Autorretrato – Lucia Biscaia passou a se dedicar com maior ênfase à fotografia após se aposentar.

Leitura visual das histórias infantis permite descobertas e atmosfera de encantamento 

Ao longo dos tempos os contos de fadas vêm sendo trazidos às crianças e, cada vez mais, demonstrando que vão além do entretenimento. Especialistas reforçam continuamente a contribuição que essas obras dão ao desenvolvimento cognitivo e afetivo dos pequenos.

Da oralidade inicial passaram às páginas dos livros já em versões suavizadas, e às telas do cinema e da televisão com releituras e revisitamentos. E independentemente da arte com que são expressadas, as histórias infantis permitem que se abram as portas da imaginação, que se perceba o mundo e que seja construída a personalidade.

A fotografia, considerada arte expressiva, também conta histórias, já que a imagem proporciona uma leitura. Com a ideia de que a leitura visual pode envolver as pessoas em uma atmosfera de encantamento, a advogada, fotógrafa e especialista em Literatura Infantil e Juvenil Lucia Biscaia une suas paixões e apresenta recontos das obras clássicas.

Lucia usa miniaturas e as fotografa em um pequeno estúdio em sua casa. Seus ensaios preencheram os dias de isolamento imposto pela pandemia em 2020 e 2021. E o resultado desse trabalho será um livro que ainda não tem data para ser publicado, mas que já reúne 18fotografias.

Tendo participado de inúmeras exposições, festivais e salões fotográficos, Lucia foi premiada em 2017 com o projeto Os Minis, que pode ser conhecido no site da autora (veja abaixo).

Leia a entrevista e descubra a beleza do trabalho de Lucia Biscaia.

 

TD – O que a fotografia, de modo geral, significa e possibilita para você?

LB – A fotografia sempre esteve de algum modo presente em minha vida. Ganhei uma pequena câmera (que possuo até hoje) aos 10 ou 12 anos. Fazia algumas fotos de família e amigos, mas só isso. Mais tarde abandonei totalmente o ato de fotografar, mesmo em viagens, mas em 2000 trouxe de volta como forma de escape de estresse de trabalho e desta vez de forma definitiva. A fotografia, além de um hobby dedicado, me possibilita contemplar os momentos captados de maneira diferente. Diferente, pois a fotografia congela aquele milissegundo vivido e que posso reviver oureolharde outros modos e cores.

 

TD – O que os contos de fadas revelam, no seu entendimento?

LB – Os contos de fadas revelam as diversas facetas do ser humano de acordo comsua origem nas comunidades e na oralidade, sendo mudados e transmutados para diferentes lugares, tempos e povos, mas muitas com o mesmo contexto, mostrando que mesmo de diferentes culturas, o homem é igual na básica essência.

 

TD – Qual a ligação que existe para você entre as duas artes?

LB – A fotografia trata de contar histórias. Histórias de tempos que podem ser interpretados de diversas formas. Olhares diferentes, leituras diferentes. Os contos de fadas também seguem essa fórmula de interpretações variadas. O tal do “quem conta um conto aumenta um ponto” serve para as duas artes. A cada leitura se descobre um novo aspecto, a cada olhar se descobre nova paisagem.

 

TD – O que te levou a recriar, por meio da fotografia, as histórias infantis?

LB – Na verdade o que estou desenvolvendo é o chamado “reconto”, tendo como suporte a fotografia. A minha leitura visual das histórias infantis. Aqui faço uma breve biografia para me fazer entender melhor. Venho do Direito, profissão que exerci até minha aposentadoria, quando passei a dar maior atenção à fotografia e suas vertentes. Sempre gostei de histórias infantis e fui animada por uma querida amiga a iniciar uma pós-graduação em Contação de Histórias e Literatura Infantil e Juvenil. Veio a pandemia e as coisas ficaram um tanto paradas, porém logo fomos nos adaptando aos cursos remotos. Foi quando além da pós, pelo Zoom, iniciei um curso de fotografia documental com outro amigo. Dessa forma, aliando o tema da literatura infantil com os estudos da fotografia documental poética, passei a fazer os ensaios em casa em um mini estúdio fotográfico. Tudo isso serviu para preencher os tempos de confinamento.

 

TD – O que a fotografia precisa, quais os elementos necessários em um instantâneo, para retratar determinado conto?

LB – Na minha visão particular eu procurei extrair da leitura dos contos um máximo de três ou quatro elementos essenciais de cada conto, como por exemplo no da Cinderela o sapato de cristal e o relógio marcando meia-noite. A ideia principal era criar uma imagem que ao mesmo tempo trouxesse a lembrança do conto e a reflexão, até mesmo a adivinhação. Não pretendo deixar claro de qual conto se trata, até fazendo uma brincadeira com o leitor, pois ao final da apresentação do livro que estou organizando com esse material há uma provocação: Me conta… que conto é esse?

 

TD – No seu ponto de vista, a imagem ajuda a levar a pessoa – criança ou adulto – à atmosfera de encantamento? Por que?

LB – Uma boa imagem equivale a um bom texto. A leitura visual é um prazer alcançado da mesma forma que o da leitura textual. As imagens nos conduzem à reflexão que, por sua vez, pode nos envolver nessa atmosfera de encantamento, pois nos faz sonhar e transitar pelos mundos retratados ou mesmo escondidos por trás das imagens e que surgem da leitura acurada e da nossa imaginação.

 

TD – Para retratar os contos de fadas as fotografias precisam ser lúdicas? Ou não necessariamente?

LB – Não sei dizer exatamente sobre a necessidade do lúdico para retratar os contos de fadas. Tenho dúvidas a respeito, pois nem toda a imagem serve para entreter, divertir. Podem servir para denunciar, informar, utilizando-se também de elementos dos contos de fadas.

 

TD – O que o (a) fotógrafo (a) precisa enxergar para retratar a magia das histórias?

LB – Referindo-me ao trabalho que estou desenvolvendo, creio que uma leitura dedicada. Ler e reler o conto para compreender sua essência e dela criar uma imagem que conte visualmente aquele conto.

 

TD – Para fotografar é preciso ver o que as outras pessoas não vêem?

LB – Não. Para fotografar é preciso a sua visão, o seu olhar. Às vezes pode acontecer de se ver o que a maioria não vê, mas o seu olhar é que vai determinar o resultado. Podem existir vários olhares desde um mesmo ponto e cada qual com a particularidade daquele que fotografa.

 

TD – Seu trabalho é muito rico e original. Quais seus projetos futuros relacionados a ele?

LB – De momento terminei um livreto sobre os santinhos que herdei de minha avó para presentear minha mãe e meus tios, de forma a compartilhar os seus santinhos de devoção com todos os familiares. Estou ainda desenvolvendo o trabalho sobras imagens dos contos de fadas e, para frente, o que surgir no caminho e eu me encantar.

 

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www.luciabiscaia.com

 

*Fonte de pesquisa para temas e entrevistas: Instituto Fatum.