que são utilizadas por uma minoria nas cidades. E falando de metrô, o de Curitiba nunca se torna uma realidade, pois é um investimento alto, e os governos capitalistas estão muito mais preocupados em repassar o dinheiro público para os bancos do que em resolver os problemas da população.

O Partido da Causa Operária também defende o fim da chamada “indústria de multas”, pois a instalação de radares com diferentes limites de velocidade cria confusão, em vez de educar os motoristas. Esses radares servem mais para multar e arrecadar dinheiro do que para promover a segurança no trânsito, e o valor arrecadado não é investido na solução dos problemas das vidas da cidade. Para reduzir efetivamente os acidentes, a prefeitura deve priorizar a manutenção de um asfalto de qualidade, garantir uma boa iluminação pública e uma sinalização clara e eficiente, além de calçadas e plataformas adequadas para os pedestres. Ruas e calçadas esburacadas, vias mal sinalizadas e a falta de passarelas para os pedestres representam riscos maiores para os motoristas, podendo causar mais acidentes do que a própria velocidade dos veículos.

Luciano Ducci (PSB)

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Luciano Ducci: incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte e possibilidade de implementação de um metrô ou outra alternativa de transporte de massa (Foto: Franklin de Freitas)

“As bicicletas terão atenção especial em nossa gestão, principalmente para quem usa como meio de transporte, para ir ao trabalho. A ideia é integrar as bicicletas aos ônibus, com bicicletários nos terminais, assim como, aumentar a oferta de ciclovias e a revitalização das que já existem. O metrô é também uma possibilidade real para a cidade, assim como o VLT e outras formas de transporte de massa. Não dá para imaginar Curitiba sem metrô ou sem outra alternativa de transporte daqui a uma, duas décadas, e é preciso ter coragem para buscar os recursos e começar. Sem isso, jamais teremos outra opção de transporte.”

Luizão Goulart (Solidariedade)

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Luizão Goulart (Foto: Franklin de Freitas)

“A melhor alternativa para melhorar o trânsito de Curitiba é tornar o transporte público mais atrativo. Isso deve começar pela redução da tarifa, que hoje é uma das mais caras do Brasil.

Também é necessário criar e implementar novos modais, tal como a facilitação dos modais já existentes, como, a melhoria do sistema de transporte coletivo, com ônibus modernos, eficientes e ecológicos, a criação de ciclovias em toda a cidade – além da região central, para o incentivo ao uso da bicicleta.

Uma cidade que evolui e pensa no futuro deve considerar a inovação, por isso quero retomar estudos do metrô e fazer novas pesquisas acerca da implantação do VLT. Entretanto, ambos desses modais devem funcionar de forma integrada entre Curitiba e região metropolitana, para trazer mais conforto e otimização de tempo para nossa população.”

Maria Victoria (PP)

DEBATE DOS CANDIDATOS A  PREFEITURA DE CURITIBA
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Maria Victoria: tarifa sabadeira, domingueira e passagem a R$ 1 para estudantes (Foto: Franklin de Freitas)

“O sistema de transporte de Curitiba perdeu 30 % dos passageiros nos últimos 10 anos. Temos um grande desafio aí.

Como prefeita e pensando no futuro das novas gerações e do planeta, quero criar uma cultura do uso do transporte coletivo e que é condizente com a cidade. Isso vai tirar muitos carros da rua e melhorar a fluidez do trânsito.

Vou criar a Tarifa Estudantil a R$ 1. Uma tarifa única para todos os estudantes que vai diminuir a evasão escolar e aumentar o acesso à educação.

Teremos também a sabadeira, domingueira e vamos trabalhar na licitação de 2025 para que Curitiba volte a ter um sistema atraente para a população.

Vou expandir a rede de ciclovias para as regiões periféricas e atender de forma estratégica a população que utiliza a bicicleta como deslocamento para o trabalho.

Sobre o metrô, sejamos francos, a construção de algo eficiente para atender a população demandaria muitos recursos públicos. Sou a favor da otimização para a melhoria do sistema de transporte público, para a ampliação do nosso BRT, que é um orgulho curitibano, e para implantação de modais mais baratos de superfície, como é o caso do VLP (Veículo Leve sobre Pneus). No caso de Curitiba, é muito mais lógica a construção do VLP ligando a Rodoferroviária ao Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Essa linha faria parte da integração com a rede atual, criando uma conexão ágil, limpa e eficiente com uma das cidades mais importantes da Região Metropolitana.”

Ney Leprevost (União)

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Ney Leprevost: foco na modernização do BRT e criação de linha no corredor Santa Cândida-Pinheirinho com trechos subterrâneos e Wi-Fi gratuito (Foto: Franklin de Freitas)

“Curitiba enfrenta grandes desafios de mobilidade urbana devido ao elevado número de veículos, que resulta em congestionamentos e poluição. A construção de um metrô, inviável por questões geológicas e financeiras, não é uma solução prática. Assim, o foco está na expansão e modernização do Bus Rapid Transit (BRT), um sistema eficiente e econômico, além do desenvolvimento de estudos relacionados a implantação do VLT, que pode trazer avanços significativos para a cidade de Curitiba.

Propostas incluem a eletrificação da frota de ônibus, reduzindo emissões de carbono e melhorando a qualidade do ar, além da ampliação de faixas exclusivas para ônibus, garantindo mais rapidez e eficiência. A Linha Parque, uma proposta inovadora para o corredor Santa Cândida-Pinheirinho, prevê veículos 100% elétricos, tecnologia avançada para gestão de tráfego, Wi-Fi gratuito, e a criação de trechos subterrâneos, liberando espaço para jardins lineares e ciclovias. Essas iniciativas visam melhorar o transporte público e valorizar o espaço urbano, promovendo uma melhor qualidade de vida.

Serão implementados semáforos inteligentes, ajustados em tempo real ao fluxo de trânsito, e estudadas zonas de baixa emissão no centro, incentivando menos uso de automóveis. A participação comunitária será incentivada através de conselhos de mobilidade e programas educacionais, assegurando que as soluções atendam às reais necessidades dos cidadãos e promovam um ambiente urbano mais saudável e acessível.”

Professora Andrea Caldas (PSOL)

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Professora Andrea Caldas: promessa de resgatar o pioneirismo de Curitiba na mobilidade urbana (Foto: Franklin de Freitas)

Vamos reduzir a dependência dos automóveis em Curitiba investindo em transporte público de qualidade e a preços acessíveis. Isso inclui a criação de corredores exclusivos de ônibus, um subsídio progressivo para as tarifas, e a criação de zonas de baixa emissão, onde o acesso de veículos será restrito. Também propomos o fortalecimento de um Fundo Municipal de Mobilidade, financiado por uma taxação progressiva de grandes empreendimentos imobiliários e de empresas que mais poluem, garantindo transporte acessível e eficiente para todos.

Para incrementar o uso de bicicletas, pretendemos expandir a malha cicloviária para alcançar pelo menos 10% da malha viária total até 2028, além de integrar essa infraestrutura com o transporte público, criando estacionamentos de bicicletas em terminais e estações. Também planejamos ciclorrotas seguras em bairros.

A construção de um metrô é uma possibilidade que precisa ser considerada. No entanto, um projeto dessa magnitude depende de uma parceria sólida com os governos estadual e federal, especialmente para a obtenção de recursos. Estamos abertos a dialogar com essas esferas para viabilizar o metrô, desde que seja comprovada sua viabilidade. Enquanto isso, apostamos em alternativas como o fortalecimento do BRT, a modernização da frota de ônibus com veículos elétricos, e a avaliação de tecnologias como o VLT.

Com essas propostas, buscamos resgatar o pioneirismo de Curitiba em mobilidade urbana, promovendo uma cidade sustentável, inclusiva e voltada para as pessoas, não para os carros.”

Roberto Requião (Mobiliza)

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Roberto Requião: modernização do Ippuc e criação de um bilhete único semanal e mensal para uso ilimitado do transporte público (Foto: Franklin de Freitas)

“Nossa ideia é revolucionar a mobilidade urbana em nossa cidade. Ela passa pela modernização do Ippuc, investindo em nossos profissionais de planejamento urbano com educação continuada. Implementarei uma Agenda de Mobilidade inovadora, redistribuindo inteligentemente o fluxo de trânsito nos horários de pico, usando inclusive inteligência artificial.

Revitalizarei nossos terminais de ônibus, modernizando e estatizando a frota para reduzir tempos de espera e melhorar significativamente o serviço e o preço. Proponho uma revisão justa das tarifas, introduzindo um bilhete único semanal e mensal para uso ilimitado do transporte público integrado.

Desenvolverei um aplicativo inovador de transporte público, direcionando os lucros para melhorias no sistema e remuneração justa dos motoristas, além da redução dos valores para os usuários. Reformularei a política de infrações de trânsito, assegurando que sejam utilizadas para organizar nossa cidade, não como mera fonte de arrecadação, acabando com a indústria de multas.

Quanto ao metrô, embora pudesse aliviar o trânsito em certos corredores, considero uma solução cara e pouco eficaz para Curitiba. Em vez disso, focarei no aprimoramento de nosso sistema de ônibus e na revitalização dos bairros, descentralizando atividades econômicas e reduzindo a pressão sobre o transporte.

Com estas medidas, transformaremos Curitiba em um modelo de mobilidade urbana eficiente, sustentável e acessível a todos os cidadãos.”

Samuel de Mattos (PSTU)

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Samuel de Mattos: implementação de metrô ou trem para conectar a Capital com a região metropolitana e investimento em calçadas acessíveis (Foto: Franklin de Freitas)

“Primeiro, é necessário iniciar imediatamente um estudo de um transporte de massa, como metrô ou trem, que conecte Curitiba com a região metropolitana, e iniciar as obras o mais breve possível. Pois, se uma obra dessa envergadura levar, de forma proporcional, o mesmo tempo que a linha verde levou para ficar pronta, teremos metrô em Curitiba apenas no próximo século.

Segundo, a gestão atual da prefeitura de Curitiba gasta milhões em propaganda para dizer que é ecológica. Porém as ciclovias são praticamente inexistentes. Os ciclistas têm que disputar o espaço com os pedestres nas calçadas ou arriscar suas vidas disputando o espaço com os veículos nas ruas. Nós vamos ampliar as ruas com ciclovias, garantindo segurança e discutindo com os próprios ciclistas um projeto para que possamos incentivar o uso de bicicletas na cidade e a ampliação das ciclovias, como colocar bicicletas à disposição da população de forma gratuita.

Terceiro, é a situação das calçadas. Não existe mobilidade para as pessoas com deficiência, como rampas para cadeirantes ou piso tátil direcional para pessoas com deficiência visual. O que descumpre o estatuto da pessoa com deficiência. São buracos, elevações, pedras soltas e por aí vai, o que acaba colocando todos os pedestres, principalmente os idosos e pessoas com deficiência, em situações de risco de queda, como recorrentemente acontece. Por isso, vamos revitalizar todas as calçadas garantindo a acessibilidade e as tornando um lugar seguro para os pedestres.”