whatsapp_image_2024-08-01_at_15.40.54
Luisa Moraes/COB

Ippon, kumi-kata, duplo carpado, drop, cutback, kickflip, grind, ritmo, resiliência. De repente, o vocabulário brasileiro vai ganhando termos totalmente inusitados e aparentemente estranhos ao cotidiano. Em todos os cantos, olhos grudados na tela pra acompanhar o waza-ari que Bia Souza aplicou pra eliminar a judoca israelense Raz Hershko. Ou no cheng de Rebeca Andrade durante o salto, que colocou em risco o reinado de Simone Billes.

Enquanto Bia, Rebeca, Caio Bonfim, Larissa Pimenta, Rayssa Leal, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares, Lorrane Oliveira e tantos outros disputam as medalhas olímpicas em Paris, aqui, do outro lado do oceano, milhões de brasileiros estão na torcida. Só que muitos se esquecem de suas Olimpíadas particulares e diárias, porém sem direito a medalha de ouro ou badalação nacional.

A senhorinha com energia inesgotável que administra a padaria da esquina. Ela não faz arremessos nem corre longos percursos, mas lida com uma maratona diária entre o balcão e o forno. Seu pódio é a satisfação dos clientes. Cada sorriso recebido ao entregar um pão quentinho é como uma medalha de ouro brilhando na sua estante imaginária.

O jovem office boy que se desdobra pelas ruas da cidade grande. Em sua bicicleta, enfrenta o trânsito caótico, a imprudência dos motoristas e a imprevisibilidade do tempo. Não faz saltos mortais, mas cada entrega bem-sucedida é uma conquista na correria da cidade.

Tem ainda a mãe solo de dois adolescentes, que não manja nada de ginástica artística, mas sua vida é repleta de acrobacias, numa eterna busca pelo equilíbrio das contas, da saúde dos filhos e da sanidade mental geral. Colocar o feijão na mesa e ainda acompanhar a vida escolar das crianças são exercícios de precisão, desenvoltura e graça.

O pai de família que está longe dos tatames, mas encara uma luta diária. Enfrenta os humores de todos os tipos de clientes com a serenidade de um mestre judoca. Desenvolveu a resiliência pra suportar a pressão e sorrir mesmo quando a vontade é falar poucas e boas verdades aos desaforados. Cada dia que termina é uma vitória silenciosa.

Nossos atletas merecem muitos aplausos – além de recursos, patrocínios, reconhecimento e celebração! Mas é bom lembrar que o brasileiro, em geral, é um vencedor que não se dá conta de suas conquistas diárias.

Eu não tenho talento algum pra rolar no tatame, me equilibrar num skate e muito menos fazer acrobacias no ar. Mas me garanto em várias outras coisas – e tenho noção de muitas delas, como juntar palavras e formar esse texto com clareza.

Cada um tem seu próprio esporte – olímpico ou não – onde realiza conquistas e supera seus próprios recordes. Parabéns a todos os envolvidos. Comemorem suas medalhas imaginárias.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária, equilibra pratinhos, cria filhos e junta letrinhas pra contar histórias.