Depois de 44 anos, o boxe brasileiro voltou a figurar no lugar mais alto do pódio em Jogos Pan-Americanos. O baiano Pedro Lima conquistou a medalha de ouro na categoria meio-médio, ontem, ao vencer por 7 a 6, de forma dramática, o norte-americano Demetrius Andrade na decisão. Ele repetiu o feito de Luiz Leônidas César (médio), Elcio Neves (médio ligeiro) e Rosemiro Mateus Santos (pena), nos Jogos de São Paulo em 1963.

Obstinado, Pedro não se intimidou com o maior porte físico de Andrade, que tem ascendência cabo-verdiana. Dominou quase todo o combate e entrou no quarto e último assalto com vantagem de 5 a 3, mas permitiu a virada a 55 segundos do fim. “Atira golpes!”, gritou, então, o técnico Luis Carlos Dória. Empurrado pela torcida inflamada dos companheiros de seleção, Pedro retomou a vantagem 12 segundos do fim, para não largar mais. “Nem sei o que pensei quando acabou a luta, ainda estava trocando golpes com ele”, contou Pedro. “Parti para o coração e consegui virar. Foi na garra.”

A vitória levou o Pavilhão 2 do Riocentro ao delírio. O ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, que assistia ao combate da primeira fileira, aplaudiu com grande entusiasmo. O ex-campeão mundial Acelino Popó Freitas, chefe da delegação brasileira no Pan, chorava, como de costume. “Acabou o sufoco”, gritava Popó, que foi medalha de prata como leve, em Mar Del Plata, em 1995.

Pedro tentava escolher as palavras, mas não conseguia. Era hora de lembrar os tempos difíceis da infância, em que vendia chocolates e picolés em Riachão do Jacuípe, no nordeste baiano. “Eu batalhei, eu sofri, mas foi com fé em Deus que cheguei até aqui”, vibrava o pugilista, descoberto por Dória aos 15 anos nas ruas.

A relação dos atletas com o treinador chama a atenção pela intensidade. Dória chegou a gastar do seu bolso para comprar remédio para Pedro, no início da carreira do campeão. Foi na academia do técnico, em Salvador, que quatro pugilistas fizeram, por 42 dias, a preparação para o Pan: Pedro, Rogério “Minotouro” Nogueira, Éverton Lopes e Paulo Carvalho. O restante da equipe treinou em Santo André. “Todos eles são muito humildes e fazem parte da minha família.”

O bom desempenho no Pan pode até atrair os brasileiros para o profissionalismo, mas, no que depender de Dória, esse passo só será dado após 2008. “Nosso objetivo é Pequim”, avisa. A única medalha olímpica do País foi a de bronze conquistada por Servílio de Oliveira no longínquo 1968, na Cidade do México.

BALANÇO POSITIVO – A alegria só não foi maior no Pavilhão 2 do Riocentro porque minutos antes o também baiano Éverton Lopes foi esmagado na decisão dos leves por 21 a 8 pelo cubano Yordenis Ugas, e ficou com a medalha de prata. Mas, de forma geral, a campanha do boxe – que terá seis finais neste sábado, nenhuma com brasileiros – no Pan foi boa: além das duas medalhas conquistadas nesta sexta, foram mais seis de bronze (Myke Carvalho, James Dean Pereira, Glaucélio Abreu, Davi Souza, Rogério Minotouro e Rafael Lima), o que dá quatro vezes mais de os dois bronzes de Santo Domingo, em 2003.

“A qualidade nós sempre tivemos, faltava investimento”, afirma um dos outros três técnicos da seleção, Ulisses Silva, que credita aos recursos da Lei Piva o começo da recuperação do esporte.