Manter a atenção de um aluno durante a aula tornou-se tarefa quase impossível para os professores diante da concorrência desleal dos celulares que dão acesso a redes sociais e a um divertido mundo digital.
A questão do celular em sala de aula hoje não está mais centrada no inconveniente do ruído ao se receber uma ligação. O problema não é simplesmente se o aluno pode ou não conversar ao celular. Aliás, a geração atual pouco fala ao celular. Silenciosamente, olhos e dedos percorrem e tateiam as telas dos smartphones, enquanto o professor fala ou orienta alguma atividade, numa dispersão que nem sempre é ruidosa ou barulhenta. O silêncio e a apatia durante a aula podem ser decorrentes exatamente da absorção no uso de aplicativos para troca de mensagens.
Para muitos, a solução é impedir a entrada desses aparelhos em sala de aula. Parece-me, no entanto, que a questão não é proibir o celular nem liberar seu uso indistintamente durante as aulas.
Se o celular pode desconectar o aluno da aula, ele também pode servir como recurso para conectar pessoas e informações ao contexto da aula. De forma planejada e orgânica, as funcionalidades e os recursos do celular podem integrar a aula e possibilitar a realização de atividades que demandam pesquisa de dados e informações, registro de imagens e sons, auxílio na realização de cálculos etc.
Até mesmo em atividades fora da escola, o celular pode permitir facilmente o registro, o armazenamento e o compartilhamento de ações, procedimentos, imagens, informações e impressões, como numa visita guiada em que os alunos vão anotando e gravando no aparelho o desenvolvimento e avaliação da atividade.
É claro que a intensidade, conveniência e eficiência da utilidade do celular como recurso didático precisam levar em conta a faixa etária dos alunos e a pertinência do conteúdo ou atividade desenvolvida. Não se trata, portanto, de seguir um imperativo do uso do celular em toda aula e durante todo o tempo.
Lidar com o desafio do uso do celular na escola não é simples, tampouco comporta um receituário aplicável a todas as faixas etárias e atividades didáticas. Um critério que deve guiar professor e gestores nas decisões e projetos envolvendo o celular é a sua viabilidade como recurso para conectar pessoas e conteúdos na aventura do conhecimento. A aprendizagem móvel, objeto de um documento produzido pela UNESCO em 2014 (Diretrizes de políticas para a aprendizagem móvel), precisa ser apropriada pela escola e integrada às práticas pedagógicas.
Lembrando os versos de Fernando Pessoa (Sê todo em cada coisa. Põe quanto és / No mínimo que fazes), é preciso promover e garantir a presencialidade do aluno durante a aula, valendo-se inclusive do uso didático-pedagógico do celular.

Luís Cláudio Dallier Saldanha, é doutor em Educação e Diretor de Serviços Pedagógicos da Estácio