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Biomassa roçada e contida na borda do rio – Foto: Larissa Teixeira

Em dois anos, seis hectares dos manguezais e brejos da baía de Antonina, no Paraná, devem estar livres das espécies de capins exóticos invasores, o chamados de braquiárias-d’água. Essa é a meta do projeto “Olha o Clima, Litoral!” – da OSC paranaense Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais (que recentemente completou 41 anos de atuação), em parceria com a Petrobras, pelo Programa Petrobras Socioambiental.

Segundo a organização, a restauração em áreas de estuário, onde ocorre o encontro do rio com o mar, e que são constantemente alagadas, é bastante complexa. Mais de 75 hectares da baía de Antonina já foram tomados por esses capins africanos, trazidos nos anos 80 para a região, para servir de pasto para búfalos.

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As criações destes animais diminuíram consideravelmente no litoral do estado, mas as braquiárias-d’água seguem crescendo livremente, favorecidas por características da região, como a umidade e o calor, e por transformações no rio Cachoeira ao longo dos anos, após a construção da Represa do Capivari-Cachoeira.

O resultado é desastroso: árvores de mangue e grandes áreas de brejos salinos cobertos pelos capins, resultando em animais e pássaros da região sem condições de viver e de se reproduzir nesses ambientes impactados.

Rico em nutrientes, propício à formação de manguezais e outros ecossistemas associados, o estuário tem biodiversidade exuberante e funciona como um berçário natural para a vida marinha, protegendo a costa e fornecendo alimento para inúmeras espécies, incluindo o ser humano.

A baía também desempenha um papel socioeconômico crucial, impulsionando a pesca e o turismo na região. “Esses ecossistemas costeiros atuam como barreiras naturais contra os impactos das mudanças climáticas, reforçando sua relevância para a sustentabilidade do planeta”, explica a coordenadora do projeto, a bióloga Karina de Oliveira (CRBio 08208/07-D).

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Vista aérea da baía de Antonina, mostrando áreas restauradas pelo projeto “Olha o Clima, Litoral!” – Foto: Larissa Teixeira

Um grande desafio

A equipe do projeto sabia que o trabalho seria intenso: o terreno lodoso, as cheias e a persistência das braquiárias-d’água em sobreviver, mesmo depois de roçadas, foram apenas algumas das dificuldades. Para removê-las, não é possível usar máquinas de grande porte, nem herbicidas, o que exige bastante esforço físico. A técnica utilizada pelo projeto para erradicar os capins é inovadora: consiste em cortá-los rente à raiz, com roçadeiras, e conter o que foi roçado no local, para abafar o que restou, evitando a rebrota e também que se espalhem no rio com a alta da maré. Depois, são necessárias manutenções com a remoção manual de novas mudas. 

No início do projeto, em outubro de 2022, foi preciso adiar em um mês as atividades devido às fortes chuvas e deslizamentos que impactaram a região, fechando estradas e dificultando o acesso às áreas de manejo. “Precisamos também adaptar o período de roçada com a fase lunar ideal, já que a maré influencia diretamente a acessibilidade aos locais de trabalho”, conta a pesquisadora responsável pela restauração do projeto, Larissa Teixeira. 

O terreno lamacento e instável não foi o único desafio para a equipe, que trabalhou em condições difíceis, atolando-se na lama durante as atividades de manejo. “É realmente difícil erradicar as braquiárias-d’água porque elas são resistentes, crescem muito rápido [até 7 cm por dia] e brotam com facilidade. São necessárias cerca de seis revisões de roçada para garantir que o capim não vai brotar novamente. Por isso, enfrentamos também resistência da população em acreditar que nossas técnicas realmente poderiam funcionar”, conta Larissa.

Para reforçar a descrença, são poucas as experiências prévias de restauração ecológica de manguezais e brejos salinos com a erradicação de braquiárias-d’água. Projetos realizados anteriormente pelo Mater Natura na baía de Guaratuba serviram de teste e aprimoramento das técnicas de manejo aplicadas pelo projeto “Olha o Clima, Litoral!” na baía de Antonina, mas a meta de restaurar 6 ha é a maior já proposta pela instituição.

Além disso, a proliferação das braquiárias-d’água da baía de Antonina foi maior que o esperado no período, devido às alterações na salinidade do estuário, às solturas de água da Represa do Capivari e aos fenômenos climáticos, como chuvas intensas. No verão, as braquiárias rebrotaram com força total, dificultando ainda mais o trabalho de revisão. 

“Vimos que também é relativamente comum moradores ou visitantes que praticam pesca no local cortarem as braquiárias-d’água que estão fechando canais para pescar, por exemplo, e depois soltarem os pedaços no rio, o que ajuda a espalhá-las ainda mais na baía”, relata. 

Superação

Para dar conta da meta no prazo previsto, a equipe precisou realizar mutirões com o apoio de voluntários. Foram também adotadas novas técnicas de manejo, como o uso de lonas para abafar as braquiárias-d’água e uso da própria biomassa roçada como cobertura do solo. Além disso, a equipe passou a monitorar e conter as moitas de braquiárias-d’água que desciam o rio. 

Além disso, a proliferação das braquiárias-d’água da baía de Antonina foi maior que o esperado no período, devido às alterações na salinidade do estuário, às solturas de água da Represa do Capivari e aos fenômenos climáticos, como chuvas intensas. No verão, as braquiárias rebrotaram com força total, dificultando ainda mais o trabalho de revisão. 

“Vimos que também é relativamente comum moradores ou visitantes que praticam pesca no local cortarem as braquiárias-d’água que estão fechando canais para pescar, por exemplo, e depois soltarem os pedaços no rio, o que ajuda a espalhá-las ainda mais na baía”, relata. 

Sobre o projeto “Olha o Clima, Litoral!”

O projeto “Olha o Clima, Litoral!” atua para a manutenção da biodiversidade e a resiliência à mudança climática no litoral do Paraná, com foco na conservação e na restauração de manguezais e ambientes associados. É realizado pelo Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, em parceria com a Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, na linha de atuação de Florestas.

O projeto visa desenvolver e implementar, de forma participativa, estratégias e práticas de Adaptações baseadas em Ecossistemas (AbE) dirigidas aos manguezais, brejos salinos e comunidades do litoral paranaense. Com a abordagem da Teoria da Mudança, atua nas áreas de restauração ecológica, monitoramento de flora e avifauna, adaptação à mudança climática, articulação territorial e ações socioambientais.