Rio de Janeiro – Quem chega a Padre Miguel, bairro na zona oeste conhecido pelo samba da Mocidade Independente, logo percebe que os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro têm uma estrela: a velocista Rosângela Santos. Algumas faixas nas ruas e na Vila Olímpica Mestre André, local onde ela iniciou no esporte, mostra o carinho da comunidade com a caçula do atletismo brasileiro, que compõe a equipe na prova 4 x 100 metros. A atleta, de 16 anos, é um expoente dos mais de três mil jovens que praticam diversas modalidades nas dependências da Vila Olímpica.

A jovem velocista carioca ganhou a medalha de prata no Campeonato Mundial Juvenil de Atletismo, disputado na República Tcheca no início deste mês, na prova dos 100 metros rasos. Sua linhagem, entretanto, não é de atletas, mas de sambistas – seus tios são fundadores da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Rosângela é sobrinha do mestre Jorjão, diversas vezes campeão do carnaval na bateria da Mocidade, agora na Imperatriz. Apesar de gostar de samba, a atleta descobriu que tinha talento para o esporte ao fazer parte da escolinha de atletismo da Vila Olímpica.

O local é mantido pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Foi criado há cinco anos numa área que era usada por traficantes para venda e consumo de drogas. São 1,7 mil metros com duas quadras poliesportivas, campo de futebol, pista de atletismo, piscina semi-olímpica, sala de jogos e de dança. Crianças, jovens, idosos e portadores de deficiência física praticam 18 modalidades esportivas gratuitamente, entre futebol, basquete, judô, jiu-jitsu, vôlei, natação, atletismo e capoeira. Oito comunidades vizinhas a Padre Miguel utilizam as dependências da Vila Olímpica, a primeira a ser criada na capital carioca.

“Aqui era ponto de venda de drogas. A partir da criação da Vila, esse local mudou a realidade da região, dando mais qualidade de vida aos seus moradores. Resgatamos valores perdidos, como o respeito e a união”, destaca o coordenador técnico da Vila Olímpica, Paulo Henrique Oliveira Júnior. O líder comunitário Clódio Alves da Invenção Filho concorda, e ressalta que o espaço reacendeu no lugar o amor pelo esporte e a cidadania. “A região ganhou densidade populacional e perdemos espaço para o esporte e o lazer. A Vila foi uma dádiva. É a casa do esporte. Aqui, os jovens aprendem o caminho para o bem.”

Os filhos do aposentado Francisco Baltazar Soares de Souza, 57 anos, fizeram judô na Vila Olímpica. “A prática do esporte tirou minhas crianças da ociosidade, ajudando no encaminhamento cidadão dos meus filhos”, frisa Baltazar, que faz parte da Turma da Melhor Idade e pratica ginástica e hidroginástica com os irmãos Ipólito e Wandyr Trindade. Segundo eles, o nome da Vila Olímpica é uma homenagem ao falecido Mestre André, que por muitos anos foi o mestre da bateria da Padre Miguel e “ajudava muito a comunidade”.