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Foto: Franklin de Freitas

Com o objetivo de informar o eleitor sobre as candidaturas e propostas para Curitiba, o Bem Paraná realiza até 20 de setembro sabatinas com os dez candidatos a prefeito de Curitiba. Nesta terça (17), o Bem Paraná entrevistou o candidato do PCO, Felipe Bombardelli. Ele afirmou que evita falar que é candidato e que sabe que não vai ganhar a eleição. Bombardelli também defendeu o armamento da população e acredita que a administração de Curitiba deveria ser dividida entre os 75 bairros.

Perfil de Felipe Bombardelli

Felipe Bombardelli, 34 anos, é natural de Toledo Formado em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele já atuou como programador, desenvolvedor e analista de sistemas, com experiências no exterior. Em agosto de 2023, assumiu uma posição de pesquisador na UFPR, para desenvolver um robô de serviço de código aberto. É a primeira vez que se candidata.

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Confira abaixo a entrevista completa

Martha Feldens: Queria que você falasse um pouco do seu partido, do PCO, porque eu acho que as pessoas não têm essa familiaridade com os partidos em geral, e com esses partidos de esquerda, também não. Então, se você puder falar um pouquinho do seu partido e no que ele se diferencia de outros partidos de esquerda, como o PSTU, o PSOL E o PT…
Felipe Bombardelli:
O PSOL é um partido de esquerda marxista que defende o governo dos operários. E ele se diferencia um pouco da esquerda ali do pessoal do PT, que é uma esquerda reformista, que eles querem pegar o capitalismo e dar simplesmente uma reformada, apertar no parafuso para fazer funcionar. A gente tem um objetivo de colocar o socialismo para funcionar. Claro, no momento não é via das armas, via de uma revolução violenta, mas via de uma planificação da economia.

Martha: Estão a caminho? O partido ainda é bastante pequeno, né?
Felipe:
Ainda é pequeno, porém a situação tem mudado. Antigamente, quando caiu a União Soviética, o refluxo dessa linha marxista ‘raiz’ retrocedeu bastante. Agora, com a volta da crise em 2008, que deu a crise no sistema financeiro, o pessoal começou a voltar. E agora, em 2020, 2024, a gente está ali para perto de uma nova crise financeira, uma nova bolha está surgindo, e isso acaba reforçando o papel que a produção tem mais importância que o sistema financeiro. Se eu for pegar lá os Estados Unidos, eles têm economia, eles têm dinheiro, porém, a produção foi toda migrada pra China. Se, por acaso, em algum momento, vamos dizer, eles entrarem em um embate, Estados Unidos e China, os Estados Unidos vai ter apenas papel e a China vai ter produção de navios, vai ter produção de munições, vai ter produção dos itens. E se você for olhar a longo prazo, a China vai acabar vencendo essa essa hipotética guerra.

Katia Brembatti: A gente tem no Paraná menos de 10 filiados ao PCO, que vocês não chamam de diretório, preferem chamar de células. Como que alguém chega no PCO? O que leva alguém? É um movimento estudantil, basicamente? O que leva alguém ao PCO?
Felipe:
Olha, o que me levou ao PCO foi as análises do Rui [Costa Pimenta]. Ele tem uma análise política muito bem consolidada, ele tem uma visão do tipo ‘ó, a gente tem essa situação, a gente tem que fazer tal item, tal coisa, pra gente poder influenciar um pouco na política’.

Martha: Seria importante explicar quem é o o Rui Costa Pimenta. Você pode falar um pouquinho dele?
Felipe:
O Rui Costa Pimenta é o presidente do partido. E aí todo sábado ele faz a análise política. Claro, são três, quatro horas, que apenas o pessoal da esquerda tem paciência ali de ouvir. E acaba sendo um banho de água fria. Porque, normalmente, as esquerdas normais, elas ficam ali floreando, tipo ‘ah, não, Lula tá indo bem, Lula tá indo bem, não sei o quê’. Aí chegou o Rui Costa Pimenta, ‘olha, o Lula tá mal, galera, a gente tem que movimentar, galera, que a gente tá fraco no Congresso’. E aí é aquele banho de água fria e a gente entende o sentido e muita gente se aproxima do PCO justamente pelas análises corretas do Rui Costa Pimenta.

Katia: E é a sua primeira vez como candidato. Nunca tentou ser vereador, você é bastante jovem também. O que te levou a decidir uma candidatura, o que te levou a se candidatar?
Felipe:
Sendo realista, não tinha pessoas e sobrou esse abacaxi pra mim. Porém, eu gosto da política, eu sempre converso com as pessoas e eu trabalhei um tempo em Praga, voltei para o Brasil para conseguir movimentar, colocar o Brasil na quarta revolução industrial. Industrializar, seguir, aumentar a produção, ajudar na educação das pessoas, conseguir que as pessoas tenham uma maior capacidade tecnológica. Principalmente na minha área, de programação, eu luto para que o pessoal aprenda a programar. Eu sempre falo lá pro porteiro lá do meu departamento ‘oh, vamos aprender a programar’, eu tô ali conversando com o pessoal lá da Tiradentes, da ocupação Tiradentes, ‘oh, eu vou ver se eu consigo te ensinar a programar aqui pelo celular, já que você não tem computador’, e vou seguindo aí nesse pauta. E a Prefeitura me dá um espaço maior aí de visibilidade pra colocar as ideias, tanto minha quanto do partido, em evidência aí na mídia.

Roberta Canetti: Você é dessa área de robótica, de programação, área tecnológica. Você sempre cita a quarta revolução industrial. Eu queria que você explicasse para as pessoas que não têm muita noção do que você está falando: o que é, na sua visão, a 4ª Revolução Industrial? Como ela está se dando no Brasil e de que maneira é um debate importante de se trazer para uma campanha municipal?
Felipe:
Bem colocado. As revoluções industriais, elas sempre foram evoluções tecnológicas amplas, não aquelas pequenas tecnologias, mas que acabaram desenvolvendo. Então você pega a primeira revolução industrial, foi a implementação da máquina a vapor, que permitiu grandes energias ali para poder movimentar as indústrias. A segunda revolução industrial se baseia em grande parte na produção em série. Aquelas linhas de produções, que foram implementadas as esteiras, que conseguiu movimentar o resultado do processo de uma máquina para outra, facilmente, através de uma esteira. Então isso acabou modificando toda a sociedade: as pessoas foram coordenadas a ficar naquela linha de produção e seguindo o ritmo da esteira. A própria educação também é serializada, as pessoas estão em séries, como se fosse uma linha de produção. A terceira revolução industrial simplesmente tirou essas pessoas da esteira e colocou robôs industriais. Só que esses robôs são fixos para uma determinada tarefa. A quarta revolução industrial, a ideia dela é que você tem uma flexibilidade dessa linha de produção. Então com a robótica móvel, você não tem uma única esteira. Você vai ter uma série em cadeias, toda uma lógica em cadeia dessa produção, e os robôs móveis vão fazer essa distribuição, tanto dentro da indústria como fora. Dentro da indústria você vai ter robôs, que vão pegar de uma máquina e movimentar para outras. Quanto fora, você vai ter caminhões autônomos que vão pegar os itens de uma fábrica e levar para outra. E essas duas fábricas vão estar conectadas num servidor, que vai coordenar, através de AI e outras coisas, quanto que uma fábrica precisa de matérias-primas e assim por diante. E veja que isso também reflete na educação. A gente já está com um processo de maior liberdade do aluno seguir várias carreiras. Você tem ali na educação estadual um itinerante em que a pessoa já não está mais seguindo aquela série 1, série 2. Ela tem mais uma escolha nessa série. E, como vocês podem ver, o que ocorre dentro da fábrica reflete em toda a sociedade.

Martha: E onde ficarão as pessoas nessa hora que a inteligência artificial vai estar meio que comandando tudo aí?
Felipe:
Então, esse que é um grande detalhe. Vai ter um aumento do desemprego, vai ter uma intensificação maior, porque quando você coloca uma máquina para trabalhar, você pode até não criar um desemprego, mas você intensifica o trabalho da pessoa. Por exemplo, nos mercados você deve ter percebido que você tem lá os caixas eletrônicos, e você não demitiu a pessoa. Você tem uma única pessoa lá que está cuidando. Só que em vez de ela cuidar da fila de seis num caixa normal, ela vai ter lá uma quantidade X de pessoas, agora nesse você tem seis caixas então ela vai ter seis vezes mais pessoas nesse tratamento. Então você intensificou o trabalho dela, essa pessoa vai atender muito mais pessoas do que ela atenderia. E ela não vai receber esse aumento do salário, que é um grande detalhe. Agora, o que a gente tem que começar a pensar é uma diminuição da jornada de trabalho. A ideia é que a gente consiga diminuir para 20 horas semanais de trabalho e as outras 20 horas, elas têm que ser de estudo. Então, a gente tem que começar a priorizar que a pessoa, em meio turno, ela trabalhe, e no outro meio turno ela estude em uma universidade, ou faça algum curso técnico, coisa assim. Vai ser uma tendência. Claro, eu não vou chegar na prefeitura e ‘ó, ano que vem vai ser assim’. Não, a tendência mundial é essa e a gente vai devagarzinho, porque a sociedade, ela demora pra mudar. O simples fato de você mudar um aplicativo numa empresa, eu trabalhei numa empresa grande ali com 400, 500 pessoas, mudando lá um aplicativo de bate-papo da empresa, tinha que levar um mês discutindo, mais outro mês para implementar e levava uns três meses para poder alterar. Então, a sociedade leva o seu tempo, mas o que eu vejo é essa tendência.

Roberta: Com relação à carga horária, você fala sobre 20 horas de trabalho, 20 horas de aprimoramento, vamos dizer, capacitação. E isso para se aplicar, imagino, no servidor público municipal, que é o que a Prefeitura poderia alterar, né? E vi nas suas propostas que você também coloca ali para o funcionalismo público municipal uma correção dos salários atuais, né? Para que se chegue a um mínimo, que é aquele que o Dieese coloca como que a pessoa precisa para ter uma vida confortável, com qualidade de vida, que é R$ 7 mil. Eu queria entender se há um cálculo de viabilidade e como fazer isso sem reduzir o funcionalismo, por exemplo. Essa carga horária reduzida e um salário bem acima do mínimo que a gente tem hoje.
Felipe:
Essa é uma boa pergunta e não tem uma grande solução, principalmente se você for levar o dinheiro em conta. Se for pensar só apenas ali no papel, nas contas, é algo realmente difícil de aplicar. Mas a gente tem que pensar na parte da produção. As escolas, por exemplo, elas precisam de uma demanda de alimentos para fornecer para as crianças e outros insumos que, em grande parte, você só precisa produzir, você não precisa ter ali o bem, o dinheiro, você comprar do mercado. A prefeitura pode ter ali as suas fazendas. Eu tenho tantas escolas, tantos hospitais, tantos restaurantes municipais. Eu preciso de X tomates, X batatas, que vocês têm que providenciar nesse ano. Ou seja, a conta aqui não é uma conta de dinheiro.

Katia: Só queria retomar a pergunta da Roberta. Quando ela fala que o seu plano propõe um salário de pelo menos R$ 7 mil, a gente teria que pegar todas essas pessoas que hoje estão dentro da prefeitura como servidores e chegar nesse valor mínimo de R$ 7 mil. A gente sabe, por exemplo, que vários professores não recebem esse valor de R$ 7 mil. Tendo em vista que o orçamento da prefeitura é de R$ 14 bilhões e que tem limites legais de gasto com pessoal, como que faz essa conta? É possível?
Felipe:
Esse vai ser o grande detalhe. O limite legal [de gasto com pessoal] é de 60% e a Prefeitura de Curitiba está em 50%, então teríamos uma margem de manobra de 10%. Aí precisaria de uma mobilização, uma campanha para mudar leis, se não me engano, do estado ou nacional. Não sei qual que é o escopo dessa lei. E aí, nessa parte eu não vou conseguir fazer muita coisa.

Martha: No DivulgaCand do TSE não tem nenhum registro de receita da sua campanha e nem de despesa. Você não está fazendo uma campanha, então, nos moldes convencionais, que faz um santinho, que faz uma propaganda? Como é que você está fazendo a campanha?
Felipe:
Olha, quem imprimiu os santinhos foi o partido, que está concentrando todos os esforços ali em São Paulo, e eles estão imprimindo para todos os candidatos. Despesas locais a gente não tem. Nem o Uber, isso eu estou pagando tudo por conta, tenho usado o ônibus. Hoje eu fui pra PUC de ônibus, depois para a Universidade Federal, depois vim pra cá, e fiz tudo de ônibus.

Katia: Você faz campanha no ônibus? As pessoas que estão no ônibus sabem que você é candidato a prefeito?
Felipe:
Então, um detalhe, eu não sei se pode fazer campanha no ônibus. Por isso que eu nunca fiz.

Martha: Hoje você já é candidato, deferido inclusive, tá tudo certinho lá. Pode pedir voto, sim.
Felipe:
Posso fazer discurso nos ônibus?

Martha: Fazer discurso eu acho que não. Comício não, mas pode pedir voto.
Felipe:
Mas de vez em quando eu converso com as pessoas no ônibus e tal. Eu evito de falar que eu sou candidato. Eu tenho mais espontaneidade quando a pessoa descobre que eu sou candidato. Se eu chegar para ela ‘oh, eu sou candidato’. Ela já fica na defensiva e me olha torto.

Katia: Mas as pessoas chegam a te reconhecer?
Felipe:
Ainda não, ainda não. Mas já percebi uma pessoa ali que me olhou assim ‘ah, acho que conheço aquele cara’.

Martha: Você, na verdade, nem redes sociais tem. A gente só encontrou o seu LinkedIn…
Felipe:
Eu tenho o Facebook, que acho que tem mais gente. O LinkedIn no Google, que é o que mais aparece. O Instagram é que estava com outro nome. Eu tenho que melhorar essa parte de redes sociais, a gente do partido também tem que começar a melhorar, porque a parte que eu vejo na campanha política, o que tá na moda é essa parte de você trabalhar através das redes sociais.

Katia: Você não recebeu nenhum treinamento?
Felipe:
O partido tenta, mas a gente tem as nossas limitações e o partido ainda tá muito atrasado aqui na parte de redes sociais. A gente tá penando nisso. Mas vamos ver. No futuro, nas próximas eleições, já vou começar a preparar o partido para a gente estar afinado nisso.

Katia: Nossa, ele falou em próximas eleições. É porque a mosquinha da política realmente chegou perto.
Felipe:
É, a minha intenção é conseguir industrializar o Brasil. Eu não voltei aqui pro Brasil pra ganhar dinheiro, não sei o quê. Eu quero influenciar aqui, conseguir industrializar, conseguir fazer a minha parte aqui pelo país, pelos BRICS. E também, claro, eu quero desenvolver a tecnologia de forma aberta. Quando a gente consegue desenvolver o Brasil, com a tecnologia aberta, livre pra todo mundo, a gente consegue desenvolver a América Latina, consegue desenvolver a África e assim por diante. A gente cresce como sociedade.

Roberta: Você defende um modelo de gestão que implica na diminuição do poder do prefeito, pelo que eu entendi, e de uma participação mais direta da população nas decisões sobre o que deve ser feito na cidade. Para a gente entender como seria esse modelo e como ele funcionaria, como isso poderia fazer com que os problemas da cidade sejam efetivamente resolvidos?
Felipe:
O ideal é que cada bairro tivesse uma subprefeitura. 75 subprefeituras ou até mais em Curitiba. Pode ser que cada escola seja uma subprefeitura, seja uma interface onde as pessoas discutam e trazem os problemas do seu bairro, do local ali. E que eles tenham uma verba da prefeitura, sabe? Você pega todo o orçamento da prefeitura e vai distribuir para esses bairros. Fora a parte do salário dos funcionários, a parte que é da prefeitura como um todo da cidade, ela é cortada. Agora, o que é dos bairros, então se divide. E aí cada bairro vai ter ali as condições de definir se é melhor pavimentar determinadas ruas ou se é melhor construir uma unidade de saúde. E aí tem que ter toda a relação dos funcionários, que quando você constrói uma unidade de saúde você tem que trazer mais funcionários e isso aumenta na questão dos salários, e isso tem que ser todo sistematizado. E, claro, também tem que ter um sistema de informação para que as pessoas tenham acesso às informações necessárias para você tomar as decisões. Então, o que for melhor transparente, que conseguir dar o quanto de ruas não estão asfaltadas, o quanto de professores tem em cada escola que a prefeitura tem, mas não tem um sistema transparente. Até o portal da transparência da prefeitura é horrível. Até o meu amigo, que é de Juiz de Fora, fala que o portal transparente da prefeitura é pior que o de Juiz de Fora.

Roberta: A gente teve uma gestão com administradores das regionais que era descentralizada, não por bairro, mas por regiões da cidade, mas o que acaba acontecendo é que a gente passa a ter figuras de subprefeitos. Então, de qualquer maneira, é necessária uma liderança ali, porque é difícil esperar da população também que ela se engaje nesse nível. Às vezes, é difícil até fazer a população votar. Como que você imagina engajar a população para que ela queira efetivamente tomar conta da cidade, enumerar as prioridades, participar dessa forma tão ativa?
Felipe:
A primeira parte ali, tendo vários líderes ao invés de um único prefeito, já me ajuda melhor, já consegue distribuir um pouco o poder. Agora, na questão aí que você comentou, volta à questão da jornada de trabalho. Se a gente conseguisse colocar 20 horas de trabalho e as outras 20 horas de estudo, essa parte de estudo, essa parte de política, também entraria nesse primeiro elemento. E aí você vai ter uma maior participação das pessoas. As pessoas vão ter tempo livre pra fazer. Porque, em grande parte, as pessoas hoje, elas não querem participar da política ativamente porque toma tempo. A pessoa chega do trabalho cansada e ela quer assistir um filme ali e descansar. Ela não quer ali olhar, assistir três horas, quatro horas de análise do Rui Costa Pimenta. Mas tendo um tempo livre, maior, isso vai ajudar a trazer as pessoas pra política.

Katia: Mas esse modelo que você sugere no seu plano, ele funciona em algum lugar? Você se inspirou em algum lugar para dizer ‘olha, aqui funciona mais ou menos assim, descentralizado, e eu gostaria de colocar isso em prática em Curitiba’?
Felipe:
Não funciona porque a sociedade está crescendo. É uma tendência. Você vê em muitos locais de cidade essa questão de maior participação das pessoas.

Roberta: Você falou de voltar para o Brasil. Você esteve fora então?
Felipe:
Isso. Eu estive na República Tcheca, em Praga. Lá o Partido Pirata é forte e eles vieram com esse tema de transparência, uma maior democracia direta. Porém, claro, eles também têm as limitações, mas tiveram certos avanços. Tanto que lá em Praga você pode acessar quem é dono de todas as propriedades. Então você tem um site lá que você tem um mapa da cidade, você clica em determinado imóvel e você vê quem é o dono daquele imóvel. Isso facilita e regulariza os registros fundiários.

Katia: A Europa tem uma cultura de transparência muito mais arraigada, muito mais firme do que a brasileira, até porque tem legislações de transparência com mais de 100 anos, enquanto no Brasil as legislações de transparência tem 11, 12, 13 anos. Mas fazendo esse paralelo com gestão municipal, que é um pouco do que a gente queria ouvir de você, já que você morou numa outra cidade que tem alguns comparativos com Curitiba, uma cidade bastante cultural, uma cidade bastante turística, o que você viu em Praga que você acha que você poderia, como prefeito, implantar aqui em Curitiba?
Felipe:
Olha, Praga ali é realmente muito parecido com Curitiba. As pessoas são do mesmo estilo, o tempo também é muito fechado. E o que eu sinto falta é pagar o ônibus via mensalidade, ou via anual. Em Praga eu pagava anualmente 700 reais pelo uso do transporte público. E isso dá uma condição, uma qualidade do transporte muito maior. Aqui em Curitiba, a minha proposta para transporte seria uma mensalidade de 85 reais. E essa mensalidade permite você entrar nos ônibus por qualquer porta. Por exemplo, quando eu saí lá da PUC e peguei o ônibus, a gente ficou 10 minutos parado porque todo mundo precisava entrar na primeira porta e passar pela catraca. Lá em Praga, não. Lá em Praga a gente entrava por todas as portas. A catraca é um espaço que é inútil dentro do ônibus, que com a mensalidade você não precisa. A única coisa que você tem é que você vai ter fiscais nos ônibus que vão verificar se você pagou ou não aquele transporte. E é muito melhor que o sistema de pagar. Lá em Praga você paga o bilhete assim, por vez, quando você é turista. Você chega lá, está lá turistando, você não vai pagar um mês inteiro, você vai pagar uma vez só. Aqui o pessoal trata a população inteira como se fosse turista, porque eles, em grande parte, eles querem ganhar dinheiro. Agora, trazendo a mensalidade, você traz as pessoas pra usarem o ônibus. Ah, você quer andar 100 metros pra ir no mercado? Você vai, porque o preço é o mesmo. Aqui não, aqui você ‘pô, eu vou andar 1 quilômetro porque eu não quero pagar 6 reais agora’. Nesse sentido.

Roberta: Para o transporte coletivo você propõe não a tarifa zero, mas a estatização do sistema e essa mensalidade. A gente tem em Curitiba uma planilha de custos que resulta numa tarifa técnica bem acima do valor da tarifa que é cobrada, e olha que a nossa tarifa é uma das mais caras do Brasil. Então eu queria entender como é possível fazer essa transição com relação a custos de compra da frota, de como o município poderia se sustentar, mesmo que subsidiando uma parte, mas se sustentar com um transporte absolutamente público.
Felipe:
A tarifa zero seria a longo prazo, porque quando você tiver os ônibus automatizados, o preço da tarifa vai diminuir bastante. Só que em Curitiba, o Requeão já comenta bastante que Curitiba tem um sistema complexo e isso leva a ter pelo menos 5 mil cobradores, se não me engano, pelos meus cálculos. A tarifa zero vai levar à demissão desses 5 mil cobradores. Então a gente tem que primeiro conseguir realocar essas pessoas para poder colocar a tarifa zero. E claro, na questão do orçamento também. Por isso que a proposta inicial desse mandato seria uma mensalidade de R$ 85,00. E se você for pensar, Curitiba deve ter uns 2 milhões [de habitantes]. Se metade da população, 1 milhão, pagar os R$ 85,00, dá os R$ 85 milhões por mês, que vai dar no total R$ 1 bilhão no ano inteiro. Tá, mas 50% é muito. Vamos colocar 25% da população pague essa mensalidade. Aí vai dar em torno de uns R$ 500 milhões no ano inteiro, que é hoje que é o que a prefeitura paga pelo transporte.

Martha: Eu quero entrar num outro assunto, também lá do plano que você registrou no TSE, que seria o de suspender, revogar leis absurdas que o município tem. E entre eles, entre essas questões, são leis que tratam da questão da liberdade de expressão, e vocês defendem a liberdade de expressão irrestrita. Isso está muito próximo do que a extrema direita prega hoje, né?!
Felipe:
De uma forma demagógica. Eles defendem a liberdade de expressão quando eles dizem. A gente, por exemplo, já defendemos a Palestina e tivemos candidatos da extrema-direita que falam que pregam a liberdade de expressão que foi lá e processou alguns companheiros nossos. Pô, mas eles não estão defendendo a liberdade de expressão? Justamente por defender a Palestina e o grupo do Hamas. Agora, a gente defende uma liberdade de expressão porque quando você começa a censurar as pessoas, de um jeito e de um modo… Ah, hoje está batendo na direita, mas amanhã vai acabar batendo na esquerda. Então a gente sempre tem que a liberdade de expressão é necessária para defender o trabalho.

Martha: Ainda que seja, por exemplo, uma liberdade para contar grandes mentiras a respeito de um tratamento de Covid, por exemplo?
Felipe:
Sim, porque o debate é importante. O ruim é que, em grande parte, nessa questão da Covid, questão da vacina ou da política, a grande mídia gosta de converter em times de futebol e ela quer a briga, a polarização entre eles e derrubam o debate. Aí, quando você tem um debate interessante, muitas vezes a mídia vai lá e derruba esse debate e converte como se fosse time de futebol. Isso acaba não sendo legal.

Roberta: Eu queria entender qual que vai ser o critério para classificar o que é ou não é uma lei absurda. Quem vai decidir isso?
Felipe:
Não, calma aí. Esse não é o propósito do programa de Curitiba. Quando o partido criou essa ideia, tem outra cidade que tem assim ‘ah, você não pode falar mal, não sei o que e tal’. Tem algumas leis ali que o pessoal fez que colocou. E aqui em Curitiba já não tem, pelo menos que eu saiba, alguma coisa, assim, meio estranha que acabe censurando as pessoas.

Roberta: É uma proposta nacional, então, do partido que você importou para o plano municipal, mas não se aplicaria, vamos dizer, de forma prática aqui?
Felipe:
Isso. A ideia é que esse programa é uma diretriz nacional do partido e a gente, como a gente não tem gente suficiente, a gente está utilizando o mesmo programa para todas as cidades.

Katia: Você chegou a pensar num plano de governo pra Curitiba ou a gente pode assim intuir pelo número de votos do PCO em outros anos, pelo número de filiados, que na verdade a sua candidatura é muito mais pra trazer o debate do que… Dá pra dizer que você, nem sonhando, acha que vai se eleger?
Felipe:
Ah, não. Eu não vou me eleger. Existe todo um processo de comparação. Como candidato, eu percebi isso. Porque as candidaturas, elas são uma comparação de forças produtivas. Então, o candidato que vence, em grande parte, ele consegue movimentar as pessoas para trabalharem. Hoje muita gente utiliza o dinheiro, você paga a pessoa e a pessoa trabalha por você. Quem tem muito dinheiro vai ter uma força produtiva muito grande. Eu sou pequeno, tem muita gente ali que é voluntário, mas a gente tem que ter uma estrutura muito grande de mobilização e organização muito grande para conseguir vencer essa questão do dinheiro.

Katia: Mas quando você tenta convencer alguém a votar em você, você fala assim ‘o voto na candidatura do PCO é uma mensagem de eu não concordo com o capitalismo, não concordo com o modelo, o sistema instalado e não vou votar simplesmente porque acho que vou eleger’. Você faz esse discurso?
Felipe:
Exato, exato. A gente não tem essa força para conseguir bater de frente, para conseguir se eleger uma quantidade grande, para conseguir mudar. Então, o nosso é a partir das bases, a partir do trabalho, eu ali conseguindo ensinar as pessoas, conseguindo colocar no debate ali a quarta revolução industrial para poder o pessoal acordar, ‘pô, vamos tentar avançar essa tecnologia’. Nesse sentido.

Roberta: Você declarou, ou está lá no plano de governo, a questão da redução da força policial como um todo e entendo que também para Curitiba. Lógico, as forças policiais são geridas em esfera estadual e esfera federal e a gente tem a Guarda Municipal, que aí sim está sob guarda-chuva da Prefeitura de Curitiba. O que dentro dessa linha seria feito com a Guarda Municipal de Curitiba?
Felipe:
Eu gosto da ideia de, primeiro, a guarda municipal ser mais comunitária, mais popular. Assim como a ideia das subprefeituras serem do local, a guarda municipal também vai trabalhar no local onde ela habita. Ter essa proximidade. Agora, o segundo ponto na questão da segurança, é que a segurança não é o aumento de efetivo que vai fazer. A Suíça não é segura porque tem muitos policiais, é porque ela tem uma economia forte e aí a gente tem que desenvolver a economia para conseguir frear esse aumento da violência.

Roberta: E ali consta de um policiamento que seria feito de forma comunitária, não só pela guarda municipal, mas também pela população. De que forma seria viável? E eu já aproveito para perguntar, em função da bandeira do próprio partido, qual é a sua opinião sobre o armamento da população?
Felipe:
Aí você pega num ponto… A gente defende o armamento da população, simplesmente porque em algum momento o capitalismo e os empresários vão nos impor e a população precisa ter os seus meios de defesa.

Katia: Eu não entendi a relação com o capitalismo. Você quis dizer que a população precisa estar armada para reagir a um movimento dos industriários, dos comerciários, que se revoltariam com uma revolução?
Felipe:
Exato. O exemplo que dá para pegar é o Donbas, em 2014. Então, teve lá a revolta na Ucrânia e a parte do Donbas se levantou em armas e conseguiu se defender. Só que, claro, o capitalismo, o liberalismo, com o governo, foi e começou a guerra civil contra o pessoal do Donbas. E o Donbas é quase um governo operável. Então você tem lá uma estatização das indústrias, porque os empresários ali do Donbas, quando começou essa guerra civil lá, eles simplesmente fugiram e os trabalhadores ficaram com as indústrias. Eles acabaram estatizando toda a saúde, estatizaram toda a educação e criaram a lei que era proibido privatizar. E cada pessoa, cada local de trabalho, teria um representante na Câmara. Então eles se organizaram dessa maneira. Então veja que, nessa situação, o pessoal teve que pegar nas armas ali pra se defender. Aqui no Brasil a gente tem uma diferença, porque aqui no Brasil a política é muito mais refinada, justamente porque a pressão, principalmente climática, não é tanta. Lá na Ucrânia, se você não tiver casa no inverno, você não vive. Aqui, se você tiver um barraco, você acaba conseguindo. Então a pressão social não é muito alta. E a política aqui no Brasil, como vocês viram na história, sempre eram aqueles golpes palacianos, não sei o quê, embora a movimentação das massas eram muito altas.

Roberta: Pensando numa hipotética necessidade de uma luta armada, então a população se armaria de forma irrestrita. Você não tem medo das consequências disso, pensando que boa parte da população não tem nem condições emocionais, às vezes saúde mental, para ter uma arma dentro da sua casa? E fora o acesso de adolescentes, crianças, o risco das pessoas terem armas em casas, além, lógico, das pessoas que se armariam com a intenção de cometer crimes. Como é que você equilibraria tudo isso pensando nessa necessidade lá para frente, hipotética, de usar arma para uma outra questão?
Felipe:
A Suíça tem bastante gente armada, todo mundo que serve no exército traz consigo o rifle que pegou, e nem por isso lá o pessoal tá morrendo. Aqui no Brasil você tem muitos casos no Norte do país, de muito grileiro, de gente que, sei lá, na fazenda, como gente pequena, você precisa de uma arma pra conseguir se proteger. Então a gente acaba defendendo essa questão do armamento mais ali no interior do Brasil, principalmente, que é para o pessoal ali se proteger dos grileiros, em grande parte. Agora, na questão aqui de Curitiba, se a gente tem uma sociedade saudável, uma sociedade forte, não é a questão das armas que vai aumentar a violência.

Martha: O PCO prega que o voto útil deve ser totalmente repudiado. Como é que ficaria no segundo turno aqui em Curitiba? Qual a posição de vocês se, por exemplo, for um candidato da direita e outro da esquerda? Vocês vão votar nulo? Vocês não vão votar?
Felipe:
É, essa é uma treta, porque muitas vezes da esquerda o pessoal acaba tentando votar no menos pior, e o menos pior é muito alinhado com o mercado financeiro e acaba decepcionando as pessoas.

Katia: É o caso do Lula?
Felipe:
É. Infelizmente está sendo. Claro, a gente teve um avanço, que acabou culminando com o golpe de 2016. Porém, a gente esperava um maior desenvolvimentismo, ele está muito ligado com o pessoal financeiro, está privatizando muito, o próprio pedágio teve um aval do Lula. Porém, ainda não desestimos. Estamos mantendo a luta e vamos continuar apoiando o Lula no que for. Com o menos pior. Só que ele mobiliza, falta a mobilização das pessoas. E, claro, o partido não está apoiando o Boulos em São Paulo, porque a gente vê que o Boulos é um rapaz pró-imperialista. Então, igual o Boric. O Lula a gente não vê. Ele, como pró-imperialista, ele está muito mais ligado aos Brics. Por isso que a gente defende ele.

Bate-bola com Felipe Bombardelli

Um lugar de Curitiba: O passeio público
Uma comida de Curitiba: Carne de onça
Um clube de futebol de Curitiba: Paraná Clube
Uma personalidade pública de Curitiba: Roberto Requião
Curitiba no inverno ou no verão: Quando não chove, tanto faz a estação
Esquerda ou direita: Esquerda
Lula ou Bolsonaro: Lula
Um nome para o governo do Estado em 2026: quem não for liberal, privatizador

Como é a Sabatina Bem Paraná

O candidato Felipe Bombardelli foi recebido no Estúdio de Podcast do Bem Paraná. Quem comanda a Sabatina Bem Paraná é a experiente jornalista Martha Feldens, que também é responsável pelo blog sobre eleições no portal. Na entrevista de hoje, as jornalistas convidadas foram Katia Brembatti e Roberta Canetti.

Cada sabatina dura 40 minutos e é transmitida ao vivo pelo You Tube do Estúdio Bem Paraná, no Facebook , e Instagram do Bem Paraná.

Veja o calendário da Sabatina Bem Paraná

18/09 Luizão (Solidariedade)

19/09 Roberto Requião (Mobiliza)

20/09 Luciano Ducci (PSB)

Saiba como os outros candidatos foram na Sabatina Bem Paraná

Sobre as entrevistadoras de Felipe Bombardelli

Martha Feldens

Jornalista profissional com experiência em jornalismo diário impresso e on-line, com passagens por veículos da imprensa regional e nacional, como Jornal do Brasil, Editora Abril, Gazeta Mercantil e Grupo Band. Atuou também em comunicação governamental e assessoria política. Atualmente, produz o Blog da Martha Feldens, de política, no portal Bem Paraná, e o site de viagens Nuestra América.

Katia Brembatti

Com a série Diários Secretos, juntamente com três colegas, Katia Brembatti recebeu o Prêmio Esso, o Tim Lopes, o Ipys de melhor reportagem da América Latina e o Global Shining Light Award. É editora no Estadão Verifica, professora de Jornalismo na Universidade Positivo e presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), na gestão 2024-2025

Roberta Canetti

Roberta Canetti é jornalista, cofundadora da Bombai Comunicação e apresentadora da Rádio T. Formada pela PUCPR e graduada também em Direito pela UFPR, trabalhou como repórter (O Globo e Gazeta do Povo), produtora, editora e âncora de rádio (CBN, BandNews e Rádio T) e televisão (Band, RIC, Record News). Coordenou o Departamento de Vídeo da Prefeitura de Curitiba.

Ficha técnica

Coordenação e produção: Josianne Ritz
Produção e redes sociais: Luísa Mainardes
Operação e edição: Evandro Soares e Luísa Mainardes