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Foto: Freepik

Não era o início de mais um dia qualquer, mas sim uma quarta-feira reflexiva, com ares de improviso. O sol invadia a sala sem pedir licença, lançando faíscas douradas nas rosas que enfeitavam a mesa de jantar e quebrando o protocolo das manhãs de julho, quando o inverno costuma ser rigoroso e fechado. Que nada! Os termômetros apontavam máxima de 28 graus em Curitiba, conhecida como “a capital mais fria do Brasil”.

Com uma xícara de café na mão, olhava pra a Lana Maria, minha bebê vira-latas, que buscava, com todas as forças, chamar minha atenção – parecia até que não me via há meses, mas no fundo é apenas gratidão por hoje ser uma “cã de família”, não mais um número nas ruas.

Todo aquele cenário me fez pensar nas obrigações do dia, nos rituais a serem cumpridos, nos protocolos necessários ou dispensáveis da semana. Do mês, do ano e da vida.

A maioria das pessoas se sente obrigada a casar, ter filhos, uma carreira de sucesso e um doguinho pra chamar de seu. A vida é cheia de expectativas sociais, mas, às vezes, parece que estamos seguindo um roteiro predeterminado, que existe uma sequência ideal pra tudo.

Antes dos 20 anos é preciso escolher a profissão que desejamos seguir pro resto da vida e concluir a graduação já com um bom emprego engatilhado.

Aí vem o casamento, que pras mulheres deve ser, no máximo, aos 30. Com direito a lua de mel em alguma ilha paradisíaca no Pacífico ou em um roteiro romântico pelo Velho Mundo. Depois, é correr contra o relógio biológico, enfrentar todos os dilemas da maternidade – pausar a carreira e se dedicar aos filhos ou se sentir uma mãe de segunda categoria por deixar as crias logo cedo na escolinha –, conquistar um belo patrimônio e aguardar a tão sonhada aposentadoria pra descansar e ser feliz.

Tem gente que não quer saber de se prender a uma única pessoa pro resto da vida. Outros são avessos à obrigação de ser pai ou mãe – quantos adultos mal resolvidos teriam sido poupados das neuroses familiares se não fossem essas obrigações? – e tem aqueles que se consideram cidadãos do mundo, querem evitar vínculos até com os pets pra ter sempre a chance de colocar o pé na estrada.

A verdade é que a vida não é um roteiro rígido a ser seguido. É uma rotina, sim, mas uma rotina cheia de possibilidades, de escolhas e de momentos que nos definem. Não há a necessidade de se encaixar em moldes ou seguir cronogramas impostos. É possível criar um caminho exclusivo, seguindo as prioridades e um ritmo particular.

Escolhas, assim é a vida. E boa parte dessas escolhas só acontecem com a maturidade, com o autoconhecimento. Não dá pra cumprir protocolos estabelecidos por outros, não dá pra seguir o fluxo. É possível ser feliz sem um diploma, sentir-se realizado em um emprego meia-boca porque, pra muitos, o trabalho serve só pra pagar boletos, a felicidade está em outro lugar.

Hoje é possível ser mãe aos 40, encontrar o grande amor aos 60 e não ter endereço fixo. Dá pra aprender a tocar guitarra aos 50, explorar o mundo aos 80 e chorar de rir em qualquer idade. Não é preciso ser perfeita. Está ok não ter casado aos 28 e só ter sido mãe aos 36. A vida dispensa protocolos.

A felicidade está na descoberta, no dia a dia, no imprevisível. Não dá pra viver esperando ser feliz só no final. A vida não é novela das oito!

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e detesta protocolos e imposições