Vida no presente, sem condicionais

Danielle Blaskievicz
Sem título

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Gatilho, um dos termos mais utilizados nos últimos tempos. Tudo vira gatilho emocional que, muitas vezes, acaba desorganizando as ideias. Experiências traumáticas ou significativas do passado têm o poder de causar um verdadeiro desarranjo mental num ser humano com a terapia atrasada. Fico pensando como seria a vida se a gente tivesse a oportunidade de voltar no tempo e ajustar as contas com o passado!

Um misto de Efeito Borboleta com De Volta para o Futuro, filmes em que os protagonistas têm a chance de voltar e interferir no que seria o “destino natural das coisas”. Aliás, o cinema tem diversos exemplos disso. Só que, como diz a música, “a vida não é filme” e a gente só consegue ficar imaginando o que teria sido se não tivesse sido… Confuso sim, como na vida real!

É o eterno “e se…”

E se eu tivesse cursado Psicologia em vez de Direito?

E se eu tivesse aceitado aquele emprego na multinacional em vez de fazer intercâmbio?

E se eu não tivesse adiado a maternidade pra me dedicar à carreira?

E se eu tivesse pausado a carreira pra me dedicar aos filhos?

E se eu tivesse aceitado o convite do Fabrício pro cinema em vez de ouvir a minha mãe gralhando que ele era um sem futuro?

E se ela não estivesse naquele voo que se perdeu no Pacífico?

O Luis Fernando Veríssimo tem um conto que eu adoro, chama Versões de Mim. O personagem, num bar imaginário, revisita sua vida em diversas possíveis situações. Em nenhuma delas ele se encontra mais feliz do que na versão real.

Como diz o escritor gaúcho, “a vida não é feita das decisões que você não toma, ou das atitudes que você não teve, mas sim, daquilo que foi feito”.

A vida é feita do sorvete no domingo à tarde, do beijo diário nas crianças, do arroz com feijão dividido com a pessoa amada. Da ansiedade e da preparação pra festa, da viagem de férias, das tardes na casa da vó. Do cheiro de pão caseiro saindo do forno, dos passeios com o cachorro, das coisas simples do cotidiano. E, claro, dos momentos difíceis, da tensão causada por uma pandemia, das lágrimas pelas pessoas queridas que se foram e até, das oportunidades desperdiçadas.

Se o destino existe, se existem outras vidas, ainda não descobri. A única certeza que eu tenho é que é preciso curtir o processo, permitir se aventurar pelo caminho e parar pra admirar os contrastes do céu no fim da tarde.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e adora curtir o céu do inverno.