Sob pressão dos aumentos de preços da energia elétrica e dos alimentos, a prévia da inflação oficial no País acelerou de 0,13%, em setembro, para 0,54% em outubro, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira, 24.

O resultado fez a taxa acumulada em 12 meses voltar a subir, após dois meses seguidos de queda: de 4,12% para 4,47%, próxima ao teto da meta perseguida pelo Banco Central – que é de 3% no ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.

Segundo analistas, houve piora em algumas das principais métricas qualitativas da inflação no período, o que tende a referendar a intensificação do ritmo de aperto monetário na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em novembro, quando se espera uma elevação de 0,5 ponto da Selic (que pularia de 10,75% para 11,25%).

“Os choques recentes no câmbio, energia e alimentação já traziam um viés para cima, porém o comportamento mais pressionado dos núcleos e dos serviços subjacentes trazem riscos adicionais”, escreveu o Bradesco, em relatório. A medida de serviço subjacente exclui do conjunto total de serviços aqueles itens com maior volatilidade, como passagens aéreas ou excursões.

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA-15, oito tiveram aumentos de preços em outubro, com destaque para a alta de 1,72% nos gastos com Habitação. Neste caso, o maior peso veio da energia elétrica residencial, com alta de 5,29% – o equivalente a cerca de 40% de toda a inflação de outubro. Já Alimentação e Bebidas teve elevação de 0,87% no mês, com destaque para leite e derivados (1,49%) e carnes (4,18%).

Reação do mercado

A divulgação da prévia do IPCA de outubro, que bateu em 0,54%, levou o mercado a prever aumento de pressões de preços no curto prazo, o que pode provocar o estouro da meta no ano – de 3%, com margem de tolerância até 4,5%.

Um dos pontos destacados pelos analistas tem a ver com os chamados serviços subjacentes, métrica que exclui do conjunto total aqueles itens com maior volatilidade. Segundo cálculos do Banco BV, esse grupo acelerou de 0%, em setembro, para 0,59% em outubro, acima do teto das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), de 0,58%. Com o resultado, a variação acumulada nos últimos 12 meses foi a 5,09%.

Na avaliação do economista da XP Investimentos Alexandre Maluf, os dados divulgados ontem reforçam “a tendência de deterioração” da inflação no País. “Não apenas porque as métricas mais relevantes para a condução da política monetária superaram as expectativas, mas também porque os fundamentos (expectativas, dados do mercado de trabalho, demanda doméstica e câmbio) indicam que a inflação não irá convergir (para a meta) sem uma resposta adequada da política monetária”, justifica. A XP estima um IPCA de 4,6% em 2024, mas a projeção tem viés de alta, segundo Maluf. A estimativa em tempo real (tracking) da corretora já aponta, por exemplo, para inflação de 4,7%.

A piora nas métricas qualitativas do IPCA-15 de outubro também foi destacada pelo economista do Santander Brasil Adriano Valladão. Ele cita, além dos serviços subjacentes, a aceleração de bens industriais (que passaram de 1,3% para 1,6% no acumulado de 12 meses, nos seus cálculos), movimento que pode ser um dos reflexos da recente desvalorização cambial.

A estimativa em tempo real do Santander Brasil para o IPCA no ano segue em 4,7%, mas Valladão destaca que há muita incerteza quanto ao comportamento dos preços à frente, sobretudo no caso da energia elétrica.

Haddad

Em Washington, onde participa das reuniões anuais do FMI, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que ainda há uma preocupação com o impacto da seca na inflação, mas que o resultado final deve ficar dentro da meta.

“Nós ainda estamos preocupados com a questão da seca, tanto em relação à energia quanto em relação a alimentos, embora os núcleos tenham apontado uma avaliação superior à esperada”, disse Haddad. “No acumulado do ano, nós estamos entendendo que a inflação deve ficar dentro da meta e, do meu ponto de vista, tem mais a ver com a questão do câmbio e da seca do que propriamente com algum impulso maior nos preços.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.