Se um dia eu voltar planta, quero ser uma samambaia. Não entendo muito de planta não e já já dou um Google pra saber se presta. Mas é que Samambaia é resistente, né, bonita. Vê, eu tenho duas samambaias. Uma aqui em casa e uma no consultório. Ambas são de 2018, comprei no mesmo dia. A do consultório parece meio capenga. Sabe quando homem de cabelo grande vai começando a ficar careca e tem uma dificuldade horrorosa de abrir mão do comprimento. O topo da cabeça ficando ralo, o cabelo passando da cintura, aquela angústia de cortar e ter que inaugurar uma fase nova, uma moda repentina de chapéu, boné e até lencinho (e digo isso com todo o respeito do mundo ao Bel Marques do Chiclete com banana)? Pronto, o topo do vaso seco, pelado. Ainda assim, segue linda, verdinha, enorme, cada folhona.

 A de casa também, só que cabeludíssima. Semana passada, ela deu uma fraquejadinha, queimou algumas folhas. Eu, trabalhando um monte, toda sem tempo, passei uns dias a mais sem colocar água, sabe? Até que na quinta, consegui acordar mais cedo pra cuidar das plantas. Foi molhar e ela voltou como se nada fosse. As duas soltam mil folhinhas, sujam tudo, dão sinal da própria existência. Passaram por duas mudanças, as de caminhão da Granero, fora as outras mudanças todas, passaram pela pandemia, a adolescência, das meninas, 4 gatos, vários dias sem tempo e sem água, não sei quantos analisandos. Teve um que derrubou a do consultório em um dia de crise. Levantava o vaso, jogava no chão, levantava de novo, jogava, cada vez mais alto, cada vez mais forte. Talvez tenha sido até isso que envelheceu a cabeça da bichinha.

Nesse dia eu chorei. Fiquei da minha poltrona vendo a cena acontecer. Levou um tempo meio grande até. O analisando parou, olhou pra mim, tomou água. Eu lá sentada, olhando pra ele. Levantei, abri a porta e confirmei que nos veríamos na próxima sessão. Foi importante que tivesse acontecido ali, no ambiente do consultório, foi útil para o processo da análise e tudo aquilo que a gente sabe, e fala bonito sobre. Mas quando fechei a porta, eu chorei. Me ocupei de arrumar a samambaia, catar as folhinhas, cada folhinha, um monte de galho quebrado, eu ajoelhada no chão, tentando arrumar a sala para o próximo do dia, soluçando feito um bebê. Sei lá.

Vê o google da samambaia. Ele disse que elas vêm sendo usadas há anos pra feitiços de amor. No folclore portugês, se colhe folhinhas na véspera de São João pra fazer amavios e amuletos na busca ou na rega do bem-querer. Capaz de ser assim mesmo o amor, né? É. Se um dia eu voltar planta, quero ser uma samambaia. Boa semana, queridos.

@robertadalbuquerque