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Foto: Pixabay

Hoje em dia, o jeito que os casais se comunicam diz muito sobre o rumo do relacionamento. Estudos mostram que quando os parceiros celebram junto as pequenas vitórias, como um elogio sincero ou uma reação entusiasmada à boa notícia do outro, a relação floresce. Mas, quando a resposta é o silêncio, a indiferença ou aquele olhar de quem está em outro planeta, a coisa muda de figura.

Muitos nem percebem, mas esses gestos do dia a dia – ignorar uma boa notícia, não reagir com interesse ou simplesmente se calar diante do conflito – vão corroendo a relação, mesmo sem brigas grandes ou desentendimentos explícitos. Não é só sobre resolver problemas, mas sobre estar presente nos momentos bons também, celebrando juntos, mesmo que seja algo pequeno, um sorriso cúmplice, um abraço apertado sem motivo especial, ou um “lembrei de você” ao trazer o doce preferido do outro.

É estar junto naquele café sem pressa aos domingos, fazer um brinde meio improvisado à promoção do parceiro, se esforçar pra compreender o outro independentemente das palavras ou apenas segurar a mão no meio de uma conversa qualquer. São esses gestos cotidianos, que parecem banais, mas que alimentam a conexão e fazem os parceiros se sentirem vistos e valorizados.

As conversas não ditas, os abraços que não acontecem, os “eu te entendo” que ficam apenas na cabeça são coisas que vão se acumulando. Como na música do Chico, parece que há sempre um pedaço de nós que fica pelo caminho, uma parte que não dizemos, que não mostramos. Não é falta de amor, é só a vida que atropela, a rotina que ocupa e a gente que esquece que uma simples reação pode mudar o dia do outro. Porque, no fim, não é só sobre o que não falamos, mas também sobre as palavras que poderiam ter sido ditas e os momentos que deixamos passar.

A vida a dois, com o tempo, pode se transformar em uma série de trocas funcionais: quem vai buscar as crianças, quem passa no supermercado, se o carro precisa ou não de revisão. As grandes conversas, aquelas sobre medos, sonhos e incertezas acabam adiadas pra um momento que nunca chega. E os diálogos imaginários, aqueles que poderiam reacender a chama do amor ou revelar angústias escondidas, permanecem apenas na mente, como se o simples ato de verbalizá-los fosse uma tarefa impossível.

Às vezes, alguém até cogita expressar sua preocupação com o relacionamento, mas a ideia de falar fica pelo caminho, barrada por uma notificação no celular ou pela sensação de que o momento não é adequado. Surgem os pensamentos durante o trânsito, no banho ou antes de dormir. Mas, em vez de abrir o jogo, preferem manter o conforto de uma comunicação superficial, preservando a aparência de que está tudo no lugar.

O silêncio não é necessariamente falta de amor. É, muitas vezes, o medo do confronto, do que as palavras podem trazer à tona. No fundo, o desejo de falar está ali, quieto, esperando um sinal de que vale a pena arriscar. Mas as conversas permanecem no imaginário, onde os diálogos fluem perfeitamente, sem interrupções, sem medo de machucar o outro.

E assim, seguem juntos, mas silenciosos. Esperando um dia em que a correria desacelere, que o momento certo surja pra finalmente falar sobre aquilo que realmente pesa. Enquanto isso, colecionam as conversas que nunca tiveram, guardadas na mente como cartas que nunca foram enviadas, mas que continuam acelerando o coração.

Talvez um dia esses diálogos finalmente encontrem voz. Até lá, ficam os gestos pequenos, os olhares furtivos e o desejo de que, em algum momento, a rotina deixe espaço pro que realmente importa.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e detesta conversas imaginárias e silêncios doídos.