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2025 será um ano decisivo para o transporte público de Curitiba (Foto: Daniel Castellano/ SMCS/ Arquivo)

2024 é ano de decisão nas urnas, com os eleitores curitibanos definindo quem serão os próximos prefeito, vice-prefeito e vereadores da cidade a partir do ano que vem. E 2025, por sua vez, será um ano fundamental para o transporte público da cidade. Isso porque o atual contrato de concessão do serviço, firmado em 2010, está se encerrando e não será renovado. Com isso, abre-se uma janela de oportunidade para revisão do valor da tarifa e do sistema como um todo.

Pensando nisso, então, a quarta reportagem temática da série do Bem Paraná com os candidatos a prefeito aborda, justamente, as opiniões e propostas de cada político para o transporte coletivo, os famosos busões. O que esperar, então, do próximo mandatário da cidade? O valor da tarifa vai baixar? Aos finais de semana a passagem será mais barata e o quão mais em conta?

Atualmente, a tarifa de ônibus em Curitiba custa R$ 6,00 para os usuários (valor que foi reajustado no começo de 2023 e mantido neste ano).

É a tarifa mais cara entre todas as capitais brasileiras, aponta levantamento feito pelo Bem Paraná. Apenas Porto Velho (capital de Rondônia) e Florianópolis (capital de Santa Catarina) cobram um valor igualmente elevado pela passagem. Na primeira cidade, entretanto, quem faz o cartão de transporte consegue pagar R$ 4,50 pelo transporte. Na segunda, o valor de R$ 6,00 também é cobrado só de quem paga a tarifa em dinheiro, com a passagem saindo por R$ 4,98 para quem possui cartão de transporte.

Além disso, os números do sistema de transporte coletivo de Curitiba evidenciam um sistema em crise. Em 2009, quando foi feita a licitação atualmente em vigor, a meta estipulada no edital de licitação era aumentar em 1% ao ano o número de passageiros do sistema. Na época, a Urbs registrava uma média de 2,2 milhões de passageiros transportados por dia nos ônibus da Capital, com cerca de 21,42 milhões de passageiros equivalentes por mês. Em 2024, segundo dados do Painel de Passageiros, o dia com mais passageiros transportados foi 27 de março, com quase 621 mil, e o mês com mais gente utilizando o serviço foi abril, com 14,49 milhões – um valor 32,4% menor que o registrado lá em 2009.

Como, então, recuperar o sistema de ônibus da cidade e o protagonismo de Curitiba no transporte coletivo? Eis o que os candidatos a prefeito respondem agora.

Veja as outras reportagens da série que já saíram:

Confira as respostas e propostas de cada candidato a prefeito acerca do transporte coletivo de Curitiba

Pergunta apresentada aos candidatos:

O atual contrato do transporte coletivo se encerra em 2025 e está prevista a formação de um novo modelo de concessão. Qual as expectativas e também as promessas que pode fazer com relação à nova licitação do serviço? O atual valor da tarifa, de R$ 6,00, é razoável? E a tarifa ‘domingueira’, deve ou não voltar?

Samuel de Mattos (PSTU)

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Samuel de Mattos (Foto: Franklin de Freitas)

“Quem precisa utilizar o transporte público muitas vezes perde horas do seu dia no translado do trabalho para casa e vice-versa, e, diferentemente da propaganda, com ônibus lotados. Greca e Pimentel estão mais preocupados em garantir o lucro das empresas de ônibus, do que com garantir um serviço de transporte de qualidade e eficiência para a população.

Por isso, vamos garantir de imediato passe livre para todos os desempregados e passe livre aos finais de semana, para o conjunto da população. E exigir a abertura de uma investigação sobre o faturamento dessas empresas, mostrar para todos o quanto esses empresários enriquecem em cima do sofrimento do povo.

A ganância dessa gente é tanta que acabaram até com o posto de trabalho dos cobradores, sem falar nas péssimas condições de trabalho que essa categoria enfrenta.

Nós vamos reativar os postos de cobradores. Entendemos que os cobradores devem cumprir uma função social, como auxiliar pessoas com deficiência, idosos e fornecer informações às pessoas. E garantir treinamento e qualificação a todos os trabalhadores.

Com o objetivo de tornar o transporte público mais atraente para a população e inclusive desafogar o trânsito e preservar o meio ambiente. Vamos reduzir a tarifa para R$ 1,00, rumo à tarifa zero, e aumentar a frota para reduzir o tempo de espera nos pontos de ônibus. Para isso, temos que acabar com essa farra das empresas de ônibus. Nós defendemos que o transporte seja estatizado e sob o controle dos trabalhadores.”

Roberto Requião (Mobiliza)

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Roberto Requião: implementação de frota pública com operação privada no transporte público (Foto: Franklin de Freitas)

“Quanto à nova licitação do serviço de transporte coletivo, minha proposta é implementar um modelo de frota pública com operação privada. Isso permitirá reduzir os custos associados à remuneração da frota e depreciação de veículos, que atualmente são repassados ao setor privado. Progressivamente, pretendo expandir a frota pública para reduzir os preços das tarifas.

Sobre o valor atual da tarifa de R$ 6,00, aparenta ser excessivo. No entanto, para uma avaliação precisa, é fundamental examinar detalhadamente a planilha de custos. Meu compromisso é realizar uma análise minuciosa dessa planilha para identificar possíveis discrepâncias e oportunidades de redução.

Em relação à tarifa domingueira, minha posição é clara: ela é uma ilusão e uma prática desonesta. Oferecer tarifas reduzidas apenas aos domingos, quando o volume de passageiros é menor devido à redução das atividades industriais e comerciais, não resolve o problema da mobilidade urbana. Meu objetivo é estabelecer tarifas acessíveis durante toda a semana, beneficiando a população de forma consistente e justa.

Minha visão para o transporte coletivo de Curitiba é ambiciosa: buscarei implementar um sistema com preços extremamente razoáveis, facilitando o deslocamento da população. O ideal seria uma frota totalmente pública, mas isso é um objetivo de longo prazo. Por isso, começaremos com o modelo de frota pública e operação privada, avançando gradualmente para reduzir os custos e, consequentemente, as tarifas.”

Professora Andrea Caldas (PSOL)

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Professora Andrea Caldas (Foto: Franklin de Freitas)

“Nosso programa propõe uma revisão completa do atual modelo de concessão do transporte coletivo de Curitiba, que hoje carece de controle público e transparência. A licitação vigente, por exemplo, falha ao permitir que as empresas operem sem prestar contas adequadas sobre seus custos e lucros, o que contribui para que a tarifa seja uma das mais altas do país. Nós defenderemos um novo processo de licitação que devolva o transporte à população, priorizando o interesse público e a gestão democrática.

Acreditamos que é possível reduzir as tarifas já no início do mandato, utilizando os mecanismos de controle social e a estrutura da URBS, uma empresa de economia mista, para ajustar os custos de operação e combater a lucratividade excessiva. Defendemos a implantação progressiva da tarifa zero, começando com o passe livre estudantil no primeiro ano. Também restabeleceremos a tarifa domingueira a R$ 1,00, ampliando a frota de ônibus para garantir mais conforto e agilidade. Nosso compromisso é por um transporte público de qualidade, acessível e que atenda de fato às necessidades da população de Curitiba.”

Ney Leprevost (União)

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Ney Leprevost: volta da domingueira logo no início da gestão e redução da passagem para R$ 5 antes do término do sexto mês de mandato (Foto: Franklin de Freitas)

“A proposta para melhorar o transporte público em Curitiba foca na acessibilidade, inovação e segurança. Um dos principais compromissos é não aumentar o preço da passagem e, gradualmente, reduzir esse valor. Garanto que vou assinar um decreto voltando com a domingueira já no início da gestão, com o valor de R$ 1, além de baixar a tarifa antes do término do 6° mês de gestão para R$ 5.

Temos que puxar as pessoas de volta para o ônibus. Para isso, é necessário renovar a frota e fazer como outras capitais, que já instalaram ar-condicionado nos ônibus. Com esse aquecimento global, está todo mundo encalorado.

Será construída a Linha Parque, com corredores exclusivos para ônibus elétricos articulados, ligando diretamente Santa Cândida ao Pinheirinho. Essa obra reduzirá em 20 minutos o tempo de viagem nesse trecho, tornando o transporte mais rápido e eficiente. Além disso, estamos estudando uma linha de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que conectará Colombo, Santa Cândida, Centro Cívico, Boqueirão e São José dos Pinhais.

Além das questões tarifárias e de renovação da frota, também iremos investir em segurança. Vamos implementar medidas como o uso de reconhecimento facial e a criação do batalhão Anjos do Transporte. A iniciativa, desenvolvida em parceria com o senador Sérgio Moro, prevê a presença de 120 policiais municipais, da nova Polícia da Cidade, à paisana nos ônibus, garantindo maior segurança para os usuários.”

Maria Victoria (PP)

DEBATE DOS CANDIDATOS A  PREFEITURA DE CURITIBA
DEBATE NA BAND
Maria Victoria: “Primeira medida do meu mandato será congelar as tarifas para todos os cidadão” (Foto: Franklin de Freitas)

“Tanto questiono os valores, que a primeira medida do meu mandato será a congelar as tarifas para todos os cidadãos até aprovarmos maneiras concretas e permanentes de proporcionar um valor justo e reduzido à população.

Pensando na licitação de 2025, também estamos propondo uma meta desafiadora para Curitiba: eliminar o uso de diesel comum no transporte nos próximos oito anos com essa oportunidade que bate à porta com a concessão expirando. Estudos comprovam que substituir os ônibus por veículos movidos a biocombustíveis, como biodiesel, 3x mais econômicos que os ônibus elétricos. Além disso, reduzem em 90% na emissão de gases de efeito estufa ao eliminar o uso de combustíveis fósseis do transporte público.

Eu quero não só recriar a Domingueira, mas também instituir a Sabadeira. Tarifas a R$ 1,00 no fim de semana. Estimulando o comércio, lazer das famílias e facilitando o acesso às Igrejas. É uma questão de priorização e gestão. Também teremos tarifa a R$ 1,00 para acompanhantes de idosos, população baixa renda e estudantes.

Ninguém questiona o quanto é investido em Educação ou Saúde. Nós temos a licitação no ano que vem, é o momento certo para revisar o modelo, com um contrato que coloque a população de Curitiba, o usuário, no centro das decisões. Trabalharei por um transporte ágil e justo em toda a cidade.”

Luizão Goulart (Solidariedade)

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Luizão Goulart: nova licitação, tarifa em torno de R$ 4,00 e volta gradativa da tarifa “domingueira” (Foto: Franklin de Freitas)

“Quero uma cidade onde se locomover seja fácil, rápido e sustentável. Curitiba tem um bom conceito de transporte coletivo, mas ainda temos muito o que melhorar. A começar pelo valor da passagem. A nova licitação deve ser feita de forma transparente, visando o bem do usuário e não lucro, com subsídio para bairros mais distantes. Por isso, afirmo que é possível aplicar uma tarifa no entorno de 4$. Sobre a tarifa domingueira, nos comprometemos a retomar os estudos para a implementação de forma gradativa.”

Luciano Ducci (PSB)

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Luciano Ducci: domingueira com tarifa zero e redução do preço da passagem (Foto: Franklin de Freitas)

“A tarifa de Curitiba, hoje, é a mais cara do país. É um valor muito alto que acaba por limitar o acesso da maioria das pessoas. Se a gente pensa numa família de quatro pessoas, por exemplo, que use um ônibus na ida e outro na volta, são quase R$50,00 só em transporte, por dia. Não é um valor sustentável para a maioria das famílias. Então, sim, é preciso encontrar soluções que permitam que a tarifa seja mais justa. Um exemplo disso é a substituição do combustível dos ônibus por biodiesel, gerando créditos de carbono. Outro exemplo, que já está tramitando em Brasília, é zerar a alíquota do Biocombustível para o transporte urbano. Este é um projeto de lei meu que poderia ter impacto significativo na tarifa.

Sobre a domingueira, ela vai voltar e melhor ainda, com tarifa zero, a partir do primeiro domingo de janeiro do ano que vem. A ideia é ter as pessoas circulando pela cidade aos domingos, nos parques, nas igrejas, aproveitando as atividades culturais e de lazer, sem que o valor do transporte seja um problema.”

Felipe Bombardelli (PCO)

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Felipe Bombardelli: estatização e gratuidade do transporte público (Foto: Divulgação/TSE)

“A proposta do PCO para o transporte público é a estatização, para acabar com o controle privado e submeter o transporte ao controle social O serviço deve ser gratuito e de qualidade para toda a população. A mobilidade urbana não pode ser vista como uma oportunidade para o enriquecimento de empresários que lucram com um serviço fundamental para os trabalhadores. A gestão do transporte público deve priorizar o bem-estar coletivo, não os interesses de uma minoria.

É comum ouvir o argumento de que o Estado seria incapaz de gerir eficientemente o transporte público. No entanto, isso é apenas uma desculpa. Em muitos casos, o Estado realiza os investimentos mais significativos, como a construção de metrôs e outras infraestruturas, gastando bilhões de reais. Mesmo assim, após concluir as obras, essas estruturas são frequentemente entregues à iniciativa privada a preço de banana, enquanto os lucros gerados, resultado das altas tarifas cobradas, vão diretamente para os bolsos de empresários, muitos deles estrangeiros. Dessa forma, o interesse público é comprometido em nome do lucro privado, e a população acaba arcando com os custos e recebe um péssimo serviço.”

Eduardo Pimentel (PSD)

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Eduardo Pimentel: novo contrato de concessão do transporte coletivo será focado na sustentabilidade e uma oportunidade para se discutir a redução da tarifa (Foto: Franklin de Freitas)

Nos últimos oito anos retomamos a integração do transporte coletivo com a região metropolitana e hoje a população pode ir e vir dos municípios vizinhos sem ter que pagar mais uma passagem. Hoje é possível ir de Fazenda Rio Grande a Colombo passando por Curitiba pagando apenas uma passagem. E vamos avançar ainda mais.

Vamos lançar o “Domingão paga meia”, com redução da tarifa em 50% aos domingos e feriados e também teremos tarifa zero para quem procura emprego, dando oportunidade para que quem está em busca de uma colocação no mercado de trabalho possa se deslocar sem pagar nada.

A ideia, além de facilitar a vida da população curitibana, é diminuir o volume de carros na rua, melhorando o trânsito e reduzindo a emissão de poluentes.

Em 2017, quando assumimos a Prefeitura juntamente com o prefeito Rafael Greca, herdamos um contrato de concessão de transporte coletivo de 2010, assinado por gestores que hoje novamente querem voltar para a Prefeitura. Esse contrato tinha duração de 15 anos, podendo ser prorrogado por mais 10. Optamos por não renovar e preparar um novo contrato, que deve entrar em vigor em 2025.

O projeto está sendo formatado em parceria com o BNDES e tem como base um transporte coletivo eficiente, sustentável, integrado e com uma tarifa justa. É o primeiro contrato de concessão do país que já terá, na sua origem, a preocupação com o meio ambiente e a redução de emissões. Esse contrato também é uma oportunidade para discutirmos a redução da tarifa, com responsabilidade.”

Cristina Graeml (PMB)

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Cristina Graeml: novos modais de transporte, revisão da tarifa e implantação de um sistema de cashback, com o uso do transporte coletivo gerando créditos a serem usados no comércio (Foto: Franklin de Freitas)

“Estamos comprometidos com a implantação de novos modais de transporte que facilitem a vida dos curitibanos, oferecendo soluções eficientes e acessíveis. Dentre as opções que estamos considerando, estão o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e alguns trechos de monotrilho. O metrô, por sua vez, está descartado por nossa gestão, devido ao seu elevado custo de implantação e ao impacto ambiental que poderia causar. Além disso, o benefício gerado pelo metrô não justifica o ônus financeiro envolvido. Nosso compromisso é ser responsável com o dinheiro dos cidadãos e buscar alternativas que ofereçam o melhor custo-benefício.

Reconhecemos que o valor da tarifa do transporte público atualmente é muito elevada e estamos revisando esse aspecto para torná-la mais acessível. Uma das iniciativas em estudo é sim a tarifa domingueira, em especial pelo fato de ela servir como um mecanismo de fomento ao comércio local. Também estamos avaliando outras possibilidades inovadoras, como a implantação de um sistema de cashback, que permitirá aos usuários gerarem crédito para o transporte público ao consumirem no comércio curitibano. Essas medidas visam não apenas melhorar a mobilidade, mas também estimular a economia local de forma sustentável, o que, a nosso ver, é o mais inteligente a ser feito.”