Segundo um dos mais conhecidos postulados da Astrofísica, nada no Universo é estático; estrelas, planetas e galáxias estão em permanente movimento, afastam-se do ponto da explosão primordial, giram em torno uns dos outros segundo alguns princípios conhecidos e outros a conhecer. Nós, nossa mente e nossa inteligência, como parte do Universo não estamos parados, não devemos permanecer parados.

Maior ou menor inteligência não são prêmios ou castigos atribuídos no nascimento e imutáveis desde sempre e para sempre. O professor e psicólogo Reuven Feuerstein, autor da Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural, defende a ideia de que a inteligência pode ser desenvolvida, ou seja, é possível ampliá-la em qualquer período da vida com o auxílio de um bom professor — que prefere chamar mediador — interessado nas teorias da aprendizagem e, principalmente, no ser humano que necessita aprender mais e melhor.

Familiares diretos costumam desempenhar a função de primeiros mediadores da criança, ensinando desde os rudimentos da linguagem até as primeiras relações espaço-temporais, os signos culturais de seu grupo, e são sucedidos pelos professores, intercessores por excelência, para expandir a percepção literária e científica.

Caberia a este mediador efetuar a aculturação do aprendiz, entendida aqui como um conjunto de mudanças provocadas pelo contato direto e contínuo entre indivíduos ou grupos diferentes. Estas mudanças são normalmente resultantes de relações estabelecidas entre elementos vindos de experiências educacionais distintas, implicando em aceitação de algumas, e rejeições de outras, particularidades culturais de cada um. Este fenômeno pode ser negativo, levando à desorganização social ou até a extinção de uma das partes envolvidas, como foi possível observar — salvo raríssimas exceções — nos contatos entre populações indígenas e brancos colonizadores.

No entanto, tem também um aspecto positivo, quando ocorre por processos brandos e espontâneos uma assimilação, isto é, mudanças na personalidade ou modos de fazer e viver das pessoas envolvidas no processo. Foi desta característica que pudemos passar uns aos outros valores morais, filosóficos, artísticos, compartilhar histórias e expandir o idioma. Ausência de assimilação, aspecto benéfico da aculturação, significaria isolamento e autorreferência, diminuindo a capacidade humana de compreensão do outro e do mundo.

Quando se pode, através de um professor, ativar as funções cognitivas de tal forma que sejamos capazes de adaptar, organizar e superar novas realidades, então será mais fácil sobrepujar empecilhos devidos a fatores ambientais, genéticos, socioeconômicos e outros, que normalmente atrapalham ou mesmo impedem a aprendizagem.

Alguém capaz de motivar, despertar interesse e curiosidade, poderá aumentar sensivelmente a maturidade e o equilíbrio emocional do aprendiz, fazendo com que este deseje compartilhar códigos culturais, numa ação definida como autônoma e contínua, já que algo aprendido muda toda a realidade anteriormente conhecida.

Esta mudança está relacionada com o que chamamos metacognição, ou seja, a capacidade de pensarmos sobre nossos próprios pensamentos, a atividade reflexiva, que uma vez ativada regula-se sucessivamente, trazendo como benefício uma profunda capacidade de adaptar-se a cada nova situação, pois aumenta da disposição para descontruir e reconstruir nossas concepções.

Isso não existe sem envolvimento social, pois é no contato com bons mediadores que podemos interpretar significados e atribuir valores a cada experiência pela qual passamos. Convivência é fator essencial para a ampliação cultural.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.