Renato Freitas (PT) e Ricardo Arruda (PL): deputados vêm trocando acusações desde o início da legislatura. Foto: Orlando Kissner/Alep

A sessão de hoje da Assembleia Legislativa foi mais uma vez dominada por novo confronto entre os deputados Renato Freitas (PT) e Ricardo Arruda (PL). A discussão começou depois que Freitas acusou Arruda de responder processos por desvio de dinheiro público e tráfico de influência, em ação do Ministério Público do Paraná. O parlamentar do PL reagiu afirmando que o petista teria sido preso em flagrante por dezessete vezes, por acusações de desacato e porte de drogas.

A escalada de troca de farpas entre os dois levou o presidente da Assembleia, deputado Ademar Traiano (PSD), a pedir novamente o fim das acusações entre os parlamentares, e a cobrar medidas da corregedoria da Casa para enquadrá-lo. Traiano chegou a interromper a sessão por alguns minutos, depois que Freitas reagiu quando ele afirmou que o deputado do PT estaria se “vitimizando” em busca de espaço na mídia.

8 de Janeiro

“A extrema direta representa o deputado Ricardo Arruda, por exemplo, que responde a processos por desvio de dinheiro público, tráfico de influência, entre outros crimes. E vem àquela tribuna todos os dias, e mente”, disse Freitas em sua primeira fala, referindo-se às alegações do deputado do PL de que a invasão das sedes dos três poderes em Brasília no dia 8 de janeiro seriam obra de “petistas infiltrados”.

“Infelizmente, nós temos um deputado aqui, que ainda não se colocou como deputado. Ele acha que ainda é vereador, ou uma pessoa que gosta de ouvir funk e fumar maconha”, reagiu Arruda. “Não respondo a processo nenhum. Eu fui investigado, a denúncia não foi acatada pelo TJ, porque era infundada e não tinha provas”, alegou ele.

“O senhor preso em flagrante dezessete vezes. Uso de drogas, ameaça, perturbação do sossego, lesão corporal”, continuou Arruda. “Uma pessoa desqualificada com uma folha corrida enorme. Vem falar em inverdades. Acho que o uso das drogas está lhe fazendo mal à cabeça”, afirmou.

Discussões pessoais

Freitas então voltou à tribuna para se defender. O parlamentar alegou ter ficha limpa e disse que as anotações criminais que existem contra ele são fruto de abordagens preconceituosas e ilegais da polícia. Segundo Freitas, uma dessas abordagens ocorreu quando ele estava em uma praça pública, e um policial o acusou de desacato por não obedecer a ordem para “sumir dali”. “Fui abordado por ser negro em uma praça pública, não encontrou nada. Me prendeu por desobediência. Chegando no QG da PM, lavrou o boletim de ocorrência por desobediência. Chegando ao Ministério Público,o MP decidiu arquivar o processo, por ausência de tipificação”, explicou.

“Está na hora de pararmos com esse tipo de agressão aqui dentro da Casa. Esta Casa não é um palco para discussões pessoais, mas para discutirmos assuntos de interesse público”, voltou a dizer Traiano, que afirmou que tanto Freitas quanto Arruda precisam ter “postura de deputado”. “Não vou permitir mais nenhum tipo de comportamento dessa natureza”, disse o presidente da Assembleia.

Traiano também criticou Freitas, afirmando considerar que ele “é um vencedor” por sua história de vida, mas que ele estariam se “vitimando” para ganhar holofotes. “Realmente, vossa excelência é um vencedor, pelo que relata de sua história de vida. Eu respeito, sim, a sua trajetória. Fez uma votação expressiva. Mas eu entendo que essa forma de se tornar vítima de tudo, também não é real. Tem que ser levada em consideração todas as ações que, de forma externa e não interna aqui dentro vem acontecendo e aconteceu na sua trajetória. Essa coisa da vitimização permanente me parece que é algo orquestrado para se tornar mídia permanente em relação à sua trajetória de vida”, disse o deputado.

Freitas rebateu pedindo respeito e entrando em discussão com Traiano, que suspendeu a sessão. No retorno, o corregedor da Assembleia, deputado Artagão Júnior (PSD), afirmou que o órgão tomou providências para apurar as acusações entre os dois parlamentares.

Reações

Outros deputados reclamaram dos constantes confrontos entre Freitas e Arruda. “Vamos parar com isso. Ninguém mais aguenta. Eu não quero mais assistir o que assisti hoje. Toda semana, todo dia. Hoje foi vergonhoso o que aconteceu aqui”, disse o líder do governo, deputado Hussein Bakri (PSD). “Quanto do nosso tempo nesses quatro anos nós vamos ficar vendo deputado acusar deputado de cometer crime ou de não cometer crime e os outros 52 deputados não aguentando mais o que está acontecendo na Assembleia Legislativa? Será que dois vão dominar 52? Quanto tempo os 52 estão gastando na discussão de projetos de interesse da sociedade paranaense enquanto dois estão discutindo coisas que não levam a absolutamente nada no nosso parlamento?”, afirmou o deputado Paulo Gomes (PP).