A teologia é o desdobramento teórico da Bíblia (Imagem: Pixabay).

Continuamos aqui nossa saga pela famosa obra “Teoria do Método Teológico”, livro introdutório ao estudo da teologia. De acordo com seu autor, Clodovis Boff, os três momentos da construção teológica seriam:

– o momento positivo, correspondendo à escuta da fé (hermenêutica);

– o momento especulativo, consistindo na explicação da fé (teoria);

– o momento prático, que busca atualizar ou projetar a fé na vida (prática).

 

Nesse sentido, o momento positivo trata-se do auditus fidei, isto é, de ouvir os testemunhos que nos falam do Mistério Divino. Este momento é insuficiente, mas é básico para o segundo ocorrer, que é o “momento especulativo” ou construtivo, e também para o terceiro, o prático. E desse modo, dentre as possibilidades de testemunhos para a construção teológica que o teólogo deve ouvir há os “primários”, que são as Sagradas Escrituras e a Tradição; os “secundários”, que são os outros testemunhos eclesiais (Credos, Liturgias, Magistério, Santos Padres, Doutores e Teólogos); e, por fim, há os “alheios”, que, assim mesmo, podem ser apropriados pela teologia (Religiões, Filosofias, Ideologias, Ciências, História e Sinais dos Tempos).

Para Clodovis, no caminho de construção teológica, a escuta da Sagrada Escritura é um item indispensável. Assim, o aspecto de “positividade” da fé é sempre ativo. E ele compreende uma heurística (busca dos textos corretos e autênticos); uma hermenêutica (interpretação adequada dos textos); e uma crítica (apreciação justa dos mesmos textos). Dessa forma, se pode afirmar que a Escritura é a “alma” de toda teologia. Não é ela que está a serviço da teologia (como mera “teologia das teses”, como Clodovis Boff aponta), mas ao contrário: é uma teologia que está a serviço da Palavra de Deus.

Ao teólogo e todo fiel que deseja compreender corretamente a Escritura existem algumas regras hermenêuticas para fazer sua apreciação, que poderíamos resumir assim: dispor-se sinceramente à escuta obediente e orante da Palavra; situar o texto no contexto histórico e também no contexto maior do cânon, do qual Cristo é o ápice; fixar primeiro o sentido textual e depois desdobrar a partir daí o sentido atual, para o hoje, finalizando sempre a leitura da Bíblia na prática do amor agapéIgreja: a comunhão com toda ela, com sua – tradição e com seu Magistério.

Portanto, Boff demonstra que o núcleo da hermenêutica em face à Sagrada Escritura coincide com o núcleo da metodologia teológica: confrontar Fé e Amor, ou mais concretamente ainda: Bíblia e Vida. Isso significa que a teologia é o desdobramento teórico da Bíblia, conforme aponta o Frei Clodovis. E é nesta linha metodológica que o autor demonstra que o estudo da Bíblia é central na teologia, mas deve entrar em diálogo fecundo com as outras disciplinas teológicas, propondo ao estudo bíblico novas perguntas e novas hipóteses, sendo que a Bíblia lhes ofereceria um fundamento seguro e lhes abriria novos aspectos do Mistério de Deus.

Assim sendo, se a Palavra tem este impacto para a vivência da fé prática, ao longo do nosso percurso de interpretação e vivência dela, será que muitas vezes não corremos o risco de estarmos resumindo-a à nossa mera possibilidade de assimilação da mesma, ajustando-a à nossa cultura e interpretação contextualizada pessoal e também de época? Não seria simplista demais buscar traduzir em palavras “humanas” o que seria a Palavra Divina?

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Ana Beatriz Dias Pinto, é comentarista convidada do blog e nos traz reflexões sobre temas atuais e contextualizados sob a ótica do universo religioso, de maneira gratuíta e sem vínculo empregatício, oportunizando seu saber e experiência no tema de Teologia e Sociedade para alargar nossa compreensão do Sagrado e suas interseções.
 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2015. p.197-236.