Mais de 4 mil pessoas em situação de rua em Curitiba. Como os candidatos a prefeito vão lidar com a questão?

Rodolfo Luis Kowalski
MORADOR DE  RUA

População em situação de rua vem crescendo em Curitiba nos últimos anos, mostram dados oficiais (Foto: Franklin de Freitas/ Arquivo Bem Paraná)

De cada mil pessoas que vivem em Curitiba, duas estão em situação de rua. É o que revelam dados do Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal, os quais apontam que no período de um ano, entre setembro do ano passado e agosto deste ano o contingente de pessoas vivendo nas vias públicas da cidade teve crescimento de 16,6%, passando de 3.487 indivíduos para 4.064.

Considerando que a população estimada da Capital é de 1,83 milhão de pessoas, o contingente de moradores de rua seria equivalente a 0,22% da população. Uma proporção que fica abaixo da média de todas as capitais brasileiras (de 0,38%). Mas que ainda é bastante expressiva em número absoluto, tanto que Curitiba é a nona capital com mais gente sem moradia. Apenas São Paulo (85.530 pessoas em situação de rua), Rio de Janeiro (21.119), Belo Horizonte (13.689), Fortaleza (9.608), Salvador (9.437), Brasília (8.360), Boa Vista (5.325) e Porto Alegre (4.915) apresentam números maiores.

Além disso, os dados oficiais vem registrando, desde a pandemia de Covid-19, um crescimento recorrente do contingente de pessoas em situação de rua. E isso que os números do CadÚnico ainda podem estar subestimados e não devem, portanto, ser considerados como um censo oficial da população de rua, servindo mais como um indicador panorâmico.

Uma pessoa caída ou dormindo na rua por hora

Nos primeiros meses deste ano, por exemplo, cenas com pessoas caídas ou dormindo na rua foram recorrentes, com um registro por hora, em média.

Se consideradas todas as solicitações de abordagem social de rua, a Central 156 recebe uma demanda a cada 15 minutos. Essas situações envolvem, além das pessoas caídas ou dormindo na rua, pedidos de: ajuda para encontrar adultos desaparecidos; abordagem a pessoas alcoolizadas e/ou drogadas; abordagem de pessoas esmolando; Operação Inverno (ações para proteção da população vulnerável em dias de frio); abordagem de pessoas perdidas e/ou desorientadas; e abordagem de pessoas ou até famílias em desabrigo na rua.

Como, então, lidar com os problemas sociais de Curitiba e atender a demanda por assistência social existente na cidade? É o que os candidatos a prefeito respondem agora, na nona das dez reportagens da série temática que oportuniza aos políticos apresentarem suas opiniões e propostas.

Veja as outras reportagens da série que já saíram:

Confira as respostas de cada candidato a prefeito de Curitiba

Pergunta apresentada aos candidatos:

De acordo com dados do Cadastro Único, Curitiba reúne mais de 4 mil pessoas em situação de rua, reunindo ainda um contingente de quase 130 mil pessoas vivendo em situação de pobreza. Quais as proposições para lidar com a questão e as outras propostas para a gestão no tocante ao Serviço Social?

Cristina Graeml (PMB)

Cristina Graeml: programa “Trilha do Resgate” para oferecer ajuda terapêutica e religiosa às pessoas em situação de rua (Foto: Franklin de Freitas)

“A questão das pessoas em situação de rua exige uma abordagem humanizada. Nossa proposta é implementar o programa “Trilha do Resgate”, que vai além do acolhimento. Vamos oferecer assistência terapêutica e religiosa para que os moradores de rua para que eles resgatem a autoestima e aceitem a ajuda que a prefeitura oferece.

O objetivo é resgatar sua dignidade e inseri-las novamente na sociedade, oferecendo oportunidades reais de recomeço.

Além disso, utilizaremos o vasto universo de terapeutas holísticos de Curitiba, oferecendo abordagens alternativas para ajudar na recuperação emocional e mental dessas pessoas. Queremos criar centros de reintegração que, além de abrigar, capacitem e tratem os que mais precisam. Vamos também desenvolver parcerias com o setor privado para aumentar a oferta de trabalho para pessoas em situação de rua que estão aptas a retornar ao mercado.

Nosso compromisso é com soluções de longo prazo, que ofereçam inclusão, tratamento e, principalmente, dignidade, criando um caminho para que essas pessoas reconstruam suas vidas.”

Eduardo Pimentel (PSD)

Eduardo Pimentel: criação do aluguel social, cota de empregos para pessoas acolhidas das ruas e implantação de novas estruturas na cidade (Foto: Franklin de Freitas)

Propomos, entre outras coisas, o aluguel social permanente. Baseado no modelo Housing First, que surgiu nos Estados Unidos, o aluguel social permanente permitirá o acesso de pessoas em situação crônica de rua (mais de cinco anos na rua, uso abusivo de álcool e outras drogas e com transtorno mental) a uma moradia por um período de seis meses a dois anos.

Também queremos criar cotas de vagas de empregos, como funcionários terceirizados: empresas que prestam serviços ao município deverão contratar pessoas acolhidas das ruas e que ingressaram na Rede de Proteção Social de Curitiba para acolhimento e capacitação. Além de acolhidas, elas também deverão ter frequentado cursos profissionalizantes da FAS.

Outra proposta é a ampliação do Programa Família Acolhedora, que já faz acolhimento institucional de crianças e pessoas idosas e passará a atender também pessoas em situação de rua.

Além disso, está prevista a implantação de mais duas unidades do FAS SOS (Centro Intersetorial de Atenção às Pessoas em Situação de Rua). Lançado em 2024, com o primeiro espaço inaugurado na Rodoviária, o FAS SOS oferece atendimento 24 horas, Centro POP, alimentação, atendimento de saúde e um espaço do trabalhador para capacitação e encaminhamento de emprego.

Também serão implantados mais três Centros POP. Esses espaços funcionam durante o dia e oferecem atendimento social e técnico especializado, fazem todos os encaminhamentos necessários para a rede socioassistencial e também ofertam, alimentação, guarda-pertences e local para higiene pessoal.”

Felipe Bombardelli (PCO)

Felipe Bombardelli: (Foto: Franklin de Freitas)

Luciano Ducci (PSB)

Luciano Ducci: trabalho integrado às ONGs e Igrejas e criação da Secretaria de Assistência Social e Cidadania (Foto: Franklin de Freitas)

“Não adianta a gente fingir que não existe um problema sério e crescente em Curitiba. Todos nós vemos. Mas antes de qualquer plano, é preciso fazer um cadastro e um mapeamento sério de quem são as pessoas que estão nas ruas. De saída, a gente sabe que é preciso investir forte em moradia. A gestão atual entregou 300 e poucas casas e isso tem impacto direto no aumento das pessoas nas ruas. Também vamos criar a secretaria de Assistência Social e Cidadania. E trabalhar para que as ruas sejam apenas para o nosso ir e vir seguro. Rua não pode ser casa de ninguém. Em relação ainda às pessoas em situação de rua, teremos um trabalho integrado junto às ONGs, Igrejas e equipes multidisciplinares treinadas com o pessoal da assistência social, saúde e segurança para fazer frente ao problema.”

Luizão Goulart (Solidariedade)

Luizão Goulart: criação de frentes de trabalho dentro da própria Prefeitura para ajudar aqueles que estão tentando deixar a rua (Foto: Franklin de Freitas)

“Pretendo criar uma Secretaria de Assistência Social, pois é uma das minhas prioridades no meu plano de governo. Curitiba é uma das cidades do país com o maior número de moradores de rua, um problema que incomoda comerciantes, moradores e turistas. Pensando nisso, vamos individualizar para poder resolver esse problema. É necessário saber o porquê essa pessoa foi morar na rua, se foi por causa de saúde mental, dependência química, o que levou a perder os laços com a família. E é isso que o “Caminho de Volta” vai fazer, vamos oferecer assistência médica, psicológica, tratamento e atenção e tentar entender como cada indivíduo chegou aqui e ficou nessa condição.

Inclusive, pelo nosso levantamento, existem muitas pessoas que vêm de outras cidades e até fora do Estado. Vamos dar apoio para que possam voltar para suas famílias ou dar condições para que voltem à sua vida cotidiana.

Além disso, vamos implantar o programa“ Supera Rua”, criando frentes de trabalho, setores como o de obras e o do meio ambiente, dentro da prefeitura. Esse projeto foi implantado em Pinhais e deu muito certo.”

Maria Victoria (PP)

Maria Victoria: internamento involuntário de dependentes químicos e criação do Condomínio do Idoso (Foto: Franklin de Freitas)

Nenhuma pessoa deveria morar na rua. Isso é básico.

Minha proposta para diminuir esse problema está baseada em três pilares: acolhimento individualizado mais eficiente, internamento involuntário e reinserção ao mercado de trabalho.

Quem precisar de tratamento de saúde terá o encaminhamento adequado. Vamos criar um cadastro para o internamento involuntário de dependentes químicos. A lei permite ao poder público internar com a autorização das famílias. Vamos criar esse cadastro e atuar de forma firme para enfrentar esse problema que atinge Curitiba. Depois do tratamento, haverá treinamento, capacitação e oportunidades a essas pessoas. Vamos trabalhar em parceria com as Igrejas e iniciativa privada.

Outra proposta é a criação dos “Anjos do Bem”, que vai integrar Assistência Social e Saúde e oferecer atendimento eficaz às pessoas em situação de rua. Uma abordagem intersetorial e individualizada com unidades móveis totalmente equipadas em todas as regionais.

Vou reforçar a segurança com mais polícia na rua e combater aqueles que usam moradores de rua para traficar, que se escondem entre eles para cometer furtos e delitos. Esses têm que ser tratados com o rigor da lei.

Outra proposta é a construção do Condomínio do Idoso: moradia digna, suporte integral e melhoria na qualidade de vida dos idosos, além de permitir inclusão social e bem-estar em um ambiente seguro e adaptado, oportunizando viver com dignidade e todos os cuidados necessários em meio a um convívio comunitário enriquecedor.”

Ney Leprevost (União)

Ney Leprevost: implementação dos Centros de Reabilitação, Inclusão, Saúde, Trabalho e Organização (C.R.I.S.T.O.S.) para acolher aqueles em situação de rua (Foto: Franklin de Freitas)

Entre nossas propostas está a implementação dos C.R.I.S.T.O.S., os centros de reabilitação, inclusão, saúde, trabalho e organização. Trata-se de uma abordagem da dependência química como assunto de saúde pública, para além dos desdobramentos que envolvem a segurança. O nome escolhido reflete a forma como as pessoas serão acolhidas: com amor fraternal, rigor e humanismo.

Os C.R.I.S.T.O.S garantirão tratamento médico psiquiátrico e psicossocial rápido e de qualidade, medidas que possibilitarão a reabilitação aliada à capacitação técnica em cursos profissionalizantes. Vagas de trabalho serão reservadas a esse público, considerando parcerias público-privadas.

Também será feita uma triagem, pois há foragidos da Justiça que se misturam aos moradores de rua. Eles serão denunciados à polícia para que cumpram suas penas.

É necessário também o direcionamento de investimentos para implementação de centros especializados voltados ao cadastramento das pessoas em vulnerabilidade social, possibilitando identificar os motivos que o levaram à situação de rua. E a partir daí, viabilizar tratamentos de saúde para casos de dependência química e alcoólica, emitir documentos de identificação em parceria com o Instituto de Identificação do Paraná e encaminhá-la para programas de capacitação.

Curitiba não deve apenas gerar oportunidades aos vulneráveis, mas também ser acolhedora. Afinal, dar teto, alimento e amparo aos que mais precisam é fundamental.”

Professora Andrea Caldas (PSOL)

Professora Andrea Caldas: (Foto: Franklin de Freitas)

“Andrea Caldas compreende a urgência de enfrentar a situação da população em situação de rua em Curitiba, que reúne cerca de 4 mil pessoas, segundo o Cadastro Único. O compromisso de sua candidatura é implementar uma política de acolhimento abrangente e respeitosa, focada na dignidade humana e reintegração social. Para isso, propõe a criação da Secretaria de Assistência Social, que será fundamental para coordenar as ações de acolhimento e suporte.

A proposta inclui a adequação dos centros de acolhida existentes e a criação de novos espaços que ofereçam condições dignas de abrigo, alimentação e suporte emocional. Ela sugere ainda um Serviço de Acolhimento voltado para indivíduos e famílias em risco, vítimas de preconceito, abandono ou negligência, integrado às políticas de saúde, educação e assistência social, assegurando uma abordagem multidisciplinar.

Outro ponto fundamental é a implantação de um Departamento de Segurança Alimentar, que atuará em conjunto com as áreas de Educação e Saúde, promovendo refeições nutritivas e a autonomia das pessoas atendidas. Andrea também se compromete a fortalecer os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, especialmente para mães solo e jovens em situação de vulnerabilidade.

Além disso, propõe programas específicos de transferência de renda, com base no Cadastro Único, para a população LGBTQIA+ em situação de risco. Essas ações buscam garantir que todos os cidadãos de Curitiba, especialmente os mais vulneráveis, possam reconstruir suas vidas com dignidade e oportunidades reais.”

Roberto Requião (Mobiliza)

Roberto Requião: restabelecimento da FAS, construção de moradias e levantamento mais preciso sobre o número de pessoas em situação de rua na Capital (Foto: Franklin de Freitas)

Para lidar com a questão das pessoas em situação de rua e melhorar o serviço social em Curitiba, minha proposta principal é restabelecer a FAS (Fundação de Ação Social). Acredito que isso é fundamental para abordar esse desafio complexo.

Além disso, baseado em minha experiência como governador na Vila Zumbi, uma das áreas mais violentas da região metropolitana, proponho uma abordagem abrangente. Lá, implementei um programa que incluiu a construção de moradias e, em parceria com o exército, oferecemos cursos de formação profissional, que foram um grande sucesso.

Minha estratégia envolve primeiro proporcionar serviços essenciais como saúde, educação e atenção às necessidades básicas das pessoas, antes de implementar medidas de segurança. Acredito que essa abordagem holística é crucial para lidar efetivamente com a situação das pessoas em situação de rua.

É importante notar que, na minha opinião, o número de pessoas em situação de rua em Curitiba pode estar subestimado. Portanto, uma das minhas primeiras ações seria realizar um levantamento mais preciso para entender a verdadeira dimensão do problema e assim poder desenvolver soluções mais eficazes.”

Samuel de Mattos (PSTU)

Samuel de Mattos: (Foto: Franklin de Freitas)

“Primeiro, para resolver esse problema, é preciso entender as condições que levam as pessoas a chegar nesta situação. As causas estão relacionadas às condições de vida, como trabalho precário, falta de serviços públicos e fatores sociais. Não há como resolver o problema das pessoas que estão em situação de rua hoje se não estancarmos está ferida. Isso passa por garantir empregos dignos as pessoas, serviços públicos de qualidade, principalmente de saúde, com atenção especial à psiquiatria.

Por outro lado, temos de tratar as pessoas em situação de rua como seres humanos que se encontram em situação de vulnerabilidade, que precisam de suporte, e o Estado é o responsável por garantir essa assistência. E isso precisa ser feito por profissionais qualificados. Então, é fundamental o fortalecimento dos CAPS, ampliando a equipe de profissionais, garantir tratamento médico para todos que desejarem, a profissionalização para a inserção no mercado de trabalho e um plano de moradia popular.

O fato de o número de pessoas em situação de rua estar aumentando é um dos reflexos da falta de capacidade do capitalismo em garantir o mínimo de dignidade às pessoas. Pois tudo o que é produzido visa apenas o lucro e não resolver os problemas mais sentidos pela população. Como é o caso do sonho da casa própria, algo tão básico como se ter um teto para morar muitas vezes é uma luta de uma vida toda, quando conseguimos realizá-lo. Nós vamos fazer um plano de obras públicas para resolver estes problemas.”