Reprodução Revista GIZ – Look étnico de Elza Soares para a capa da revista GIZ

Os estilistas Alexandre Linhares e Thifany F, da H-AL, vestiram Elza Soares por três vezes. Na primeira, para o espetáculo “Elza Canta e Chora Lupicínio”, a cantora pediu que eles a vestissem de rosas. Alexandre atendeu o pedido e, ao entregar o vestido, orientou que ela não usasse o forro. “Ela sorriu e aceitou a ideia.” Cantou e encantou, coberta apenas por rosas de tecido.

Se tinha uma coisa que ela tinha orgulho, aliás, era do corpo torneado. Lembrei, então, da primeira vez em que eu a vi, no Rio de Janeiro, quando fez ao vivo, com samba no pé e aquela voz maravilhosa, a trilha de um desfile de uma grife chamada Lei Básica, comandada pelo mineiro Ronaldo Fraga. Que mulher era aquela, que incendiava a plateia de fashionistas, todos rendidos por ela e pelos versos autobiográficos: “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.

Alexandre e Thifany ainda a vestiram, até o começo da pandemia, em Planeta Fome, com um figurino que levava mais de dois mil alfinetes. Curiosidade: desde sua estreia no programa de Ary Barroso, quando se apresentou com uma roupa ajustada por alfinetes e foi ridicularizada pela plateia, Elza carregava junto de si um alfinete. Foi nesta ocasião que, perguntada pelo apresentador de que planeta era, respondeu que vinha do Planeta Fome. “O tempo passou e eu continuei com fome, fome de cultura, de dignidade, de educação, de igualdade e muito mais, percebo que a fome só muda de cara, mas não tem fim. Há sempre um vazio que a gente não consegue preencher e talvez seja essa mesma a razão da nossa existência. E é disso que se trata ‘Planeta Fome’, é essa a história que os talentosos Alexandre Linhares e Thifany F. conseguiram contar nesse figurino”, disse ela.

Assim como Nina Simone, Billie Holiday, Tina Turner e outras grandes divas, Elza era talhada pela vida e pelo drama. Por isso, a mulher, que foi considerada a voz do milênio pela BBC, vestia-se forte, preta, irreverente, corajosa. Estampou suas verdades nas vestes, na música, na militância. Com a diferença que era nossa. E que sorte a nossa.

Fotos: Divulgação

Elza e as rosas vermelhas da H-AL

Em A mulher do Fim do Mundo, mais drama e flores

Alfinetes no figurino de Planeta Fome