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Atleta Natasha Ferreira estreia na Olimpíada com derrota (Foto: Miriam Jeske/COB)

Perder é uma ciência complexa, quase uma filosofia. E, se parar pra pensar, a vida oferece tantas oportunidades pra isso que dá até medo de sair da bolha. O primeiro tombo, a bolacha que cai no chão – sempre do lado da manteiga. Tem a perda dos dentes de leite, que até parece legal porque a fada do dente deixa uma moeda. Crescer é um festival de pequenas perdas. Praticamente uma semifinal de vôlei feminino com o Brasil disputando na raça com as atuais campeãs olímpicas.

A gente perde a vergonha na cara, perde a chance de falar com o crush, perde meia dúzia de canetas que nunca voltam… Perde o rebolado e até a hora de acordar, porque “só mais cinco minutos” nunca são só cinco minutos.

E quando você acha que já entendeu essa coisa de perder, a vida lança uns desafios de nível hardcore. Tipo disputa de Rebeca Andrade com Simone Biles na trave. Perde a paciência, a noção do perigo e a vontade de se tornar uma pessoa zen. Em casa, no trabalho, no trânsito, na vida.

Só não perde a vontade de ganhar. Eita coisinha tão humana essa de se superar, de ir além, de dar a volta por cima e não desistir jamais. Na cultura ocidental, perder é quase uma vergonha, uma mancha na alma.

Pouca gente lembra que perder faz parte do jogo, de qualquer um. Pra ter campeão é necessário ter segundo lugar no pódio da vida. O brasileiro está acostumado a sonhar alto, a acreditar em milagres, a ter fé de que algo vai mudar de uma hora para outra. Quando a realidade se impõe, dura e crua, muitas vezes falta maturidade pra encarar a perda como parte do trajeto.

Ninguém quer perder um amor, um cliente, um bom negócio ou os números sorteados da Megasena. A gente não gosta de perder nem no par ou ímpar. A gente sequer aceita perder a vaga pra estacionar, quem dirá perder dinheiro, a oportunidade de fazer a viagem dos sonhos ou o projeto desejado.

Aprender a perder é entender que o que realmente importa não é o lugar no pódio, mas o que se leva dessa caminhada. Porque, no final das contas, a vida é isso aí: um jogo onde a gente perde o controle, o tempo, as chaves de casa, e, se não cuidar, perde a cabeça também. E tudo bem, porque é nas perdas que a gente acha a graça – e, eventualmente, a gente se acha também.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária, detesta perder, mas precisa ensinar aos filhos como aceitar as derrotas da vida.