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A relação entre o comportamento humano e a sexualidade é um tema complexo e frequentemente abordado sob diferentes perspectivas, incluindo aquelas influenciadas por interpretações de textos bíblicos que precisam atentar ao contexto nos quais foram escritos, para evitar cair em contradições e erros interpretativos.

Afinal, a Bíblia é um livro que contém ensinamentos religiosos, morais e culturais, escritos por inspiração divina – mas que têm sido alvo de debates e discussões ao longo dos últimos séculos. E no campo da sexualidade, alguns trechos bíblicos têm gerado dubiedade de pensamento quando aplicados à compreensão de suas potencialidades.

Hoje vamos explorar algumas dessas passagens e refletir sobre suas implicações:

1. Gênesis 1:27

Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

Este versículo é frequentemente citado para enfatizar a visão tradicional da sexualidade, com base na complementaridade entre homem e mulher como criados à imagem de Deus. No entanto, é importante notar que a sexualidade humana é mais diversa do que apenas a dicotomia homem/mulher.

A Psicologia e outras ciências nos advertem, neste século XXI, que há uma variedade de identidades de gênero e de orientações sexuais que não se enquadram nessa dualidade. Portanto, essa passagem pode gerar dubiedade quando se consideram as diversas formas de expressão de gênero e sexualidade presentes na intimidade dos seres humanos em geral. Por isso, se levada ao pé da letra, pode-se cair na presunção de se considerar apenas a questão de sexo biológico, que é completamente diferente da abrangência que envolve o âmbito da sexualidade!


2. Levítico 18:22

Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é

Esta perícope é frequentemente utilizada para condenar a homossexualidade, o que levanta questões sobre como a sexualidade é interpretada à luz das mudanças culturais e sociais ao longo do tempo. A interpretação dessa passagem deve considerar a distinção entre as leis e normas culturais do Antigo Testamento e as abordagens éticas e morais adotadas nos tempos modernos.

As diferentes interpretações desse texto podem gerar debates sobre a aceitação da diversidade sexual na sociedade. Se pensarmos que o Levítico é um livro de leis, consideramos compreender que, em seu período de escrita, tinha como pretensão organizar a sociedade judaica que já havia passado por inúmeras adversidades, especialmente escravidão.

Por isso, manter a hegemonia e uma acentuada hereditariedade, com o nascimento e o crescimento de filhos (somado ao fato de que muitas crianças morriam antes de se chegar à vida adulta), era necessário ter muitos herdeiros; isto era uma urgência. Por essa razão, regulamentar as bases da sexualidade foi uma decisão necessária para manter esta sociedade viva. E, assim, a lei foi escrita, como modo de sobrevivência, à luz biológica reprodutiva, e não sob o prisma da sexualidade. Lembre sempre, são coisas distintas!


3. 1 Coríntios 6:9-10

Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas…

O trecho mencionado é retirado da Bíblia, especificamente do Novo Testamento e, essa passagem, faz parte de uma carta escrita pelo apóstolo Paulo à comunidade cristã de Corinto. Nela, aborda diversos assuntos relacionados à ética e à moral cristã, listando uma série de comportamentos que, segundo ele, impedem que as pessoas herdem o reino de Deus.

Neste trecho, algumas traduções incluem a palavra “efeminados” e “sodomitas”, que têm sido objeto de debates e interpretações controversas. A ambiguidade dessas palavras pode levar a diferentes entendimentos sobre a relação entre comportamento sexual e moralidade. O desafio é compreender como essas palavras se aplicam aos contextos históricos e culturais da época, evitando julgamentos precipitados baseados em interpretações literais e traduções controversas. Por isso, é importante evitar o uso da Palavra de Deus como forma de arma, de ameaça, de chicote: ela deve ser LUZ e não objeto de condenação.

Para concluir

É importante reconhecer que a Bíblia foi escrita em contextos culturais específicos e reflete as visões e normas da época. A interpretação de trechos bíblicos sobre a sexualidade deve ser cuidadosa e contextualizada, considerando o avanço do conhecimento científico e as mudanças culturais e sociais que moldam nossa compreensão contemporânea da sexualidade humana.

Nesse debate, é fundamental promover um diálogo inclusivo, respeitando a diversidade e valorizando a dignidade de todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual. A busca por uma compreensão mais profunda do tema deve envolver abertura para diferentes perspectivas e o respeito pelas escolhas individuais, sempre com base nos princípios fundamentais de respeito, amor e compaixão que transcendem quaisquer interpretações religiosas. Afinal, diante de Deus, todos somos filhos e filhas – criados à Sua imagem e semelhança.

Cabe lembrar que, atualmente, muitas comunidades religiosas estão buscando uma abordagem mais inclusiva e compassiva em relação à diversidade de orientações sexuais e identidades de gênero. A interpretação desses trechos bíblicos é um tema delicado e em constante discussão entre teólogos, líderes religiosos e fiéis, à medida que buscam equilibrar tradição, ética e respeito pelas diferenças individuais.


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Abraços e até a próxima!