Artista exibe obras em coutoria com pessoas surdas e cegas no MuMA

Marianna Camargo

Daniel Dach abre mostra que dialoga com acessibilidade e isolamento social. Foto: Fernanda Carollo

Abre no dia 8 de abril, no Museu Municipal de Arte de Curitiba (MuMA), a exposição Imersão, do artista visual Daniel Dach. Com obras em vídeo-arte e instalações, o projeto tem coautoria de pessoas surdas e cegas, num processo que dialoga com acessibilidade e isolamento social e que conta com o apoio do Instituto Paranaense de Cegos (IPC).

A ideia do projeto surgiu ainda durante o confinamento da pandemia da Covid19, quando o mundo vivia a incerteza de quando as pessoas poderiam voltar a frequentar os museus e instituições de arte. “No período isolado, eu pensei muito sobre o acesso aos museus e o quanto um lugar que foi feito para apresentar obras que necessitam de visão e audição, deixa de fora, na maioria das vezes, a acessibilidade de pessoas com algum grau de deficiência ou dificuldade de comunicação”, explica Dach.

Por isso, para o edital do Fundo Municipal de Cultura da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), o artista decidiu propor a criação de obras de arte que envolvam, em todo seu processo, a ajuda e a criatividade de pessoas cegas e surdas. “É um trabalho idealizado por mim, mas construído de maneira totalmente coletiva”, conta.

Para o colaborador Manoel Negraes, parceiro do Instituto Paranaense de Cegos, a iniciativa artística é inovadora e traz maior visibilidade para pessoas cegas. “É incrível um artista fazer uma obra, já pensando em acessibilidade na concepção do trabalho”, comenta. “Aqui em Curitiba, eu não lembro de ter presenciado isso e estamos muito felizes, pois tira a invisibilidade que existe dentro dos museus”, completa Manoel.

Ao todo, serão expostos seis vídeos, feitos em um estúdio criado na casa do próprio artista. Por lá, em cerca de oito horas de gravação, artistas, técnicos e colaboradores leram e interpretaram obras em Braille, – sistema de escrita utilizado para garantir que pessoas cegas ou com baixa visão possam ler, e em Libras, Língua Brasileira de Sinais, onde é possível, numa modalidade gestual-visual, se comunicar através de gestos, expressões faciais e corporais.

A colaboradora Estefany Duarte Oliveira, conta que a iniciativa é também uma realização pessoal. “Eu estou muito emocionada e realizando um sonho, porque sempre quis ser filmada, estar num estúdio de gravação”, diz. Estefany está pela primeira vez num projeto artístico e escolheu um trecho do filme Como Eu Era Antes de Você para ler. “É um filme que fala de amor e é justamente essa mensagem de carinho que eu quero passar”.

Ainda, a exposição conta com instalações que lembram as estruturas de uma casa e que representam o confinamento imposto pela pandemia e os costumes que mudaram em todo mundo, como a adaptação da maioria da população ao home office, por exemplo. Nos vídeos, para compor cenários que fazem simbiose com o isolamento social, Dach traz objetos cotidianos, presentes na maioria dos lares e que foram tão comuns aos olhos de todos que ficaram presos dentro de suas próprias casas por conta das questões sanitárias.

Para o curador da mostra, Guilherme Zawa, a questão central está na palavra “Acesso”. “Essa palavra, no Brasil, já é uma camada, visto que a maioria da população não tem acesso, por exemplo, à cultura”, comenta. “No trabalho artístico do Dach, ele fala sobre um ‘não ver’ e ‘não ouvir’, justamente dentro de uma instituição que prevê que se veja e se ouça e isso se torna o eixo de diálogo com o espectador”, completa Zawa.

Sobre o artista
Daniel Dach nasceu em Curitiba, em 31 de janeiro de 1979. Formado em Artes Visuais com ênfase em Fotografia, Cinema e Computação Gráfica pela Universidade Tuiuti do Paraná, é também pós-graduado em História da Arte Contemporânea pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná.

Dach se expressa através da pintura, instalações e vídeos-arte. Tendo em seu currículo exposições no Museu Oscar Niemeyer, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Casa Andrade Muricy e Museu da Gravura, ele também é organizador e idealizador da Bienal do Pilarzinho, evento de artes paralelo à Bienal de Curitiba e que já expôs trabalhos de mais de 300 artistas ao longo de 12 edições.

Desde 2011, também trabalha na direção de arte de curtas e longas, tendo o cinema como uma de suas principais influências para criação colaborativa e coletiva.

Coautores
Allan Nikitis é consultor nas áreas de audiodescrição e consultoria digital, com foco em acessibilidade. Além disso, é Coordenador da Coordenadoria de Arte e Deficiência do Sindicato dos Artistas e Técnicos do Paraná (SATED) e Cofundador da Associação Além Da Visão, que desenvolve projetos para pessoas cegas, como o Teatro Além da Visão.

Gabriela Grigolin, conhecida como Negabi, é estudante de teatro da Faculdade de Arte do Paraná (FAP). Também, se reconhece enquanto mulher negra, mãe, periférica, slammer, poeta, atriz e diretora de teatro surdo.

Gabriely do Carmo Siqueira tem 17 anos e vai começar o bacharelado em artes cênicas esse ano. Ela já nasceu com deficiência visual total e foi alfabetizada em braille com seis anos de idade. Além do teatro, gosta de literatura, canto e tocar instrumentos musicais.

Paula Roque é atriz surda e poeta. Mulher preta e LGBTQIA+, é periférica, graduada em Letras/Libras pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Tecnologia da Informação.

Diegho da Silva Lima é surdo e trabalha em uma fábrica de veículos. Além disso, é ator, rapper surdo e FileMaker.

Estefany Duarte de Oliveira tem 18 anos e perdeu a visão com 6 anos de idade. Aos 9, aprendeu a ler braille. Pretende cursar faculdade de artes e sonha em ser atriz.

Allan Nikitis e Gabriela Grigolin são alguns dos coutores da mostra. Foto: Fernanda Carollo

Serviço:
Exposição de arte visual “Imersão”, de Daniel Dach.
Local: Centro de Arte Digital – Museu Municipal de Arte – MuMA / Portão Cultural (Av. República Argentina, 3430)
Data e horário: de 8 de abril (abertura às 16h) a 08 de maio de 2023. De terça-feira a domingo, das 10h às 19h.

Entrada franca

Apoio:
Fluindo Libras e Vias Abertas – Comunicação, Cultura e Inclusão.
Assessoria de Imprensa: BA Comunica – (41) 991327331