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Adolescência: teste para os pais (Pixabay)

Há quem diga que a adolescência é uma fase maravilhosa. Aquela coisa do “florescer da personalidade”, das descobertas incríveis, como se tudo não passasse de um miniadulto tentando encontrar seu lugar ao sol, em meio a uma paisagem bucólica. A prática, porém, é outra história e consegue deixar em ebulição todos que convivem com o quase jovem cidadão, dentro e fora de casa.

Não há filtro do Instagram ou inteligência artificial que consigam disfarçar aquele momento em que as espinhas começam a aparecer, a voz se transforma em um verdadeiro carnaval – uma hora parecendo uma cuíca, em outra está mais pra um bumbo desarranjado – e o cabelo não responde à máscara de hidratação caríssima.

Isso sem falar nas explosões de humor, com as emoções mais desreguladas do que encarar uma montanha-russa sem os acessórios de segurança. Basta o wi-fi interno dar uma oscilada pra transformar um dia normal em cenário do Armageddon.

Só que encarar essa fase na maternidade ou paternidade, em versão remasterizada e acústica, causa um certo tremor nos coadjuvantes.

Crescer é um desafio, em qualquer momento da vida. Na adolescência, então… só quem encarou de frente vai saber contar. Num minuto, tudo está bem, as coisas até parecem começar a fazer sentido. Instantes mais tarde, o mundo parece desmoronar porque o tênis sumiu do lugar exato onde tinha sido colocado. Sobra pro cachorro, pro gato ou pro passarinho que cantou mais alto.

Do outro lado do balcão, pai, mãe, irmãos, avós, a galera da escola e até o mentor espiritual vai tentando acompanhar, como num jogo de videogame, que a cada nível fica mais difícil. Os projetos de adultos do futuro podem até não saber – ou fingir indiferença –, mas o backstage desse show pirotécnico chamado adolescência é grande e formado por pessoas que estão ali 24 horas, só na torcida, acompanhando cada ato.

Claro que, de vez em quando, alguém erra a entrada, tropeça nas falas ou esquece de ligar a luz. Mas, no geral, estão todos com o figurino pronto, seja pra rir, chorar ou dar aquela mãozinha quando a coisa ficar feia. Isso mesmo sabendo que, nem sempre, há interesse na opinião alheia ou no conselho dos integrantes das outras gerações. Mas beleza, compreensível pra qualquer adulto que já passou por isso.

Só é importante frisar que as “regras” dos “antigos” – os contemporâneos dos maias e dos astecas – têm um propósito que vai muito além de manter todos sãos e salvos. Estão aí pra ajudar esses pequenos cidadãos em evolução – e ebulição – a encarar o mundo lá fora sem cair de cara no primeiro tropeço.

Virão muitas dicas sobre liberdade e isso soa incrível. Mas, na vida real, alguém precisa lembrar de lavar a louça no final do dia, de fazer os deveres de casa e de respirar fundo antes de soltar aquele palavrão. A liberdade é maravilhosa, mas é preciso conquistá-la com doses graduais de responsabilidade.

Vai ter regra sim! Vai ter limite! Mas também vai ter muito apoio, carinho, compreensão e abraço apertado. Quando precisar gritar porque a vida resolveu falar mais alto e parecer confusa demais, a rede de apoio está na área. E quando a alegria bater à porta, em um daqueles dias em que os astros parecem estar sorrindo e alinhados, a equipe está presente também. O kit é completo: choro, riso, bronca, abraço. O pacote é esse.

Crescer é um baita quebra-cabeça e ninguém entregou o manual. E, entre uma reviravolta e outra, está todo mundo aprendendo a lidar com tudo isso. Erros, acertos, sem deixar de tentar. Que, lá na frente, seja possível olhar pra trás e rir desse cenário que parece caótico.

E só pra lembrar: da próxima vez que o wi-fi interno cair, existe a opção analógica de respirar fundo antes de declarar guerra mundial.

*Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e mãe de dois futuros adultos em formação