Papo reto não dói

Conversas sinceras me interessam, pois nada dói mais do que uma mentira ou uma verdade adiada

Danielle Blaskievicz
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Foto: Pixabay

Sabe aquela história de que a verdade dói? Pois é, eu discordo. Acho que o que dói mesmo é o rodeio, a tentativa frustrada de mascarar o óbvio, o enrolar da conversa até que a gente se perca no meio das palavras. Papo reto, minha gente, é como aquele amigo que te diz que você tem um pedaço de alface no dente antes de sair pra uma reunião importante. É um choque saber que você estava quase pagando mico, mas, no final das contas, você agradece por ter sido poupado de uma vergonha maior.

Quantas vezes a gente não se pega em um vai e vem de palavras, numa dança de insinuações, só pra tentar evitar magoar alguém? E aí, no final das contas, magoamos mesmo assim. E pior, perdemos um tempo precioso que poderíamos ter usado pra resolver as coisas.

Ao contrário do Cazuza, “mentiras sinceras” não me interessam. Conversas sinceras, essas sim, economizam energia, não nos deixam expectativas desnecessárias e, de quebra, ainda fortalecem a confiança.

Há situações em que um papo reto deveria ser quase uma regra. O relacionamento que chegou ao fim, o emprego que já rendeu e é necessário mirar outros desafios, a amizade que precisa de um chacoalhão pra não se perder no passado. A lista é extensa…

O problema é que a sinceridade nem sempre é aplaudida de pé. Vivemos em tempos de delicadezas, onde parece que a verdade precisa vir embrulhada em papel de seda com laço de fita pra não ferir nenhum alecrim dourado que está aguardando a primavera pra ser colhido.

Mas e se, de vez em quando, a gente soltasse o verbo, sem medo do julgamento? E se, em vez de temperar cada palavra com cuidado excessivo, a gente dissesse o que realmente pensa, sem medo de soar grosseiro?

Não é opção ser rude ou indelicado. Papo reto não é sinônimo de falta de educação. É apenas a habilidade de falar o que precisa ser dito, sem enrolação.

Tem algo de libertador nisso! Tanto pra quem fala, quanto pra quem ouve. Porque, no fundo, todo mundo sabe que nada dói mais do que uma mentira ou uma verdade adiada. A verdade, nua e crua, pode ser um tapa na cara, mas é o tipo de tapa que te acorda, te faz ver o mundo com clareza.

Da próxima vez que pensar em dar aquela volta pra dizer o que realmente quer, lembre-se: papo reto não dói. Ele te salva de mal-entendidos, de expectativas frustradas e, principalmente, de perder tempo com rodeios que não levam a lugar algum. Falar a verdade é como arrancar um band-aid que encobre uma ferida ainda aberta: dói por um segundo, mas depois a vida segue e, aos poucos, a cicatrização acontece.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e detesta enrolação na vida.