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Dias atrás uma postagem de uma colega no Instagram me chamou a atenção: ela se desculpava pela ausência nas redes sociais – que eu só fui notar graças ao recado cheio de lirismo acompanhado de uma foto de um tempo bom. Deu a entender que o excesso de caraminholas na cabeça e um tal de “burnout” conseguiram tirá-la do combate por alguns meses. Na real, acho que o mundo virtual, os “amigos” digitais, as conexões on-line não estão nem aí pra nossa presença ou pra nossa ausência.

Interessa mesmo é saber quem morreu, quem se separou, quem traiu quem, quem trocou de emprego, qual a treta da semana e o meme em alta. Aí sim a notícia precisa vir completa: quem, quando, onde, como e por quê? Se tiver detalhes picantes, momentos sórdidos e um pouco de barraco, melhor ainda. Já as profundidades da vida não rendem cliques, não geram engajamento.

O caos é o ingrediente principal. Vivemos em uma época na qual a conexão é medida em megabytes, mas a compreensão é medida em mal-entendidos. As relações interpessoais no mundo contemporâneo são como um jogo de xadrez jogado por distraídos, desavisados.

Os romances começam no Tinder, se estabelecem no Instagram e terminam pelo WhatsApp. Cada relacionamento é uma novela mexicana com temporadas curtas e recheado de dramalhão. Tudo conduzido pelo algoritmo da paixão passageira, do amor impossível.

No meio corporativo, não basta mais ser um bom profissional, ter competência e conhecimento técnico. O currículo precisa indicar a popularidade nas redes sociais, que exige vídeos diários, likes constantes e até familiaridade com os haters.

Cada dia mais me equilibro entre a necessidade de estar on-line e a vontade de viver off-line. O sonho da casa no campo, com meus amigos, meus discos e livros. Sempre acho que vou encontrar Elis Regina por lá.

Já cancelei o Twitter, que eu já achava chato pra caramba e piorou milhares de vez desde que o todo-poderoso-turbinado-platinado-musculoso-elétrico assumiu. Consegui categorizar os e-mails pra facilitar o processo de enviar pra lixeira aqueles que eu jamais vou ler.

Falo com as pessoas que eu amo por WhatsApp e, em alguns casos, arrisco uma ligação – sim, eu detesto chamada telefônica, mas existem exceções.

A amizade é cimentada por pequenos gestos, pelas gargalhadas divididas e os perrengues compartilhados. Não troco uma conversa de boteco ou um café com bolo no meio da tarde por fofoca digital alguma. A vida real é o que me segura, mas infelizmente tem muita gente desconectada dessa parada.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e anda cada vez mais empenhada na vida off-line.