cronometrando a vida
Vida cronometrada (Pixabay)

Quando o despertador toca, não dá nem pra dar aquela esticada de cinco minutinhos. O dia está todo cronometrado e qualquer instante desperdiçado faz falta. Precisa organizar as crianças pra escola, dar comida pra cachorra, fazer uns levantamentos de peso na academia, correr pra reunião, responder mensagens, e-mails e checar as demais tarefas do dia. Fundamental dar uma olhada no espelho pra não espantar ninguém pelo caminho.

Não basta apenas administrar uma equipe e ter mil projetos pra entregar. Tem ainda os compromissos profissionais – o tal do “networking” –, família, vida social, academia – porque as aulas de yoga já foram por água abaixo. Tem que cuidar do espiritual, do intelectual e até do irracional.

Levar as crianças no médico, na terapia, no inglês, buscar no xadrez e preparar o lanche antes do jiu-jitsu.

Ainda quer ler Vargas Llosa, acompanhar o telejornal e interagir com a vizinhança no grupo do condomínio. Precisa também arrumar tempo pra aprender como não perder pra inteligência artificial.

É quase uma maratona diária, torcendo pra não pegar engarrafamento e, se pegar, que ele esteja fluindo. Se chover, que a sombrinha esteja na bolsa. Se cancelarem a reunião, que ainda não tenha saído de casa. Se convidarem pro happy hour, que a roupa esteja adequada.

O verbo que raramente aparece no dia é o descansar. Ele surge como um desconhecido, quebrando paradigmas e trazendo à tona o que é realmente importante. Rever velhos amigos, tomar uma cerveja gelada, ir ao cinema com o marido. E, principalmente, redescobrir o prazer das pequenas coisas que fazem a vida ser o que ela é, e não apenas uma lista de tarefas a cumprir.

Descansar não é perda de tempo. É um investimento na própria felicidade e bem-estar. Dá pra começar em pequenas doses, pra não causar traumas: perceber o aroma do café pela manhã, saboreado de gole em gole, caminhar pelas ruas do bairro, ouvir a música preferida de olhos fechados.

A vida é mais do que uma corrida incessante. É também um convite a parar, respirar e apreciar cada momento. Curtir o não fazer nada também pode ser prazeroso.

*Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e está aprendendo a parar e descansar.