A história de sucesso do escritório Baggio Schiavon Arquitetura (BSA) foi transformada em um minidocumentário, lançado nesta semana em Curitiba. A avant-première do filme aconteceu no último dia 3 de setembro, no telão do Cine Passeio, com coquetel e duas sessões exclusivas para convidados.

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Manoel Baggio e Flavio Schiavon. Crédito Marcelo Elias

Nos últimos 44 anos, foram mais de 1.100 projetos elaborados pela BSA, fundada pelos sócios Manuel Baggio e Flávio Schiavon, que sempre prezaram pela excelência técnica, plástica e funcional em suas criações. “É das mãos do arquiteto que nascem conceitos imobiliários reconhecidos por muito tempo. Nosso grupo de trabalho é obcecado por um projeto próximo do perfeito”, destaca Schiavon.

Amigos desde a infância, os arquitetos cursaram juntos a faculdade de Arquitetura e trabalharam lado a lado na construtora da família de Manuel antes de fundarem a BSA. “A formação da nossa sociedade foi muito espontânea. Nós sempre fomos muito objetivos, um ajudando o outro. O desenvolvimento de uma carreira de grande sucesso foi algo natural”, conta Baggio.

Em busca de uma identidade própria para cada projeto, os arquitetos da BSA buscam ideias e inovações nos mais variados campos, da natureza à indústria automobilística. “Trazemos destes elementos inspirações para transformar um edifício em uma obra única”, comenta Schiavon.

Sempre pensando na boa concepção de planta, com uma utilização mais racional e eficiente dos espaços, a BSA consegue unir a estética à funcionalidade em cada empreendimento do qual participa. “Os projetos passam pela compatibilização de muitas premissas técnicas e terminam com uma expressão plástica que transforma o edifício em uma imagem icônica e atemporal na paisagem de uma cidade”, detalha Baggio.

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Fernando Meira, André Marin, Leonardo Pissetti e Flávio Schiavon Crédito Marcelo Elias

Além do próprio empreendimento, os projetos desenvolvidos pela BSA também têm como premissa a sustentabilidade, colecionando uma série de certificações, e a relação amigável com o entorno. “Todo edifício é, de alguma maneira, uma grande intervenção urbana. A gentileza urbana, hoje presente em muitos dos projetos da BSA, é essa relação direta entre o espaço privado com o espaço público”, pontua Schiavon.

Arquitetura de prédios antigos conta um pouco da história da cidade

A arquitetura inovadora da sede social e do ginásio de esportes do Círculo são motivo de orgulho para os sócios e chamam a atenção de quem passa pelo Centro de Curitiba. Em 1940, uma comissão formada por membros do clube lançou um concurso e analisou projetos elaborados para sua sede social – o escolhido foi o desenho do arquiteto e engenheiro Ernesto Guimarães Máximo, um dos pioneiros da arquitetura autoral na capital.

O projeto selecionado para a sede social compõe perfeitamente com a paisagem urbana do Passeio Público de Curitiba. “A edificação possui uma galeria com arcos de acesso principal e volumes de alvenaria com telhados sustentados por tesouras de madeira cobertas por telha de barro tipo colonial, que envolvem o grande salão de festas com pé direito duplo”, descreve o arquiteto Salvador Gnoato, arquiteto e urbanista, doutor pela USP e professor titular na PUCPR, estudioso do tema. Ele explica ainda que, nas primeiras décadas do século 20, foi forte o espírito nacionalista, em que os elementos clássicos europeus da arquitetura eclética foram substituídos por caraterísticas inspiradas na “autenticidade” das edificações da ocupação portuguesa construídas no Brasil. “Esse estilo neocolonial também fez escola em outros países da América Latina”, pontua.

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Sede Social do Circulo Militar do Paraná. Imagem de arquivo

Autores do jornal O Centro, os jornalistas Edu Aguiar e Heros Schwinden destacaram a arquitetura das antigas edificações do CMP. “Conversamos com a Doutora em Arquitetura da PUC-PR, Cleusa de Castro, que nos revelou que essa arquitetura faz parte de um movimento de revivalismo, integrado ao estilo eclético que buscou no passado as referências formais de diversos períodos da história da arquitetura”, escrevem. Eles citam a avaliação de Cleusa: “O edifício apresenta as características daquele momento de releituras e pode ser identificado como arquitetura neocolonial hispano-americana, por derivar da releitura feita pelos americanos dos edificadores das áreas rurais da colonização espanhola, principalmente no México. Seria, portanto, uma releitura de uma releitura”.

Na parte de dentro, os bailes realizados ali foram e ainda são memoráveis. Para a época da inauguração, o salão com capacidade para “mais de mil pares” era enorme. Nos anos 1960, conforme contam antigos membros, um funcionário ficava atento aos casais jovens e, caso alguém passasse do limite da decência, avisava ao rapaz que havia um “telefonema na recepção”. Garantia-se assim o decoro.

Palácio marcou época com shows

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Palácio de Cristal – imagem arquivo Circulo Militar do Paraná

O tempo passou e logo o Círculo sentiu a necessidade por um grande ginásio de esportes. E os selecionados para a obra foram ninguém menos que Luiz Forte Netto e José Maria Gandolfi, criadores do escritório mais atuante na cidade na década de 1960, após alcançar o 1° lugar no concurso da sede do Santa Mônica Clube de Campo (1962). Em 1966, foram também responsáveis pelos projetos da Sede Social do Clube Curitibano e do nosso Palácio de Cristal, que ganhou esse apelido em função da composição em triângulos e vidros espelhados voltados da fachada da Rua Conselheiro Araújo.

Após uma enchente e muitos aportes de verba, a obra foi inaugurada em setembro de 1973. “Herdeiros do brutalismo paulista no uso do concreto armado aparente para as arquibancadas em semi-círculo, os arquitetos projetaram este ginásio de forma inovadora, uma cobertura plana sustentada por uma treliça espacial metálica, com fechamentos em lambri de madeira compondo o conjunto”, explica Gnoato.

Com o nome oficial de Ginásio Brigadeiro Peralta, o local sediou importantes disputas esportivas de futsal, vôlei e basquete. Conforme elencam os jornalistas e pesquisadores do jornal O Centro, o local “também recebeu noites de patinação artística, maratonas de truco com mais de 100 duplas, a primeira edição do Mercado Mundo e os primeiros combates violentos do Vale Tudo — muito antes do MMA”.

Os shows realizados nos anos 1980 e 1990 marcaram época, com destaque para Barão Vermelho com a presença de Cazuza, Fafá de Belém, Simone, Ed Motta, Raimundos e atrações  internacionais como Ray Conniff e Technotronic, entre outros. Um momento inesquecível foi o show da rádio Estação Primeira, em 1988, em que milhares curtiram uma maratona de rock and roll até altas horas.