Juliana e Marílson são um casal no pódio do Pan

Pela primeira vez, a corredora desviou as atenções que normalmente são para o marido

Agência Estado

Na família Santos, o ouro que parecia estar garantido com Marílson, na prova dos 10 mil metros, acabou nas mãos de Juliana, nos 1.500 metros. Pela primeira vez, a corredora de 24 anos desviou as atenções que normalmente são para o marido, que nesta sexta ficou com a prata. “Eu nunca passei por uma emoção como essa”, disse a paulista de Cubatão, que venceu a prova em 4min13s36, com um sprint na reta final. “Foi uma sensação maravilhosa. Você encosta nos adversários e os gritos da torcida te levam embora, você nem percebe. Eu senti isso na pele.”

Juliana conquistou a quarta medalha de ouro para o Brasil no atletismo, mas foi a única a ganhar um grande presente da torcida: o público cantou com ela o Hino Nacional durante a cerimônia no pódio.

Marílson também participou de uma prova emocionante, definida nos últimos centímetros antes da chegada. Acabou repetindo a prata do último Pan, com o tempo de 28min09s30 – a vitória ficou com o mexicano José David Galvan por uma diferença de menos de um segundo. Uma vitória para ele, que quase não competiu, após passar os últimos três dias com uma inflamação na garganta. “Não conseguia dormir direito, acordava com dores no corpo. Pensei muitas vezes em parar, porque não estava me sentindo 100%.”

Por causa da programação das provas, o fundista mal pôde ver a esposa competir, mas não deixou de comemorar a conquista. “As provas de pista não têm o mesmo reconhecimento das provas de rua Eu sou mais valorizado porque ganhei a São Silvestre, a Maratona de Nova York. A Juliana tem grandes resultados mas não recebe o mesmo reconhecimento. Eu pedi a Deus que, se ele tivesse que dar uma medalha, que fosse para ela.”

Sempre presente ao lado de Marílson durante suas grandes conquistas, Juliana ainda não havia conquistado um resultado importante em competições adultas. Sua maior conquista, até então, havia sido em 2002, quando foi medalha de bronze nos 800 metros no Mundial Júnior da Jamaica, em Kingston. Bastante emocionada, a corredora agradeceu o apoio incondicional do marido. “Ele é muito modesto”, apontou. “Ele acompanha meus treinamentos, é meu outro treinador, mais da parte psicológica. Ele sabia que eu queria ir longe na competição. Desclassifiquei logo na primeira prova (os 800 metros) e ele foi fundamental.”

Enquanto Marílson corria pela medalha de prata, Juliana trabalhava na pista de aquecimento, na parte externa do Estádio João Havelange. O que não a impediu de saber do resultado dos 10 mil metros, pelo técnico de ambos, Adauto Domingues. “Eu fiquei com medo que me atrapalhasse correr logo depois do Marílson, porque fico muito nervosa vendo ele correr. Durante o aquecimento eu tentei me concentrar ao máximo, mas quando fiquei sabendo do resultado, pensei: agora é a minha vez.”

Marílson e Juliana são casados há cinco anos e moram na cidade de Santo André. Agora, já pensam em ampliar a família. “Estamos juntos durante esse tempo mas nunca pensamos em filho. Mas a partir de agora pode ser um bom momento.”