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Palácio 29 de Março, sede da Prefeitura de Curitiba. (Luiz Costa/SMCS)

Embora seja uma federação, o Brasil, através da Constituição Federal de 1988, optou por adotar um federalismo mais centralizado, que concentra em grande medida as tomadas de decisão e o grosso dos recursos públicos na União, nos Estados e, só depois, nos municípios. E ter consciência disso é importante na hora de ir às urnas nas eleições municipais, que ocorrem no próximo dia 6 de outubro.

Pensando nisso, então, a quinta reportagem temática da série do Bem Paraná com os candidatos a prefeito questiona os prefeitáveis sobre a forma como eles avaliam as gestões estadual e federal. Além disso, também pergunta aos políticos como seria a relação da Prefeitura de Curitiba com o Governo do Paraná e o Governo Federal numa possível gestão e quais seriam, também, os benefícios para a população curitibana a partir dessas relações.

Via de regra, como se verá a seguir, a promessa dos candidatos é de uma relação saudável e construtiva com outros governos. Candidatos mais à esquerda, naturalmente, aparecem mais associados ao governo federal, liderado pelo presidente Lula (PT). Já políticos de centro-direita ou de direita são mais elogiosos à gestão do governo do Paraná, chefiado por Ratinho Junior, mas prometem também deixar as ideologias de diálogo na busca por um diálogo intergovernamental construtivo.

Veja as outras reportagens da série que já saíram:

Confira as respostas de cada candidato a prefeito de Curitiba acerca das relações intergovernamentais

Pergunta apresentada aos candidatos:

Como avalia as gestões atuais dos governos estadual e federal? Numa possível gestão do senhor, como será a relação da Prefeitura de Curitiba com essas esferas de governo? E de que forma essa relação pode vir a beneficiar o município de Curitiba e seus cidadãos?

Cristina Graeml (PMB)

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Cristina Graeml: foco na capacidade de diálogo e cooperação entre as esferas de governo (Foto: Franklin de Freitas)

“É importante as pessoas terem a clareza de que como prefeita de Curitiba, independentemente de minhas opiniões pessoais, estarei fazendo a gestão das demandas de quase 2 milhões de Curitibanos, e isso é muito maior e mais importante que minhas opiniões pessoais. Acredito que a boa gestão pública depende da capacidade de diálogo e de cooperação entre as esferas de governo, sempre preservando a autonomia municipal e os interesses da cidade. A gestão estadual possui ações com resultados em algumas áreas sim, e preciso dizer que não encontro pontos positivos a mencionar sobre o governo federal.

Meu compromisso ao ser eleita é manter uma relação institucional com os governos estadual e federal, independentemente de diferenças ideológicas ou partidárias, o que é fundamental para garantir que Curitiba receba os recursos necessários para implementarmos tudo que queremos trazer para os curitibanos.

Minha postura republicana certamente fará com que Curitiba tenha os recursos necessários para acelerar projetos de infraestrutura, aumentar a segurança pública e melhorar a qualidade dos serviços essenciais, sempre com o objetivo de trazer mais qualidade de vida para nossa população e fazermos Curitiba voltar a ser o farol que ilumina os caminhos que serão seguidos pelo restante do Brasil.”

Eduardo Pimentel (PSD)

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Eduardo Pimentel: promessa é de um governo de paz política e diálogo (Foto: Franklin de Freitas)

“Eu terei um governo de paz política e diálogo. Tenho o apoio do governador Ratinho Júnior, de quem fui secretário das Cidades e com quem tive a honra de trabalhar em um governo que é referência por buscar o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e social, fazendo a economia rodar com a preservação do meio ambiente. Junto com o governador, viabilizamos R$ 103 milhões apenas para obras em Curitiba. Além disso, estão sendo investidos R$ 539 milhões em obras de saneamento na Região Metropolitana. A nossa capital vai ser a primeira do Brasil a ter 100% de esgoto tratado. Fizemos a reintegração do transporte coletivo com a Grande Curitiba, que havia sido desintegrado em 2015. E temos mais planos em conjunto com o Governo do Paraná, como o VLT Metropolitano, entre Curitiba e o aeroporto de São José dos Pinhais.

Eu digo que a ideologia do meu governo é o bem da população curitibana. O curitibano pode ter certeza que meu governo será pautado pelo diálogo e relação republicana, com muita tranquilidade para buscar apoio do Governo Federal e discutir projetos de desenvolvimento para nossa capital, para que os curitibanos sejam atendidos nas suas demandas. Temos vários investimentos em parceria com o Governo Federal. Já temos aprovados recursos de R$ 380 milhões do Novo PAC para a compra de 54 ônibus elétricos em 2025. Também contamos com recursos federais para obras nas áreas de macrodrenagem de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, sem contar os repasses constitucionais para Saúde e Educação.”

Felipe Bombardelli (PCO)

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Felipe Bombardelli: governo baseado em conselhos populares para uma democracia direta (Foto: Divulgação/TSE)

“O governo que defendemos, é um governo baseado em conselhos populares, o que possibilita uma democracia direta em que a classe operária desempenha um papel central na tomada de decisões políticas. Esses conselhos, formados por representantes eleitos diretamente das bases populares, funcionam de forma deliberativa e executiva, garantindo que as decisões sejam fundamentadas nas reais necessidades do povo. Diferente do sistema representativo tradicional, esse modelo prioriza a participação contínua e a mobilização popular, assegurando que o poder político esteja nas mãos daqueles que produzem a riqueza social, e não dos que apenas exploram a população.

Esse tipo de governo teria uma relação crítica com as demais instâncias, seja com governos de direita, que tradicionalmente defendem os interesses dos capitalistas, seja com governos da “esquerda institucional”, que frequentemente conciliam com essas mesmas forças. Em ambos os casos, o governo dos conselhos operários se manteria firme na defesa dos interesses da classe trabalhadora. E assim, a mobilização popular e as deliberações dos trabalhadores seriam a base de suas ações.”

Luciano Ducci (PSB)

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Luciano Ducci: relação “republicana” com o governo Ratinho Junior e “ótimas expectativas” com relação ao governo Lula (Foto: Franklin de Freitas)

“Tenho uma relação republicana com o governador Ratinho Junior e acredito que podemos ter importantes projetos em parceria com o governo do estado. Afinal, estamos falando da capital, Curitiba. E grandes gestões não podem ser isoladas, ao contrário, devem procurar parcerias, recursos para viabilizar projetos importantes. Em relação ao governo federal, tenho ótimas expectativas. Uma cidade só consegue dar um grande salto, investir em obras importantes, se puder contar com o apoio e os recursos do governo federal e é isso que vamos fazer. Em especial na área da mobilidade urbana e na questão social e de moradias, em Curitiba que precisam de uma atenção maior.”

Luizão Goulart (Solidariedade)

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Luizão Goulart: decisões serão pautadas no diálogo e respeito com os demais governos (Foto: Franklin de Freitas)

“Sempre pautei todas as minhas decisões com base no diálogo e respeito. Quando se trata de relações intergovernamentais, não foi diferente. Quando deputado, em Brasília, pude destinar muitos recursos para o nosso estado, especialmente para Curitiba e deixei muitas portas abertas por lá. Se eleito, pretendo buscar recursos, junto ao governo federal e estadual, para promover melhorias para nossa cidade. Atualmente o partido o qual faço parte e sou presidente estadual, o Solidariedade, é da base do governo do estado, e mantemos uma ótima relação.”

Maria Victoria (PP)

DEBATE DOS CANDIDATOS A  PREFEITURA DE CURITIBA
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Maria Victoria: Partido Progressistas seria garantia de uma ótima relação com todas as esferas de governo (Foto: Franklin de Freitas)

“[Nossa relação com as outras esferas de governo] Será a melhor relação possível. Nosso partido, o Progressistas, faz parte da base do governo Ratinho Júnior na Assembleia e compõe a gestão do Governo. Estivemos por oito anos juntos com o prefeito Rafael Greca ajudando a administrar a cidade. Inclusive fui a primeira e única candidata a apoiar Greca no 2º turno em 2016. Tenho orgulho de dizer que fui indicada pelo prefeito Greca para representar Curitiba junto ao Governo do Estado. E em Brasília temos a maior bancada federal do Progressistas do Brasil, não teremos dificuldade de construir uma ótima relação entre todas as esferas, pelo contrário tenho a tranquilidade de serão anos de muitos investimentos e parcerias. Temos bons projetos que serão desenvolvidos com o auxílio dos governo estadual e federal como o VLP da Avenida das Torres, a construção de novas creches e a execução de obras de infraestrutura em toda a cidade. Eu sou contra a polarização e o radicalismo. Acredito que a vida é feita de equilíbrio. A gente precisa de mais ideias. Ideias pra desenvolver a economia, melhorar a educação, a segurança e a saúde.”

Ney Leprevost (União)

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Ney Leprevost: promessa de articulação proativa, diálogo constante e cooperação estratégica com os governos estadual e federal (Foto: Franklin de Freitas)

“O governo Ratinho Júnior está muito bem avaliado no Paraná e eu sou um dos que aprovam a gestão. O governo Lula hoje não tem uma boa aprovação dos paranaenses, mas torço para que melhore, especialmente na economia e no desenvolvimento social.

Em uma gestão liderada por mim, a relação da Prefeitura de Curitiba com as esferas estadual e federal será marcada por articulação proativa, diálogo constante e cooperação estratégica. Acreditamos que, independentemente de diferenças políticas, é fundamental buscar parcerias que tragam benefícios concretos para os cidadãos, assegurando que Curitiba aproveite ao máximo os recursos e programas disponíveis.

Com o governo federal, vamos fortalecer a participação da cidade em programas fundamentais, como o Mais Médicos e o Fundo Nacional de Assistência Social. Além disso, buscaremos maior envolvimento em iniciativas como o PAC e intensificaremos a captação de recursos para ciência, tecnologia e inovação por meio de bolsas e projetos financiados pelo CNPq e pelo FNDCT.

Já com o governo estadual, manteremos e ampliaremos parcerias essenciais, como aquelas estabelecidas com a Fomento Paraná e a Sanepar. Também trabalharemos em Parcerias Público-Privadas, estimuladas pelo governo estadual, para atrair mais investimentos em infraestrutura, mobilidade urbana e urbanização de bairros.

Em suma, a nossa gestão verá a cooperação com o governo estadual e federal como um pilar estratégico, sempre focada em ampliar recursos e oportunidades que gerem impacto positivo na vida dos curitibanos.”

Professora Andrea Caldas (PSOL)

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(Foto: Franklin de Freitas)

Acreditamos que a relação com outras esferas de governo deve ser construída com diálogo e transparência, sempre priorizando os interesses da população. Em relação ao governo estadual, fazemos críticas contundentes à gestão atual na área da educação, destacando a política de militarização das escolas, que compromete o ambiente democrático e de livre pensamento; a terceirização de serviços essenciais, que precariza o trabalho dos profissionais; e as tentativas de privatização, que retiram o caráter público e inclusivo da educação paranaense. Defendemos uma educação pública, laica e de qualidade e, na minha gestão, manterei uma postura firme e ativa, cobrando do governo estadual maior responsabilidade e compromisso com as demandas locais, sem abrir mão de uma posição crítica e independente.

Quanto ao governo federal, reconhecemos pontos de aproximação, especialmente na justiça social e direitos humanos, mas mantemos uma postura ativa na cobrança pela revogação do Novo Ensino Médio, que prejudica a formação integral dos estudantes, e na defesa de políticas ambientais mais rigorosas, considerando que Curitiba deve estar na vanguarda da sustentabilidade.

Buscaremos uma relação de cooperação com o governo federal para atrair investimentos em áreas prioritárias como habitação, transporte público e saúde, sempre defendendo os interesses de Curitiba. Assim, Curitiba avançará com uma gestão democrática que prioriza os direitos e as necessidades dos cidadãos.”

Roberto Requião (Mobiliza)

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Roberto Requião diz que adotará uma postura “republicana e baseada no respeito mútuo” (Foto: Franklin de Freitas)

“Em relação às outras esferas de governo, minha postura será republicana e baseada no respeito mútuo. Quando fui governador, demonstrei essa abordagem ao apoiar a gestão do Beto Richa, mesmo sendo meu adversário político. Inclusive, no início de seu mandato, quando ele enfrentava dificuldades nas pesquisas, financiei a construção de postos de saúde na periferia da cidade.

Na minha gestão como prefeito, manterei essa postura republicana. Acredito que uma relação construtiva com os governos estadual e federal é fundamental para beneficiar Curitiba e seu povo. Buscarei parcerias e recursos para implementar projetos importantes para a cidade, sempre priorizando o interesse dos curitibanos.

Entendo que uma gestão eficiente passa pela colaboração com deputados e vereadores, independentemente de suas filiações partidárias. Meu compromisso será com Curitiba, e trabalharei com todas as esferas de governo e representantes políticos para alcançar os melhores resultados para nossa cidade.”

Samuel de Mattos (PSTU)

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Samuel de Mattos: PSTU quer uma relação de diálogo e exigência com outros governos (Foto: Franklin de Freitas)

Vamos governar a cidade apoiado em conselhos populares, organizados nos bairros. Nosso governo estará voltado para atender aos interesses dos trabalhadores e da população pobre e não dos super ricos. Portanto, será esta relação com os trabalhadores de Curitiba que balizará nossa relação com as demais esferas de governo.

Pretendemos estabelecer uma relação de diálogo e de exigência apoiado na mobilização da população para cobrar medidas que melhorem as condições de vida da nossa classe. Por exemplo: em relação ao governo do estado vamos exigir o fim da militarização e a privatização das escolas que precariza a educação dos filhos dos trabalhadores, vamos exigir mais investimentos na saúde e acabar com as terceirizações etc.

Em relação ao governo federal temos a mesma posição. Vamos começar cobrando investimento para construirmos um transporte de massa, como metrô para ligar Curitiba à região metropolitana, com o intuito de melhorar a vida de quem precisa trabalhar para sobreviver. Assim como exigir a revogação das reformas da previdência e trabalhista, que serviram para roubar nossa aposentadoria e legalizar a precarização do trabalho.

Agora o mais importante, tanto o governo estadual como o nacional têm obrigações com os municípios. Estas obrigações devem ser cumpridas independente de quem estiver no poder. É preciso acabar com essa história em que os governos privilegiam seus compadres com repasses de verbas e investimentos.

Não vamos nos calar diante deste tipo de situação. Vamos denunciar!”