Tanto Ricardo Nunes (MDB) quanto Guilherme Boulos (PSOL) escolheram Heliópolis para atividades de campanha neste sábado, 26, véspera do segundo turno das eleições. Os candidatos à Prefeitura de São Paulo caminharam por ruas a cerca de 500 metros uma da outra, em diferentes horários, na maior comunidade da capital paulista, onde vivem aproximadamente 200 mil pessoas.

No local, o emedebista evitou “antecipar” o resultado de amanhã, mas revelou um “sentimento de vitória”. A equipe de Boulos também expressou “boas expectativas” sobre os votos na região e disse acreditar na percepção de “fraqueza” do oponente por parte dos eleitores.

Edson Aparecido, braço direito do prefeito, reconhece que ambos os candidatos disputaram o mesmo eleitorado nas agendas deste sábado em Heliópolis. Ele afirma que, historicamente, as regiões periféricas são redutos de esquerda, mas que os investimentos recentes da Prefeitura têm mostrado quem “realmente trabalha” pela população dessas áreas.

A percepção de uma das moradoras da região, no entanto, é outra. Ao Estadão, ela disse acreditar em uma vitória de Nunes. “O que é uma pena para a gente, né? Ele tirou serviço social (daqui)”, relatou à reportagem. Entretanto, vários outros moradores recusaram as praguinhas, os tradicionais adesivos de campanha, de Boulos durante a passagem do candidato psolista por uma das ruas do bairro.

Um dos aliados de Boulos comentou sobre as “boas expectativas” em relação ao voto nas periferias. Para ele, a sabatina com Pablo Marçal (PRTB) na sexta-feira, 25, “mudou algo” no eleitorado, embora ainda não se saiba o impacto exato. A campanha de Boulos acredita que os eleitores do ex-coach não anularão o voto neste domingo, 27, e que, ao perceberem “fraqueza” no atual prefeito, poderão migrar para o psolista.

Em Heliópolis, Nunes andou por cerca de 500 metros em uma rua estreita entre a Arena Heliópolis e a Estrada das Lágrimas. No caminho, cumprimentou apoiadores e moradores da região, que pararam o prefeito em vários trechos da via para pedir fotos. O emedebista também parou em uma pequena loja de roupas e conversou rapidamente com as vendedoras. Ele seguiu acompanhado de eleitores e de um pequeno grupo que entoava, com auxílio de instrumentos, alguns de seus jingles de campanha.

O discurso do candidato à reeleição, ao contrário da agenda da manhã deste sábado, 26, em Teotônio Vilela, mostrou o “pé no chão” de sua equipe. Mesmo com o clima de “já ganhou” entre seus apoiadores, Nunes pregou “humildade”. “A gente sente na rua essa energia toda. Porque a gente continua os próximos quatro anos. Sem querer, de forma nenhuma, antecipar o resultado, mas meu sentimento de estar na rua é de uma vitória muito bonita”, disse o prefeito.

Para ele, é parte do processo ganhar ou perder a disputa. O mais importante, no entanto, é “estar de pé” – e sua relação “muito forte com a comunidade” o mantém firme nas eleições, afirmam apoiadores.

Nunes também discursou contra a abstenção que, segundo ele, vem aumentando a cada ano. Ele pediu que a população fosse votar, “seja em quem for”. “As pessoas irem votar é fundamental. Exercer o seu direito, a sua cidadania, é o ápice da democracia. Escolher, seja quem for, o seu representante, que vai cuidar da sua cidade”, declarou o emedebista.

Boulos, por sua vez, terminou sua caminhada próximo à Estrada das Lágrimas. Seu trajeto passou pela Rua Paraíba e Rua da Mina, por exemplo. Sob clima animado de “vira voto”, apoiadores do deputado federal, assim como os de Nunes, entoaram os jingles de campanha do candidato durante o percurso. A disputa pelos votos na região ficou clara por meio da “briga territorial” de adesivos com os números de urna do PSOL e do MDB colados pelas casas e postes da via.

A ausência da vice do psolista, Marta Suplicy (PT), na agenda em Heliópolis também chamou a atenção. Um dos motivos da escolha da petista para a chapa foi sua popularidade entre os moradores das regiões periféricas de São Paulo. Diante disso, por se tratar da última agenda de campanha de Boulos, a presença da ex-prefeita da capital paulista no local seria ainda mais estratégica. Boulos terminou a agenda sem falar com a imprensa.

Mais cedo, Nunes conduziu uma carreata pela zona leste da capital, região em que não obteve vitória em nenhum distrito na primeira fase da eleição. No local, ele atribuiu o baixo desempenho ao então adversário Pablo Marçal que, segundo o prefeito, “fragmentou o apoio dos eleitores de direita” na área.

“Eu até fui bem (na região), mas tivemos a entrada do Pablo Marçal no meu campo, o que dividiu o apoio e deixou o Boulos sozinho”, declarou. “Tenho certeza de que vamos recuperar todas as zonas eleitorais da zona leste, porque agora o campo da centro-direita enfrentará a extrema esquerda.”

Ao ser questionado sobre as expectativas em relação às pesquisas de intenção de voto, que serão divulgadas neste sábado, 26, véspera do pleito, Nunes demonstrou satisfação com os números. O discurso de “humildade” – estratégia da campanha para evitar um clima de “já ganhou” – tem perdido força. “Estou com mais de 10 pontos de diferença. Tenho a menor rejeição. Vocês precisam ter uma visão um pouco mais imparcial.”

Nunes também criticou a participação do seu adversário do PSOL em uma sabatina promovida por Marçal na sexta-feira, 25. Para o candidato do MDB, a entrevista foi uma “baita furada”. “Fiquei sem entender. Ele disse que a filha chorou com as afirmações do Marçal, que o chamou de cheirador, e, mesmo assim, estava lá junto? Podemos ganhar ou perder uma eleição, mas a dignidade precisa ser mantida sempre”, comentou.

Aliados de Nunes compartilham dessa visão. Uma fonte próxima ao prefeito afirmou ao Estadão que a entrevista entre Marçal e Boulos “pegou mal” para ambos. “Foi por isso que Nunes preferiu ficar de fora”, afirmou.

Já Boulos, durante caminhada na Avenida Paulista na manhã deste sábado, pediu que os eleitores não deixem de ir às urnas neste domingo, 27, e busquem virar votos “incansavelmente” nas próximas 24 horas. “Eu faço um pedido pra todos aqueles que querem a mudança em São Paulo: que vão amanhã pras urnas. Não faltem. Vão amanhã. Urna não é lugar da gente depositar medo”, declarou o deputado federal.

Ao lado da candidata a vice-prefeita na chapa, Marta Suplicy, o psolista fez um breve discurso aos apoiadores, em que insistiu na esperança de virada e criticou os ataques sofridos durante a campanha eleitoral. O postulante do PSOL disse, ainda, que sua campanha resgatou o “orgulho dos ideais”.

Boulos afirmou o que seus adversários fizeram durante toda a campanha “foi tentar colocar adjetivos contra nós, de ‘extremista’, ‘radical’, de ‘invasão’, com muitas mentiras”. O candidato foi carregado por apoiadores, que gritavam “eu acredito”, durante o ato.

Na última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, 24, Nunes lidera com 49% das intenções de voto, enquanto Boulos registra 35%. Apesar da desvantagem, tanto a campanha do psolista quanto a do atual prefeito não consideram a vitória do emedebista como certa. Na avaliação da equipe de Boulos, a sabatina organizada por Marçal “deu um gás” na reta final da disputa.

Durante a sabatina, que durou quase uma hora, Boulos fez vários gestos para o eleitorado do ex-coach. Marçal, no entanto, reafirmou ao final do encontro que não votaria no psolista nem em Nunes. Convidado também a participar, o prefeito não apareceu e nem atendeu ao telefonema que Marçal fez durante a transmissão ao vivo.