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Pixabay

Há um tema que precisa urgentemente entrar na pauta da ONU, do G20 e, quem sabe, até no Enem: o direito universal de ficar off. Sim, a gente já teve o direito ao voto, à liberdade de expressão, até o de ir e vir. Mas como fica o direito sagrado de sumir por um tempo sem ser julgado? Sumir, desaparecer, evaporar feito gelo no deserto, só que sem derreter com a pressão de responder às mensagens da tia Candinha no WhatsApp ou aquele e-mail “urgente” que, convenhamos, nunca é urgente! O mundo precisa de uma Lei Global do Off.

Imagine só: todo cidadão teria – garantido por uma Constituição Internacional – o direito de desligar o Wi-Fi, bloquear as notificações e cair no limbo da paz. Nada de cobranças. Nem da operadora, nem dos parentes, nem daquele chefe que confunde segunda-feira com domingo e acha que você está 24/7 disponível pra apagar incêndios.

Aliás… Incêndio? Me deixa queimando no sossego do meu sofá, com o celular no modo avião, por favor.

Já reparou como as pessoas têm medo do silêncio? Sair pra uma caminhada, sem fone de ouvido, sem podcast, sem audiobook dando dicas de como ser mais produtivo em sete passos? Deus me livre. Parece que ficar offline virou coisa de doido. Mas quem são os loucos de verdade, os que se escondem do barulho ou aqueles que não param de fazer barulho?

Porque, me desculpe, mas eu não aguento mais receber figurinhas com mensagens motivacionais nos grupos de Whats às seis da manhã. Abrir o Instagram e receber mil dicas de como conquistar a vida perfeita em três lições ou, pior, saber como a mocinha que se acha popular na rede faz o skin care prático e rápido às 5 da manhã?

Quem disse que eu quero falar com alguém antes do café? Às favas como a bonitinha se arruma pra ir pra academia ou como a bela, recatada e do lar tenta inventar um enredo de família margarina pra sua própria ilusão.

Aos chatos de plantão, fiquem sabendo que vocês são os principais motivos da Lei Global do Off. Há quem possa me acusar de crueldade e falta de empatia. Porém, convenhamos: sempre tem aquele sujeito que parece viver num ciclo de notícias e fofocas desnecessárias. A pessoa manda mensagem do além, sem foco algum, questionando seu sumiço. Claro que eu sumi! Foi de propósito! Sumi por você, por mim, por um mundo melhor, por um planeta que respira em paz!

Imagine uma semana inteirinha off, decretada como feriado mundial! Ninguém chamando pra reunião. Ninguém pedindo relatório, resumo, análise, opinião sobre o capítulo final daquela série ruim da Netflix. O planeta inteiro ficaria quietinho. Não tem conversa de elevador, não tem colega de trabalho perguntando sobre o que você vai almoçar. E o melhor: nada de “só um minutinho” que dura uma eternidade. Você se teletransporta pra Matrix da tranquilidade.

É claro que ia ter resistência. Sempre existem os defensores da conexão eterna em prol da amizade mundial e da produtividade coletiva! Essa turma acha que o sentido da vida está nas respostas instantâneas, nos alertas contínuos. Eu, de coração, só queria um botão de desligar as expectativas alheias? Porque, francamente, se você precisar de mim depois das seis da tarde, é questão de saber que minha alma já desligou e meu corpo está com um pé em algum personagem tresloucado da literatura mundial.

Fica aqui meu apelo: vamos lutar pelo direito de ficar off. Pelo fim da necessidade de “estar disponível” pra tudo e pra todos. A vida já é cheia de ruídos, o mínimo que merecemos é o sagrado direito de, ao menos uma vez por semana, desaparecer sem deixar rastro – e sem ninguém perguntando “está tudo bem?”.

Sim, está tudo bem. Eu só estou off.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e anda meio desconectada da pressa mundial.