Destinação

Caráter é destino - Heráclito

Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

A ideia de que ações têm consequências assombra, ou ilumina, a humanidade desde sempre.

As religiões budista, hinduísta e jainista têm o conceito do Karma, palavra que em sânscrito significa ação ou ato determinado; na origem era adotado o sentido de força, lei de conservação da força que implica em equilíbrio entre causa e consequência, donde cada pessoa receberá o resultado de suas ações. Ocidentalizado como “carma” o conceito é parte importante da doutrina do espiritismo atual.

Devemos aos gregos a ideia clássica de destino, que encaravam a sorte de cada ser humano refletida na sua tendência de cometer atos graves, de ser culpado de faltas na vida pessoal ou comunitárias, ou seja, não ser inocente. Assim, destino e inocência seriam conceitos antagônicos, e então viam a sorte exatamente como aquilo que libertaria da cadeia do destino, ou seja, um caminho de salvação das desgraças e culpas do destino.

No entanto, o senso comum de justiça tem levado a uma ligação causal entre caráter e destino: se conhecêssemos o modo de reagir de uma pessoa em todos os seus detalhes, seria possível prever exatamente, conhecendo um pouco o meio em que vive, qual seria seu destino; na dependência também de fatores exógenos como catástrofes naturais ou epidemias.

Por um lado, rejeitamos de forma geral a capacidade de saber o destino de alguém lendo as linhas da sua mão, pois isso seria prever o futuro, isto é, o destino, porém consideramos que este está disponível para aqueles que conhecem seu caráter, pois o destino só é perceptível por meio de sinais, e não em si mesmo, e o caráter seria o sinal do destino para além do corpo.

Sabemos também que a relação observável entre o sinal e o sinalizado é fator extremamente complexo, entre cada sujeito e seu mundo exterior, pois o mundo exterior remete ao interior, e o caráter e o destino terminam por coincidir, tendo vários estudiosos da mente humana e seus comportamentos declarado que ter caráter implica em comportamentos recorrentes; vivência de caráter torna destino essencialmente constante; o que implica em que, tendo os mesmos valores e comportamentos, não mudaremos nosso destino. Albert Einstein, a esse propósito, declarou que insanidade é fazer várias vezes a mesma coisa e esperar resultados diferentes.

Isso representa divergência entre os dois conceitos: se houver caráter não haverá destino, e quando observarmos destino não vamos encontrar caráter. Enquanto o primeiro tem representado um contexto ético, o destino estaria num contexto religioso, e Heráclito estaria incorreto em sua afirmação. O conceito de destinação parece mais adequado para representar a preocupação atual, embora ela tenha sido presente desde o início de nossa história.

O diplomata e filósofo renascentista Nicolau Maquiavel destacou dois conceitos que considerava cruciais para avaliar o desempenho político: a fortuna e a virtù. Fortuna pode ser entendida como sorte, acaso, algo que escaparia à ação; virtù é a habilidade e a forma de agir, que pode inclusive no limite influenciar positivamente ou não a fortuna.

Enquanto crianças amam saber o passado, de onde vieram, quem são seus pais e familiares, qual a saga de seus antecedentes, adultos parecem voltar-se ao futuro. Desde sempre desejamos saber a destinação a que viemos ao mundo, a que grandes feitos estamos fadados, qual será nossa fortuna, e, principalmente, se escaparemos dos infortúnios, se nosso destino é auspicioso ou funesto.

A ideia de que construímos nosso caráter, e que este constituirá  o que chamamos destino, é um bom motivo para estudarmos muito ao longo da vida, conhecimento é indispensável para melhorar habilidades e comportamentos, escolas e livros são os melhores auxiliares de boas perspectivas à frente.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.