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Foto: Franklin de Freitas

O candidato do PSTU a prefeito de Curitiba, Samuel de Mattos foi o primeiro entrevistado da Sabatina do Bem Paraná. Em entrevista às jornalistas Martha Feldens, Katia Brembatti e Lenise Aubrift Klenk, ele explicou porque acredita que a eleição é uma farsa, defendeu o metrô e que todos os funcionários da prefeitura sejam concursados. A entrevista na íntegra está disponível no You Tube.


Martha Feldens – O que é o PSTU? O que é que o partido pode fazer em uma Prefeitura de Curitiba dentro da ideologia de vocês?
Samuel de Mattos
– O PSTU é um partido socialista e revolucionário. O capitalismo só tem trazido mais miséria para o planeta, destruindo para o planeta. A produção não é para resolver os problemas do dia adia. Nosso programa pretende inverter essa lógica. Vamos produzir alimento para a necessidade, casas para necessidade. Não é socialismo que tem na Venezuela, Cuba e China. Na Prefeitura podemos fazer muitas coisas, como reduzir salário de prefeitos e vereadores e chamar a população para as discussões e soluções de forma mais ativa.

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Katia Brembatti – Você usa um botton da Palestina. O que a Palestina traz para a eleição de Curitiba, o que ele representa?
Samuel –
A gente defende a população da Palestina. No dia 7 de outubro, vai completar um ano do conflito entre a Palestina, com mais de 40 mil mortos, dentre elas 16 mil crianças, fora as milhares de amputados. Mais de 80% dos edifícios da Palestina foram destruídos. Nós se colocamos a favor do povo palestino. É um genocídio. A gente traz isso para a campanha porque há uma confusão muito grande sobre o que acontece lá. Nós somos um partido ideológico, nós defendemos o que acreditamos. Tem muita gente que não entende e diz que não vai votar em nós porque somos terroristas.

Lenise Aubrift Klenk – Vocês dizem que a eleição é uma farsa. Qual o risco desse discurso ser confundido com o da extrema direita, que tentou um golpe? Vocês não tem medo de confundir a população?
Samuel –
Eu acho que não, porque nós nos posicionamos contra o governo Bolsonaro e n. A eleição é uma farsa, porque não temos tempo de TV. Temos dez candidatos, mas a maior parte não tem espaço. Nós não conseguimos chegar a dois milhões de pessoas com nossos panfletos. As pessoas não vão conhecer os dez candidatos e suas propostas. Os eleitores nem vai chegar a conhecer o Samuel e as propostas do PSTU. A legislação é feita pelos parlamentares e partidos que estão no poder e beneficiam eles mesmos. Nós não vamos conseguir a chegar a R$ 50 mil de recursos de campanha, enquanto o candidato do PSD, Eduardo Pimentel (PSD) tem R$ 7 milhões. Existe uma disparidade muito grande que impede uma disputa justa. A maioria das pessoas que estão balançando bandeira para os candidatos não está lá porque acredita, mas porque está desempregado e ganha R$ 100 por dia.

Lenise – A extrema direita apontava fraude nas eleições. A linha que divide a extrema direita e a extrema esquerda não está muito próxima? Como vocês se posicionaram contra os ataques da democracia?
Samuel –
Defendemos o mesmo tempo de TV. O Fundo Eleitoral tem muito dinheiro e deveria ser dividido igualmente. Queremos uma eleição justa. Nós defendemos que Bolsonaro seja preso, e não somente pelos ataques à democracia, a tentativa de golpe, mas principalmente por causa do papel que exerceu na pandemia. Nós passamos de 700 mil mortos por Covid. Nós não temos nada a ver com a extrema direita. O Bolsonaro não questiona as regras da eleição, porque ele é beneficiado também.

Martha – Eu vi no DivulgaCand da Justiça Eleitoral que você tem uma receita de R$ R$ 43.435 reais, dos quais R$ 41.400 vem do fundo eleitoral. Vocês são a favor do Fundo Eleitoral, mas com uma divisão diferente?
Samuel –
Nós acreditamos em 100% de Financiamento Público para evitar interesses. Tivemos um caso recente no Paraná. Do presidente da Assembleia, deputado Ademar Traiano, que recebeu dinheiro de um empresário em licitação de canal de TV. Falou-se pouco deste empresário, mas ele deve ter se beneficiado muito também. A gente vê toda hora esse tipo de escândalo.

Katia – Tem muita gente que é contra o financiamento público de campanha eleitoral porque não acha certo que esse dinheiro saia da saúde, da educação para isso. O caminho é que o dinheiro do fundo saia dos impostos?
Samuel –
Não é isso. O fundo desta campanha é de R$ 4,9 bilhões. Queremos que esse valor seja reduzido, pelo menos pela metade e que seja dividido em partes iguais. A partir do momento que você ter tempo na TV.

“Queremos estatizar o transporte público em Curitiba”, diz Samuel de Mattos

Katia – Porto Alegre é uma das poucas capitais Brasileiras que tem parte do transporte público nas mãos de uma empresa estatal, que é alvo de críticas por causa de problemas de gestão e frota ultrapassada. Sua proposta de estatizar o transporte público em Curitiba não esbarra na necessidade de dinheiro para investimentos e em agilidade na administração? Este exemplo de Porto Alegre não é um exemplo que a estatização não é um bom caminho para Curitiba?
Samuel –
A realidade que temos em Curitiba de ônibus cheio, espera no ponto não é um privilégio de Curitiba. É no país inteiro. A lógica das empresas privadas de transporte é gerar lucro. E aqui em Curitiba tem o problema de pagar por passageiro e não por quilômetro rodado. Então, se a empresa colocar 100 pessoas dentro de um ônibus, ela vai lucrar mais. A realidade é que a pessoas demora de 1 a 3 horas para ir de casa ao trabalho. Queremos estatizar.

Katia – Mas de onde viria o dinheiro para essa estatização?
Samuel –
gente defende que os mais ricos paguem mais imposto.

Katia – Mais isso seria uma lei federal?
Samuel –
Sim, mas queremos mudar isso. Eles ganhem dinheiro explorando o trabalho humano. Queremos saber quanto essas empresas de transporte de Curitiba lucram. Tiraram até os cobradores.

Katia – Mas qual o modelo de transporte coletivo do mundo seria ideal para Curitiba? Você teria um exemplo de uma cidade no mundo?
Samuel –
No mundo? A gente quer fazer o nosso modelo.

Lenise – Você critica a proposta de um candidato que prevê um VLT de Curitiba para o Aeroporto Afonso Pena, dando a entender que isso beneficiaria os mais abastados. Para você que é trabalhador e de um partido que defende os trabalhadores, qual é o nó do transporte coletivo de Curitiba? Qual seria a primeira obra emergencial? Qual região seria beneficiada?
Samuel –
Nós temos 75 bairros em Curitiba e o CIC é a região mais populosa da cidade. Teríamos que discutir algum elemento levando em conta esse dado. Queremos começar a discutir imediatamente o metrô para a cidade e que ligue com as cidades da Região Metropolitana. Temos que discutir com a população isso.

Lenise – O metrô é um projeto extremamente custoso que depende do dinheiro do governo federal. Já tentaram fazer várias vezes. Você sabe quanto custaria? De onde viria o dinheiro?
Samuel –
Queremos cobrar do governo federal esse investimento. O metrô é fundamental para a gente, porque a cidade cresceu. Temos muitos carros na rua também porque o transporte coletivo é caro. Não podemos pensar na obra para dar lucro, mas para que as pessoas tenham a qualidade de vida. Temos que pensar também no meio ambiente. Vai ser muito bom. Por exemplo, o governo federal deu várias isenções para empresas e pode taxar mais os milionários. Há como redirecionar dinheiro. É uma obra para a qualidade de vida das pessoas. Por exemplo, menos acidente de trânsito mais saúde mental.

Mudanças climáticas: “Os cuidados individuais são importantes, mas a destruição vem das grandes empresas”

Martha – O que você pensa que pode ser feito como prefeito de Curitiba na questão da mudança climática?
Samuel –
A gente viu o Rio Grande do Sul, seca no Amazonas. Para gente, os cuidados individuais são muito importantes. Mas a grande destruição não vem do indivíduo, mas das grandes empresas. O Agro, por exemplo, consome 70% da água e metade é desperdiçada. A educação ambiental nas escolas é importante, crescendo em uma outra cultura. Isso é muito fundamental, assim como a recuperação dos rios. Temos de mais de 5 mil rios e córregos em péssimas condições. Recuperar a mata ciliar. E isso vai ter muito investimento, mas é importante.

Katia – Tem gente que acha que R$ 14 bilhões, o orçamento de Curitiba, é uma grana alta. Mas há limitações, como a Lei de Responsabilidade Fiscal. Tem um limite para contratar servidor e dar aumento. O que dá para fazer fora as despesas já definidas e executadas?
Samuel –
A gente é contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Em 2023, sobrou R$ 1 bilhão ainda dentro da lei, ouseja a prefeitura poderia ter investido em educação e saúde. Outro problema é a terceirização na Prefeitura de Curitiba. São mais de 20% do orçamento em terceirização.

“A terceirização enche bolso das empresas e gera uma ocupação precarizada”

Katia – Na sua gestão, todos os funcionários seriam públicos nas Prefeitura de Curitiba e haveria dinheiro para pagar todo mundo?
Samuel –
A terceirização enche o bolso das empresas e gera uma ocupação precarizada. Eu trabalho no Correio e lá tem muita gente terceirizada, que trabalham nos piores postam de trabalho. A pessoa fica doente, manda embora e com salários muitos baixos. Não achamos que seja digno.

Lenise- No último censo, as mulheres são 100 mil a mais que homens em Curitiba. O seu plano tem um manifesto anti machista. São várias propostas, outras sobre a segurança. Uma delas é garantir salário para as mães que não conseguiram terminar os estudos para que possam concluí-los. Quais outras propostas poderiam beneficiar as mulheres curitibanas? E de onde viria o dinheiro para fazer isso? De onde vem essa proposta?
Samuel –
Isso tem a ver com toda a desigualdade na sociedade que as mulheres passam. Tem a ver que as tarefas de cuidados da casa, cuidar dos filhos que são naturalmente das mulheres.

Katia – Naturalmente, não
Samuel –
Desculpe, culturalmente. Por isso, elas não conseguem terminar os estudos. Queremos dar mais autonomia para as mulheres. Sabemos que não é suficiente. Seria um auxílio, que importante diante da desigualdade.

“Para nós seria melhor uma companheira mulher na chapa, mas não foi possível”, diz Samuel de Mattos

Lenise – A participação das mulheres na política é baixíssima. Inclusive vocês são dois homens na chapa majoritária. O que falta para as mulheres participarem mais no PSTU? Como fazem para atrair elas para a discussão.
Samuel –
Para nós seria melhor uma companheira mulher na chapa, mas não foi possível pelos nossos militantes. Mas a discussão sobre as opressões é importante para nós. Existem muitas mulheres na política que atuam contra as mulheres. A gente reconhece a dificuldade de integrar as mulheres. Para um homem sair e discutir política no PSTU é fácil, para mulheres é difícil. Como elas vão sair para discutir política com homens. Há um machismo. Mas lutamos contra isso.

Martha – Você negociaria com empresas para conseguir mais empregos para as mulheres curitibanas?
Samuel –
Sem dúvida. A pessoa tem liberdade financeira, tudo melhora. Acho também que temos que avançar muito e precisamos de leis que garantam que as empresas flexibilizem para as mulheres, vagas para elas. Mas para isso precisamos de investimentos. Por isso precisamos pressionar o governo para liberar verbas nem que seja taxando os grandes empresários, do agronegócio.

Lenise – Vocês falam em delegar para a população participar da administração da cidade. Mas um dos desafios é estimular a população a participar disso? As audiências públicas que já acontecem parecem esvaziadas. Como você acha que é possível chamar a população para participar?
Samuel –
A experiência nas lutas das categorias existe. Queremos organizar conselhos nos bairros para que de fato as pessoas possam participar. O nosso programa é para ser implementado com os trabalhadores. Temos que tornar o cidadão ativo, participando diretamente da política. Queremos chegar no bairro e decidir se reformamos a praça ou o postinho. As pessoas não participam porque esses espaços não são deliberativos, são consultas. Outro fato é que as pessoas trabalham oito horas, demora duas horas para chegar em casa, como ele vai participar no dia de semana? E daí também entra a redução da carga de trabalho.

Bate-bola com Samuel de Mattos

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Onde é Curitiba é Justa e onde não é: Curitiba é mais justa no Batel e injusta no Caximba

Esquerda ou Direita: Esquerda Socialista

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