A desconexão do mundo real

Notificações, likes e mensagens instantâneas se transformam em uma solução mágica pra combater a solidão

Danielle Blaskievicz
10cronicas anteontem pixabay

Foto: Pìxabay

A cidade nunca dorme. As luzes estão sempre acesas, o trânsito nunca para e as pessoas parecem se mover em uma coreografia desajeitada, onde todo mundo corre pra algum lugar, mas ninguém se vê. Quanto mais gente por perto, mais gritante é a solidão.

Cruzamos com dezenas de rostos todo santo dia. No ônibus, na rua, na padaria. Cada um perdido em seus próprios problemas, histórias e, claro, com os fones de ouvido como escudo contra qualquer interação. Parece até que a vida moderna deu uma aula sobre como evitar contato visual. Não falta só tempo; falta também interesse, a boa e velha conexão real. Qualquer tentativa de um bate-papo à toa parece uma invasão de privacidade, com uma placa imaginária de “mantenha distância”.

No meio da multidão, os passos apressados e as buzinas competem com o silêncio interno que, vez ou outra, grita. Parece que todos estão ocupados demais, mergulhados nas telas, alheios ao mundo físico ao redor.

Notificações, likes e mensagens instantâneas se transformam em uma solução mágica pra combater esse vazio. Porém, às vezes, tudo o que se quer é uma conversa sem pressa, sem ruído, uma troca de olhares que não seja de relance.

Quanto maior a conexão do mundo, mais distantes parecemos. Mas está tudo bem: basta postar uma selfie sorrindo, colocar um filtro bacana e seguir em frente. No meio do frio das relações digitais, o que se busca é um pouco de calor humano.

É necessário aprender a nadar no mar das relações líquidas pra não se afogar na frieza do ser humano. Encontrar outros náufragos e, quem sabe, construir pequenas ilhas de encontros verdadeiros. No fim, somos feitos de histórias, e as melhores sempre acontecem quando o roteiro não foi planejado.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e tem achado o mundo barulhento e desconectado da realidade.