Closeup shot of the snouts of a cute dog and a cat sitting cheek to cheek
Foto: Freepik

Por Cláudia Ribeiro, colaboração para o blog

Enquanto os institutos de pesquisas se mobilizam para entrevistar os eleitores e descobrir suas preferências eleitorais, uma outra pesquisa tem interessado muito aos candidatos: a que mostra que pelo menos 70% dos lares  brasileiros têm um animal de estimação. 

Tanto é que os candidatos a prefeito e a vereador no pleito de outubro estão pra lá de atentos a esse público, que já foi responsável por eleger muita gente. 

 Alguns inserem a causa animal  em planos de governo, mas boa parte adota o tema como principal bandeira,a ponto de concorrer com alcunhas ou slogans que fortaleçam a imagem de defensor dos animais. Já teve “Amigo dos Animais”,   “Protetor de Pets”, “A Voz dos Animais” e outros nessa linha. 

Mas será que essa estratégia funciona entre os eleitores que valorizam a causa animal? O jornalista, sociólogo e criador do projeto Planeta Brasil Sustentável, Aurélio Munhoz, alerta que os ativistas realmente dedicados à proteção animal  precisam ficar atentos com candidatos e candidatas que se apropriam do tema apenas para vencer as eleições. “É preciso avaliar a trajetória política de cada candidato e candidata em relação ao tema. Quem nunca fez nada pelos animais no passado dificilmente fará no futuro, se eleito. E não se iludam: Há partidos e partidos. Ou seja: se a própria legenda nunca incluiu esta pauta na sua agenda de temas prioritários, é pouco provável que inclua após a vitória”.

A protetora independente Anália diz que ter um defensor que trata o tema com seriedade é importante para fortalecer e melhorar as políticas públicas que envolvem os animais. “Procuro pesquisar o histórico dos candidatos e se percebo um interesse genuíno pela causa,  certamente ele terá o meu voto”, conta. O problema, na opinião dela, são os aproveitadores.  “Muitos candidatos vêm até a gente nessa época, dizem que vão contribuir com a causa e, quando termina a eleição, eles somem”, afirma. “Conto mais com veterinários parceiros, e até com empresas privadas que com políticos, infelizmente”, acrescenta Anália, que abriga mais de 20 animais em uma chácara.   

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Sujeitos de direito – Se antes as políticas públicas eram formuladas visando somente o bem-estar das pessoas, ao longo dos anos essa concepção se modificou, na avaliação da cientista política e professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Daniela Neves. “Hoje, temas como a preservação ambiental e a proteção animal são prioridades em qualquer programa de Governo, afinal, os rios, as florestas, os animais são considerados sujeitos de direito, e as leis devem tê-los como foco”, diz. 

Outro ponto levantado pela especialista é a perda de representação dos partidos políticos. “Se antes, os partidos tinham força como representantes de um determinado grupo da sociedade, de uma ideologia, hoje não se entende mais dessa maneira. Eles se tornarem meras legendas. E quanto mais isso ocorre, mais as causas ganham relevância”, explica. “É o que chamamos de nichos da sociedade. Grupos com interesses parecidos que formalizam a entrada no espaço da política para exercer influência nas causas que defendem”, acrescenta.

Daniela avalia que esse tipo de organização de grupos acaba ocupando um espaço que caberia às legendas. “Os partidos é que deveriam representar os grupos ideológicos na sociedade. É muito importante que existam movimentos, mas seria melhor para a democracia que estivessem envolvidos dentro de uma lógica de partido”, finaliza.

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