“Tomamos medidas amargas, mas era preciso”, diz Beto Richa

Em entrevista exclusiva ao Bem Paraná, governador Beto Richa diz que Paraná está melhor que outros estados por ter antecipado ajuste fiscal

Da Redação

Bem Paraná – Estão previstos desdobramentos do ajuste fiscal realizado no Paraná, novas medidas para equilibrar as contas e inclusive dar maior fôlego à máquina pública?

Beto Richa – Iniciamos o ajuste em 2014 e hoje todo o Brasil reconhece os bons resultados conseguidos pelo nosso Estado. Há várias unidades federativas que já decretaram ‘calamidade financeira’. De alguma forma, todos os executivos – governadores e prefeitos – padecem das consequências da mais longa e profunda recessão da história republicana. Porém, o Paraná, que também sofre, está melhor por ter realizado esta reforma, que não foi só fiscal; cortamos custos, diminuímos gastos, aumentamos a eficiência. Foram medidas administrativas com outras politicamente amargas, mas necessárias para reequilibrar as contas e nos dar condições de atender às demandas dos paranaenses. As dificuldades persistem e temos que, permanentemente, agir de acordo com o que nos permite nossa receita e inclusive adotando novas medidas.

BP – Que novas medidas?

Beto Richa – Por exemplo: encaminhamos à Assembleia Legislativa um projeto de lei, em tramitação, que dá início a mais reformas, para redução de despesas e ingresso de novos recursos para o Tesouro e com foco em maior eficiência. Entre essas medidas, estão a conclusão do processo de extinção do Banco do Desenvolvimento do Paraná (Badep), em liquidação ordinária há 22 anos, e do Centro de Convenções de Curitiba (também em processo de liquidação), a incorporação da Mineropar pelo Instituto de Terras, Cartografias e Geociências, e a restrição das operações da Imprensa Oficial, que ficaria só com as publicações oficiais do governo, sem serviços para terceiros. Se essas medidas forem aprovadas, teremos um impacto positivo de R$ 170 milhões nos cofres do Estado. Projetamos também um corte de 15,9% nas despesas de custeio no orçamento de 2017.

BP – Apesar de não se aplicar diretamente aos estados, o teto de gastos proposto pelo governo federal deve afetar indiretamente os repasses da União para o Paraná. Teme que isso afete os investimentos e programas do Estado para os dois últimos anos de seu mandato?

Beto Richa – Claro que a situação econômica do País pressiona as contas e os projetos estaduais. Mas, é uma hora de responsabilidade de todos. O país é um só. Não tive qualquer dúvida em aderir ao Pacto Nacional, que estabelece princípios e compromissos para a redução das despesas do setor público. Além disso, sabemos que a própria União enfrentará impedimentos em seus programas, o que acabará se refletindo nos Estados. O Paraná já deu exemplo para o Brasil ao se antecipar à crise econômica e fazer seu ajuste fiscal. Agora, damos mais esta contribuição ao País. Defendemos que todas as instâncias de governos – federal, estaduais e municipais – se adequem a uma nova realidade. O momento é de dificuldades e todos devem entender isto. Devemos, contudo, continuar investindo em saúde, educação, segurança, ciência, enfim todas as demandas de cada cidadão, em todos os municípios. O maior desafio dos estados, atualmente, é ampliar a capacidade de investimentos e, para isso, é preciso ação por parte dos gestores. Sem austeridade e pulso firme não se governa.

BP – O que mudou na economia paranaense, do ponto de vista de conteúdo, durante o seu governo?
Beto Richa – Foi importante a desconcentração que houve na economia do Estado, em todos os setores. Um dos nossos principais programas, o Paraná Competitivo, com mais de R$ 45 bilhões em investimentos privados e públicos, é um dos agentes desta mudança. Ele não só contribuiu para a expansão industrial no Estado, mas a disseminou especialmente nas cidades do interior, no maior ciclo industrial da história do Paraná. Esta desconcentração da economia gera um significativo processo de redução das desigualdades e da pobreza.


Discutiremos reajuste só após pagar as dívidas

Bem Paraná – A propósito, o senhor sempre disse que a educação era prioridade de seu governo. Entende que do ponto de vista do magistério tem sido assim?

Beto Richa – Não tenho qualquer dúvida. Apesar de certas lideranças dizerem o contrário, os fatos não permitem interpretação dúbia. Em nosso governo, o magistério paranaense teve reajuste salarial de 82% e a ampliação da hora-atividade em 75%. O orçamento estadual para o setor tem superado o limite previsto por lei, colocando o Paraná como destaque nacional no fortalecimento da educação pública e gratuita. Nos últimos cinco anos, os professores e profissionais da educação do Paraná conquistaram avanços históricos em suas carreiras. A ampliação da hora-atividade, o plano de carreira, o aumento no salário e a estrutura de trabalho são destaques. Só não vê isto quem não quer. E digo mais: sempre que pudermos, melhoraremos as condições de trabalho para os professores e os profissionais da Educação.

BP – E em relação aos outros servidores estaduais, qual a sua avaliação?

Beto Richa – Há em todo o país problemas sérios criados em Estados que, infelizmente, não estão conseguindo pagar os salários dos servidores. O Paraná foi o único estado que concedeu 10,67% de aumento para os servidores públicos. Vamos também equiparar ao piso regional todos os salários que estão abaixo do mínimo estadual. A medida beneficiará 8,3 mil funcionários. Além disso, outros 16,3 mil servidores terão reajuste no auxílio transporte. O que tenho a dizer é que vamos fazer tudo olhando para as necessidades do funcionalismo, mas tudo com muita responsabilidade. Só voltaremos a discutir a data-base e o reajuste anual após pagar as dívidas com o funcionalismo de promoções e progressões. Vamos manter o equilíbrio fiscal e só assumiremos novas despesas a partir da reação da economia. Todos devem entender isto.

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“Reduzimos a pobreza e a desigualdade”

Bem Paraná – Que índice aferido pelo seu governo que lhe causa especial satisfação?

Beto Richa – O índice da redução da pobreza. Em 2009, os paranaenses considerados extremamente pobres somavam 373 mil pessoas. Em 2014, segundo a última informação disponibilizada pelo IBGE, este número foi reduzido para 159 mil pessoas. De acordo com projeções socioeconômicas, este número é ainda menor atualmente. Isto denota o acerto de nossas políticas sociais. Ao contrário do que propagam governos populistas, no Paraná estamos efetivamente criando empregos e gerando renda, e atendendo socialmente às demandas de nossa população, seja na saúde, educação, segurança, habitação, em todas as áreas. Isto é fundamental. Outra constatação fundamental é que o Paraná também reduziu a desigualdade social, segundo indicadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) baseados em dados de pesquisa do IBGE. De acordo com o levantamento, a população mais pobre ampliou a sua participação na renda total do Estado, enquanto o estrato social mais rico vem declinando. De 2009 a 2014, a participação da população mais pobre na renda domiciliar global do nosso estado subiu de 18,13% para 20,80%. Enquanto isto, a parcela da população mais rica (equivalente a 1%) caiu de 9,81% para 8,67%, no mesmo período. Outra constatação fundamental é que o Paraná também reduziu a desigualdade social, segundo indicadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) baseados em dados de pesquisa do IBGE. De acordo com o levantamento, de 2009 a 2014, a população mais pobre ampliou a sua participação na renda total do Estado, passando de 18,13% para 20,80%. Enquanto isto, a parcela da população mais rica (equivalente a 1%) caiu de 9,81% para 8,67%, no mesmo período. Cabe destacar ainda que o Paraná foi o primeiro estado brasileiro a adotar as metas globais definidas pelas Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável. Uma delas é exatamente a erradicação da pobreza.

Bem Paraná – Houve redução na concessão de Bolsa-Família no estado. O que isto quer dizer?

Beto Richa – Somos o segundo Estado que mais reduziu o número de dependentes do programa Bolsa-Família. Isto é uma consequência do nosso desenvolvimento econômico, que é real e mensurável; desenvolvimento, mesmo em um cenário de crise provocado pelo governo que passou 13 anos no poder em Brasília. Enquanto no país a soma das famílias beneficiárias do Bolsa-Família cresceu 8% de dezembro de 2010 a junho de 2016, no Paraná ela decresceu 17,4%. Dos R$ 21 bilhões pagos pelo Bolsa-Família em 2016 em todo o país, R$ 504 milhões foram destinados a beneficiários paranaenses, cerca de 4%. A conclusão é que o Paraná ficou menos pobre, ficou menos dependente de assistência, reduziu suas desigualdades sociais. Esta é a trilha que continuaremos seguindo.

Ainda não é hora de falar de eleição

Bem Paraná – O senhor pretende disputar o Senado em 2018?

Beto Richa – É prematuro comentar este assunto. O que pretendo é continuar administrando o Paraná com responsabilidade, austeridade e tendo o objetivo principal de atender as demandas dos 11 milhões de pessoas que vivem em nossos 399 municípios. Nas circunstâncias atuais, minha preocupação é só esta.

BP – Fala-se na possibilidade de uma composição com o ex-senador Osmar Dias, pré-candidato ao governo. Como vê essa hipótese?

Beto Richa A resposta é a mesma. Ainda não é hora.

BP – Se o senhor pudesse destacar as obras ícones de seu governo, quais citaria?

Beto Richa – Como disse anteriormente, são muitas. Só de obras viárias urbanas são mais de 3 mil em todos os municípios. Mas, penso que a que me deixa muito feliz é a redução de pobreza. Ela é emblemática de todo um plano de governo, que concretiza-se com a desconcentração da economia, a implantação de um processo industrial vigoroso, o apoio desmedido à agricultura, os investimentos significativos em infraestrutura (representados não só pelos avanços rodoviários, portuários e aeroportuários, mas também em energia, por meio da Copel, distribuição de água e saneamento, sob responsabilidade da Sanepar, habitação, a cargo da Cohapar etc.). Se eu fosse citar, uma a uma, seria até cansativo, apesar de muito compensador. Por exemplo: temos o fortalecimento das empresas públicas Sanepar, Copel e do Porto de Paranaguá. Com uma gestão moderna e ética, o porto tem batido recordes consecutivos de carga. A Sanepar, que ocupa a primeira posição no setor de infraestrutura no Sul no País e a segunda no cenário nacional, consegue essa excelência com a manutenção das obras para a ampliação da oferta de serviços, investimentos criteriosos e a dedicação e eficiência dos empregados. A Copel, que responde, e em muito, pela melhoria da qualidade de vida dos paranaenses, investiu R$ 2,72 bilhões nos primeiros nove meses deste ano. Isto representa o maior valor já investido pela Companhia em apenas um ano e ultrapassa os R$ 2,32 bilhões investidos ao longo de todo o ano de 2015. Portanto, atuamos em todas as áreas de governo, com programas e ações de grande forte demanda dos paranaenses. Há com evolução flagrante no que realizamos, com muito trabalho e investimentos, em Saúde, Segurança, Trabalho e Desenvolvimento Social, Esporte, Cultura, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Justiça, Turismo, Comunicação etc.


 

Investimentos

Municípios terão R$ 1,7 bilhão em 2017

Bem Paraná – As dificuldades financeiras impedem maiores investimentos em infraestrutura?

Beto Richa – Não podemos nos descuidar de investimentos, especialmente em infraestrutura, apesar das dificuldades. Temos consciência da relevância dos investimentos em infraestrutura urbana e viária para melhorar a economia e gerar empregos. Hoje, temos no Paraná a duplicação de 500 quilômetros de rodovias, a modernização e melhorias operacionais no Porto de Paranaguá, reformas em terminais aeroportuários etc. Ao mesmo tempo, desde 2011 o Estado garantiu R$ 2,2 bilhões para 3,3 mil obras e ações urbanas, dando suporte aos prefeitos para que a população paranaense tenha melhor qualidade de vida. Em cinco anos, foram realizadas 3.320 ações, obras e serviços urbanos.

BP – Na semana passada, em encontro de prefeitos, em Foz do Iguaçu, o senhor disse que o municipalismo era o grande legado de seu governo. Por que?

Beto Richa – A diretriz de nossa gestão sempre foi o municipalismo, porque entendemos que é nas cidades que as pessoas vivem e é onde precisamos investir para garantir o bem-estar de todos. Desde 2011, sempre trabalhamos ao lado dos prefeitos e prefeitas, sabendo das demandas e encontrando fórmulas, independente das oscilações da economia, para a realização de obras e de melhorias nos municípios. Em 2017, disponibilizaremos R$ 1,5 bilhão aos municípios, somados recursos a fundo perdido e linhas de financiamentos. Queremos atender o maior número de municípios para que tenham condições de fazer obras que melhorem a vida dos moradores.


Escolas

Ocupações foram ideológicas e partidárias

Bem Paraná – Qual a principal característica de seu governo?

Beto Richa – Desde o primeiro dia, nosso governo caracterizou-se por diálogo, em todas as instâncias, e por respeito, em todos os setores. Talvez esses tenham sido os combustíveis que nos possibilitaram implantar e consolidar programas vitais para a economia e os projetos sociais. Nossa relação é de respeito com o Legislativo, reproduzido também em estreita interação com o Poder Judiciário, o Tribunal de Contas do Estado e o Ministério Público. Mantemos um relacionamento de respeito mútuo com líderes políticos que põe à parte as eventuais diferenças partidárias, tornando possível pavimentar um atalho rumo à gradual eliminação de divergências eventuais e de um futuro melhor para o Paraná. Um respeito geral, mas principalmente à comunidade, com quem sempre mantivemos abertos os canais de diálogo.

BP – Recentemente, um grande número de escolas do Paraná, como em todo o Brasil, foi ocupado por estudantes, que se manifestavam contra a PEC 241 e PEC 746. O que o governo do Paraná propôs como solução para uma situação como aquela?

Beto Richa – Primeiro, é preciso deixar claro que o pretexto para a invasão eram projetos de emendas constitucionais. Mas, o que ficou ainda mais claro que por trás de tudo havia motivações ideológicas e partidárias. Desde o início, defendi o diálogo, que quase sempre foi rechaçado pelas ditas lideranças estudantis. Mas, o fundamental é que nosso governo sempre defendeu um amplo debate com a comunidade escolar para definir a implantação, no Paraná, da reforma do ensino médio.