Jogos mostram desigualdade de patrocínios para modalidades esportivas

Diversas modalidades dependem somente de repasses da Lei Agnelo Piva

Aécio Amado - Agência Brasil

Rio de Janeiro – Os recursos financeiros oriundos de patrocínio de
empresas estatais aplicados nos esportes olímpicos no Brasil não
obedecem a um critério de equidade entre as diversas modalidades. Nos
Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, as desigualdades ficaram
evidentes. Vôlei, natação e atletismo possuem patrocínios de empresas
estatais, contudo muitas outras dependem somente de repasses da Lei
Agnelo Piva.

Há esportes que são mais patrocinados como o vôlei (Banco do Brasil), a
natação (Correios), a ginástica artística e o atletismo (Caixa
Econômica Federal). E outros que não têm patrocínio e dependem apenas
dos recursos da Lei Agnelo Piva e do programa Bolsa Atleta do
Ministério do Esporte. É o caso do boxe, do taekwondo, do beisebol, do
levantamento de peso e do futebol feminino.

Para o professor da Escola de Comunicação e Marketing da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo Serpa, essa desigualdade
decorre muito mais da falta de organização de algumas confederações,
que não conseguem vender o seu esporte ou atletas, do que das empresas
patrocinadoras.

Marcelo Serpa defende a profissionalização dos dirigentes das
confederações como uma das soluções para que as modalidades olímpicas
ganhem mais visibilidade junto ao mercado publicitário. Segundo ele, é
preciso que os dirigentes conheçam como funciona o mercado de
patrocínio para poder tirar vantagem dele, porque as empresas
patrocinadoras só investem naquilo que lhe dá retorno.

“O patrocinador investe o seu capital numa determinada modalidade não
apenas por amor a essa modalidade. Obviamente são empresas, e se
interessam por retornos específicos, retornos de imagem. E isso faz
parte de um projeto de comunicação mercadológica. Então é preciso que
as confederações e os atletas se organizem para poder compreender o que
são esses retornos, para poder oferecer esse retorno de forma eficaz”,
explicou.

Na avaliação do professor da Escola de Comunicação e Marketing da UFRJ,
Marcelo Serpa, nem tudo é dificuldade. De acordo com ele, o esporte
olímpico no Brasil já caminha para essa profissionalização na área do
marketing, com algumas confederações com esse processo de aprendizado
bem adiantado.

O ministro do Esporte, Orlando Silva, entende que o problema não é
apenas da falta de organização das confederações, e cita como exemplo a
Confederação Brasileira de Vela e Motor, modalidade que mais trouxe
medalhas olímpicas para o Brasil, com profissionais experientes na área
de marketing e, mesmo assim, não  consegue um patrocinador permanente.
Para o ministro, isso é conseqüência da própria modalidade, que tem
pouca visibilidade junto ao público consumidor e dificulta o acesso ao
patrocínio.

Orlando Silva espera que esse comportamento mais conservador do
empresário em relação a modalidades sem apelo popular mude com a lei de
incentivo ao esporte. A lei prevê que empresas que declaram o Imposto
de Renda pelo lucro real poderão aplicar até 4% do imposto devido em
projetos esportivos. “Com a lei de incentivo, o empresário pode ser um
pouco menos conservador. Até porque o recurso que ele gasta (com o
patrocínio), ele desconta com o imposto que iria pagar ao Estado. Então
ele pode experimentar mais, pode arriscar mais”, disse.